Perfil do Estado

A cada dia que passa sem resposta, aumenta a gravidade da série de denúncias feitas pelo grupo de auditores fiscais que entregaram os cargos em solidariedade a Lina Vieira, movimento que continua a reverberar na Receita Federal. Destituída a secretária, após a investigação rechaçada na contabilidade da Petrobras e a história não esclarecida da suposta advocacia administrativa da ministra Dilma Rousseff a favor do clã Sarney, 12 altos funcionários da instituição deixaram os cargos acusando interferência política no órgão. Na nota divulgada, foi exposta a existência de algum mal-estar criado pela visita de auditores à poderosa estatal e com a fiscalização de grandes contribuintes em geral, necessariamente fortes financiadores de campanhas eleitorais —, interpretou-se com razoável dose de malícia.

O abalo sísmico que continua a afetar uma viga de sustentação vital do Estado serve para mostrar à sociedade a dimensão de desdobramentos perniciosos decorrentes da ocupação da máquina pública por corporações fechadas em torno de interesses de categorias profissionais e/ou partidos políticos, no caso, o PT. Editorial O Globo

Na esteira do rápido e amplo processo de aparelhamento da burocracia do Estado por militantes políticos, representantes dos chamados movimentos sociais, entre outros grupos, fortaleceuse a presença de sindicatos de servidores dentro da burocracia oficial. Caso da Receita, onde o sindicato dos auditores (Unafisco) já tinha conhecido peso.

E foi pelas mãos do PT — como ocorreu na Petrobras e em outros recantos do Estado — que o sindicato, por meio da nomeação de Lina Vieira, ampliou os espaços na Receita. Não deu certo, como se viu. A feitiçaria funcionou ao contrário.

E ao afundar atirando, Lina e seu grupo expuseram a geografia de poder fragmentada existente na instituição, a ponto de Everardo Maciel, secretário da Receita na era tucana, sair em defesa do governo petista, contra Lina Vieira e sindicalistas.

O governo Lula teria decidido substituir o antecessor de Lina, Jorge Rachid, por considerá-lo “independente”. Sintomaticamente, colocou em seu lugar uma representante da corporação, pela lógica petista, uma aliada. Mas há outras lógicas no conflito entre grupos na Receita.

A crise na Receita desnuda o perfil do Estado brasileiro depois de seis anos e meio de liberdade total dada às corporações em Brasília: o controle da máquina pública é difuso; está sob o jugo de falanges a soldo da fisiologia, ou de projetos político-ideológicos, ou a serviço de objetivos de corporações sindicais. É no que deu suspender a reforma e a modernização gerencial do Estado.

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