Com R$ 3,5 milhões arrecadados, a campanha do petista Cândido Vaccarezza (SP) deixa transparecer sinais explícitos de riqueza. Cotado para presidir a Câmara no próximo ano, o deputado que luta pela reeleição conta com um exército de 700 cabos eleitorais, 60 carros (50 com som) e até uma carreta que funciona como um outdoor ambulante.
De acordo com as prestações de contas apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TRE), Vaccarezza é, entre os candidatos a deputado federal, dono da maior arrecadação: R$ 2,79 milhões.
Ele disputou em 2006 seu primeiro mandato de deputado federal. Agora, depois de oito meses na liderança do governo na Câmara, a quantia recebida em doações é, por exemplo, 150% maior do que o candidato do PV ao governo do Rio, Fernando Gabeira.
- Atribuo a contribuição ao trabalho que nós fizemos na Câmara, afirmou.
O deputado minimiza a importância da posição de líder do governo para ter alcançado essa arrecadação, apesar de destacar o cargo na campanha.
- Ajuda, não pelo fato de eu ser líder, mas pelas teses que eu defendi.
Ele ainda não tinha conseguido até o final de agosto gastar nem metade do que tinha arrecadado. Segundo os dados do TSE, foram desembolsados pela campanha R$ 1,2 milhão.
Além da quantidade de carros, a candidatura investe em veículos. Pelo menos duas camionetes Toyota Hilux, cujo modelo novo custa mais de R$ 75 mil, estavam no comitê central no dia 16. Por volta das 10h, uma das Hilux e outros cinco utilitários saíram carregados de impressos. A candidatura tinha gastado até o final de agosto R$ 55 mil com o aluguel de carros.
Um dos veículos, um furgão apelidado de vaccamóvel, tem um telão que exibe entrevistas do candidato e possui conexão com a internet para os eleitores conversarem ao vivo.
O comitê da campanha ocupa duas casas no bairro do Tatuapé, na Zona Leste, reduto eleitoral de Vaccarezza. A sala de entrada estava cheia de impressos em pacotes. Os impressos representaram a principal despesa até agora: R$ 545 mil.
Na rua, é possível ver a estrutura da campanha. Em um trecho de um quilômetro da Avenida Radial Leste, a principal da Zona Leste da capital paulista, havia no dia 16, pela manhã, 24 placas no canteiro central com propaganda do petista, com a frase: O líder do governo Lula.
O deputado admite um investimento pesado em placas. Mas o grande diferencial da campanha em relação aos concorrentes é a carreta de 17 metros, forrada dos dois lados com fotos dele, Lula, Dilma Rousseff e dos candidatos ao Senado Marta Suplicy (PT) e Netinho de Paula (PC do B). Na parte traseira, apenas o deputado e Lula. O caminhão serve para driblar a lei que proibiu o uso de outdoors nas campanhas e ainda toca os jingles da candidatura, um inspirado no hit dos anos 90 Macarena e outro no axé Rebolation. Também há um caminhão menor que roda pelo interior.
Na avaliação de Vaccarezza, as restrições impostas a partir de 2006, que proibiram outdoors e showmícios com o objetivo de reduzir o custo das campanhas, tiveram efeito inverso.
- A campanha ficou mais cara. Tem que substituir por pessoal.
Gente é mais cara do que outdoor, showmício.
O deputado petista já gastou R$ 116 mil com a contratação de pessoal.
Vantagem financeira ajuda para costurar alianças
Entre os adversários, que preferem não aparecer para evitar rusgas com o possível futuro presidente da Câmara, a avaliação é que a vantagem financeira faz diferença principalmente na hora de costurar alianças com candidatos a deputado estadual. Em geral, esse acordos são baseados no repasse de recursos. Em troca, os cabos eleitorais do deputado estadual pedem voto para o postulante à Câmara.
- Transferi recursos para campanha de estadual, o que não tinha feito na campanha passada, diz o deputado.
Ele cita ter repassado recursos ao vereador petista João Antônio, seu principal parceiro nas dobradas e outros.
O líder do governo prefere manter a humildade e não acredita que a quantidade de dinheiro da campanha se traduzirá em aumento expressivo de votos em relação à última eleição, quando foi o escolhido de 118 mil eleitores.
Dono da campanha a deputado com mais dinheiro na atual eleição, Vaccarezza já venceu disputas com poucos recursos. Em 2002, quando se reelegeu deputado estadual em São Paulo, ele arrecadou apenas R$ 99 mil. Na ocasião, o até então presidente nacional do PT José Dirceu contribuiu com R$ 920. Perguntado se contou agora com a ajuda do ex-ministro da Casa Civil, respondeu: - Não me lembro de ele ter me ajudado.
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