“A senhora é socialista?”, pergunta o repórter a Dilma Rousseff. “Sou”, confessa a entrevistada que aprendeu ainda na adolescência nos anos 60 que, no Brasil, “socialista” é o esconderijo vernacular em que se enfurna todo comunista. Em seguida, o jornalista quer saber se Dilma faz restrições à legislação sobre o aborto. Então, adoçando a segunda confissão com eufemismos como “descriminalização”, a chefe da Casa Civil revela que é a favor do aborto.
Se Dilma mantivesse o que disse há pouco mais de três anos na sabatina na Folha, a primeira resposta apenas atestaria que a candidata de Lula continua estacionada na metade do século passado. Como a ditadura militar acabou há muito tempo, ela pode defender sem sobressaltos a ditadura do proletariado. Também está liberada para permanecer distante da religião e discordar das concepções do Vaticano sobre a interrupção da gravidez. O que transforma o vídeo em prova do crime é a comparação entre o que disse e o que anda dizendo nesta temporada de caça ao voto.
Com duas respostas, a Dilma de verdade implode a metamorfose malandra forjada para transformar em democrata desde criancinha uma autoritária juramentada -- e apresentar como católica praticante alguém que nunca recitou a segunda parte do Salve Rainha. Os 35 segundos valem por uma biografia, 10 reportagens, 500 comícios. Dilma Rousseff mente até quando diz bom-dia. Se for vitoriosa na eleição, o Brasil não terá escolhido uma presidente. Terá optado pelo salto no escuro
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