Relator do processo deve apontar favores como prova de
ligação com Valério
Psicóloga arranjou emprego em banco, conseguiu
empréstimo e vendeu apartamento a operador do esquema
Renato de
Souza - dez.2004/689Imagens/Folhapress
RUBENS VALENTE e FLÁVIO FERREIRA - Folha de
São Paulo
O ministro Joaquim Barbosa, relator do
processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), deverá apontar os
favores prestados pelos operadores do esquema a uma ex-mulher do ex-ministro
José Dirceu como uma prova decisiva do seu envolvimento com o mensalão.
Na fase de instrução do processo,
Barbosa e seus assessores fizeram vários questionamentos à Polícia Federal e à
Procuradoria-Geral da República para esclarecer detalhes sobre os favores
prestados à ex-mulher de Dirceu.
Esse procedimento indica que Barbosa
considera esse ponto particularmente relevante para incriminar Dirceu, acusado
no STF de cometer os crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa.
O julgamento do mensalão entra amanhã na
sua quinta semana. Ele ainda está no começo e só deverá chegar daqui a duas
semanas ao capítulo em que serão analisados os crimes atribuídos a Dirceu.
Os favores à sua ex-mulher lançam
dúvidas sobre a distância que o ex-ministro diz que sempre manteve do
empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do
mensalão.
Dirceu diz que mal conhecia Valério e
que só teve contato com ele em reuniões no Palácio do Planalto às quais ele
compareceu na companhia de outros empresários.
A psicóloga Maria Ângela da Silva
Saragoça, 59, viveu com Dirceu de 1981 a 1990 e teve uma filha com ele. Os
favores que recebeu de Valério foram revelados na época em que o mensalão foi
descoberto e estão documentados no processo que está no STF.
Graças à interferência de Valério,
Ângela ganhou um emprego no banco BMG e um empréstimo de R$ 42 mil do Banco
Rural. Os dois bancos emprestaram milhões de reais ao PT e às empresas de
Marcos Valério que distribuíram o dinheiro do mensalão.
Ângela também conseguiu ajuda para
vender um apartamento em São Paulo. Quem comprou o imóvel, numa transação que
incluiu um adiantamento de R$ 20 mil em espécie, foi o advogado de Valério,
Rogério Tolentino.
A própria Ângela reconheceu os favores e
a participação de Valério nos depoimentos que prestou. O presidente do BMG,
Ricardo Guimarães, disse que o emprego de Ângela foi pedido de Valério.
O empresário disse que ajudou Ângela a
pedido do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, que se livrou do processo
após fazer um acordo para ser excluído da ação e cumprir pena alternativa.
Tolentino disse que só conheceu Ângela
quando se encontraram na imobiliária para concluir a compra do seu apartamento
e afirmou que só depois soube que se tratava da ex-mulher de Dirceu.
Nenhum dos participantes dessas
transações disse ter feito qualquer coisa a pedido do ex-ministro, mas Ângela
contou à Polícia Federal em 2006 que discutiu seus problemas financeiros com o
ex-marido em agosto de 2003.
Um mês depois dessa conversa, ela foi
apresentada a Valério por Silvio Pereira. Em menos de três meses, Ângela
Saragoça ganhou o emprego no BMG e o empréstimo no Rural e conseguiu vender o
apartamento em São Paulo
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