O GLOBO
O Partido da Imprensa Governista (PIG)
começou a descer o pau no ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do
mensalão.
O PIG é parente da imprensa chapa branca
que sobrevive da caridade oficial. Basicamente, é o conjunto de blogs, sites e
portais que serve ao governo e aos partidos que o apoiam.
Trata-se de mais um aspecto da herança
pesada deixada por Lula para Dilma, por mais que ela negue.
Por que Joaquim virou alvo de malhação?
Porque o desempenho dele até aqui
desagrada ao PT. Porque ele deve a Lula sua nomeação para o Supremo Tribunal
Federal (STF) e, no entanto, atua com a independência que se espera de todo
juiz.
Registre-se por dever de ofício: ele e
outros ministros indicados por Lula e Dilma. Nem todos.
Naturalmente, o PIG
está impedido de expor com clareza as razões de sua revolta contra Joaquim.
Seria insensato fazê-lo.
Correria
o risco de perder seus poucos leitores tamanho é o prestígio de Joaquim nas
chamadas redes sociais. Ali ele virou uma espécie de anjo vingador. Um anjo
preto, zangado, irritadiço e sempre à beira de um ataque de nervos.
Sem
audiência, para quê sustentar o PIG? Só para que continuasse a disseminar
intrigas durante períodos eleitorais? Para que funcionasse como laboratório
onde se testam palavras de ordem? Ou para que seguisse defendendo aliados do
governo?
Collor,
Sarney, Renan - toda essa gente conta com a ajuda do PIG quando se lhe apertam
os calos. Sem utilidade, adeus patrocínio!
O
PIG argumenta que Joaquim está sendo muito rigoroso com os réus do mensalão.
Como se rigor fosse um exagero e a condescendência o mais aconselhável.
Não
ria: membro mais afoito e mais bem remunerado do PIG comparou Joaquim a
inquisidores da Idade Média que torturaram e mataram. Seria o nosso Torquemada!
No
fim do século XV, na Espanha, o dominicano Tomás de Torquemada, promovido a
inquisidor-geral pelo papa Inocêncio VIII, recomendava parafusos nos polegares
dos heréticos enquanto rezava contrito e baixinho pela salvação de suas almas.
Se
Joaquim procede como ele, o STF virou o endereço nobre e espaçoso dos novos
inquisidores.
Sim,
porque Joaquim não julga sozinho.
Na
última segunda-feira, por exemplo, ele condenou Ayanna Tenório, uma das
diretoras do Banco Rural, o financiador de parte do mensalão. E aí?
Aí
que Ayanna acabou absolvida por 9 votos contra um. Ninguém no STF é voto de
cabresto de ninguém. Um homem, um voto.
De
resto, as decisões do STF no processo do mensalão estão sendo tomadas por larga
maioria de votos. É isso, e apenas isso o que está tornando possível até agora
o próprio julgamento. O julgamento mais longo e complexo da história da Corte
Suprema. Que não tem data para terminar. E que não se sabe como terminará.
Em
dezembro de 2005, quando ficou pronto o relatório da CPI dos Correios que
apurou o esquema do mensalão, Lula se recusou a lê-lo. Disse que só lhe interessava
a palavra final da Justiça.
Depois
se antecipou à Justiça e decretou que o mensalão não passara de uma farsa.
Delúbio Soares preferiu chamá-lo de futura "piada de salão".
Joaquim
Torquemada e sua equipe de torturadores concluíram que de farsa o mensalão nada
teve. Assim como também nada teve de engraçado.
A
prática de corrupção entre nós não cessará com a condenação dos réus do
mensalão. A impunidade, talvez, a depender da força da bordoada que acabe
levando.
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