"Vou-me embora pra Bruzundanga", por Marco Antonio Villa
11/02/2013 12:32
O Brasil é um país fantástico. Nulidades
são transformadas em gênios da noite para o dia. Uma eficaz máquina de
propaganda faz milagres. Temos ao longo da nossa História diversos exemplos. O
mais recente é Dilma Rousseff.
Surgiu no mundo político brasileiro há
uma década. Durante o regime militar militou em grupos de luta armada, mas não
se destacou entre as lideranças. Fez política no Rio Grande do Sul
exercendo funções pouco expressivas. Tentou fazer pós-graduação em Economia na
Unicamp, mas acabou fracassando, não conseguiu sequer fazer um simples exame de
qualificação de mestrado.
Mesmo assim, durante anos foi
apresentada como "doutora" em Economia. Quis-se aventurar no mundo de
negócios, mas também malogrou. Abriu em Porto Alegre uma lojinha de mercadorias
populares, conhecidas como "de 1,99". Não deu certo. Teve logo de
fechar as portas.
Caminharia para a obscuridade se vivesse
num país politicamente sério. Porém, para sorte dela, nasceu no Brasil. E
depois de tantos fracassos acabou premiada: virou ministra de Minas e Energia.
Lula disse que ficou impressionado porque numa reunião ela compareceu munida de
um laptop. Ainda mais: apresentou um enorme volume de dados que, apesar de
incompreensíveis, impressionaram favoravelmente o presidente eleito.
Foi nesse cenário, digno de O Homem que
Sabia Javanês, que Dilma passou pouco mais de dois anos no Ministério de Minas
e Energia. Deixou como marca um absoluto vazio. Nada fez digno de registro. Mas
novamente foi promovida. Chegou à chefia da Casa Civil após a queda de José
Dirceu, abatido pelo escândalo do mensalão.
Cabe novamente a pergunta: por quê? Para
o projeto continuísta do PT a figura anódina de Dilma Rousseff caiu como uma
luva. Mesmo não deixando em um quinquênio uma marca administrativa - um
projeto, uma ideia -, foi alçada a sucessora de Lula.
Nesse momento, quando foi definida como
a futura ocupante da cadeira presidencial, é que foi desenhado o figurino de
gestora eficiente, de profunda conhecedora de economia e do Brasil, de uma
técnica exemplar, durona, implacável e desinteressada de política. Como deveria
ser uma presidente - a primeira - no imaginário popular.
Deve ser reconhecido que os petistas são
eficientes. A tarefa foi dura, muito dura. Dilma passou por uma cirurgia
plástica, considerada essencial para, como disseram à época, dar um ar mais
sereno e simpático à então candidata. Foi transformada em "mãe do
PAC". Acompanhou Lula por todo o País. Para ela - e só para ela - a
campanha eleitoral começou em 2008.
Cada ato do governo foi motivo para um
evento público, sempre transformado em comício e com ampla cobertura da
imprensa. Seu criador foi apresentando homeopaticamente as qualidades da
criatura ao eleitorado. Mas a enorme dificuldade de comunicação de Dilma acabou
obrigando o criador a ser o seu tradutor, falando em nome dela - e violando
abertamente a legislação eleitoral.
Com base numa ampla aliança eleitoral e
no uso descarado da máquina governamental, venceu a eleição. Foi recebida com
enorme boa vontade pela imprensa. A fábula da gestora eficiente, da
administradora cuidadosa e da chefe implacável durante meses foi sendo
repetida. Seu figurino recebeu o reforço, mais que necessário, de combatente da
corrupção.
Também, pudera: não há na História
republicana nenhum caso de um presidente que em dois anos de mandato tenha sido
obrigado a demitir tantos ministros acusados de atos lesivos ao interesse
público.
Com o esgotamento do modelo de
desenvolvimento criado no final do século 20 e um quadro econômico
internacional extremamente complexo, a presidente teve de começar a viver no
mundo real. E aí a figuração começou a mostrar suas fraquezas.
O crescimento do produto interno bruto
(PIB) de 7,5% de 2010, que foi um componente importante para a vitória
eleitoral, logo não passou de uma recordação. Independentemente da ilusão do
índice (em 2009 o crescimento foi negativo: -0,7%), apesar de todos os
artifícios utilizados, em 2011 o crescimento foi de apenas 2,7%.
Mas para piorar, tudo indica que em 2012
não tenha passado de 1%. Foi o pior biênio dos tempos contemporâneos, só
ficando à frente, na América do Sul, do Paraguai. A desindustrialização
aprofundou-se de tal forma que em 2012 o setor cresceu negativamente: -2,1%.
O saldo da balança comercial caiu 35% em
relação à 2011, o pior desempenho dos últimos dez anos, e em janeiro deste ano
teve o maior saldo negativo em 24 anos. A inflação dá claros sinais de que está
fugindo do controle. E a dívida pública federal disparou: chegou a R$ 2 trilhões.
As promessas eleitorais de 2010 nunca se
materializaram. Os milhares de creches desmancharam-se no ar. O programa
habitacional ficou notabilizado por acusações de corrupção. As obras de
infraestrutura estão atrasadas e superfaturadas. Os bancos e empresas estatais
transformaram-se em meros instrumentos políticos - a Petrobrás é a mais afetada
pelo desvario dilmista.
Não há contabilidade criativa suficiente
para esconder o óbvio: o governo Dilma Rousseff é um fracasso. E pusilânime:
abre o baú e recoloca velhas propostas como novos instrumentos de política
econômica. É uma confissão de que não consegue pensar com originalidade. Nesse
ritmo, logo veremos o ministro Guido Mantega anunciar uma grande novidade para
combater o aumento dos preços dos alimentos: a criação da Sunab.
Ah, o Brasil ainda vai cumprir seu
ideal: ser uma grande Bruzundanga. Lá, na cruel ironia de Lima Barreto, a
Constituição estabelecia que o presidente "devia unicamente saber ler e
escrever; que nunca tivesse mostrado ou procurado mostrar que tinha alguma
inteligência; que não tivesse vontade própria; que fosse, enfim, de uma
mediocridade total" Aqui
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