Revista Calibre - Francisco Amado
Se o programa era para combater a
pobreza, como é que, em nove anos, o número de pobres ao invés de diminuir aumentou tanto assim ? O que é o Bolsa Família?
É o maior esquema de compra de votos jamais visto
no país. Vejamos:
Em nove anos, o "Bolsa Família""
cresceu mais de cinco vezes, aumentando notavelmente o número de famílias
atendidas. Em 2003, quando foi lançado, o governo distribuía R$ 3,2 bilhões e
atendia a 3,6 milhões de famílias. A partir desse ano, o orçamento do programa de transferência de renda é de R$ 20 bilhões,
quadruplicando o número de famílias para 13,7 milhões.
Afinal de contas, que história é essa de que,
quando o programa começou há 9 anos, existiam 3 milhões de famílias na pobreza
e, de repente esse número cresceu para 13 milhões?
O Bolsa Família - além de outras esmolas concedidas pelo governo - não foi criado com a intenção de acabar com a pobreza.
Mesmo porque, a estratégia correta para conter o
avanço da miséria deveria ser outra, prevendo resultados não imediatos, mas
certamente eficazes e duradouros. O que o governo tem feito desde que
"tomou" o poder é o mesmo que faz o traficante na favela, quando paga
pela segurança comprando remédios, cestas básicas, e saldando as contas e os
aluguéis de moradores que possam ter alguma influência sobre a população local
(exemplo: líder comunitário). Assim faz o PT no MAIOR esquema jamais visto de
compra de votos, com pagamento mensal para a manutenção do poder. Enquanto
todos estão preocupados com o mensalão, o mega-mensalão ocorre bem debaixo de
suas barbas. A diferença é que nesse caso parece obra de beneficência.
Veja, também:
‘O fim da miséria?’, por J. R. Guzzo
PUBLICADO NA REVISTA EXAME
( Feira Livre) - Augusto Nunes - Veja Online
J. R. GUZZO
O governo divulgou no início de fevereiro vitórias
importantes contra a miséria e prometeu que a partir do mês que vem não
existirá mais pobreza extrema no Brasil. Isso quer dizer que não haverá
ninguém, já agora em março, com renda inferior a 70 reais por mês em todo o
território nacional. Segundo os critérios oficiais em vigor, geralmente
avalizados por organismos internacionais, essa quantia é a marca que define
quem é quem na escala social brasileira. O cidadão que tem uma renda mensal de
70 reais, ou menos, é um miserável oficial; quem consegue passar esse limite já
não é mais. “Tiramos, entre 2011 e 2012, mais de 19,5 milhões de pessoas da
pobreza extrema”, afirmou a presidente Dilma Rousseff. “Até o mês de março
vamos zerar o cadastro”. Segundo o governo, há no momento 600.000 famílias
nesse registro; não haverá mais ninguém dentro de um mês, salvo um número
incerto de cidadãos que estão na miséria, mas não no cadastro. Esses ainda
terão de ser encontrados para receber do Tesouro Nacional, a cada mês, os reais
que vão salvá-los.
Pode haver erros nessas contas, é claro, mas não se
trata de números argentinos: basicamente, retratam a realidade aproximada da
fossa social brasileira. A dimensão numérica, portanto, está certa. O problema
é que ela também está errada ─ pois leva o governo a concluir que a
miséria está acabando no Brasil, quando é mais do que óbvio que ela continua
existindo, e existindo à toda. A primeira dificuldade com a postura oficial
está na pessoa verbal utilizada pela presidente. “Tiramos” da miséria, disse
ela ─ uma apropriação indébita da realidade, pois quem tirou aqueles
milhões de brasileiros da linha inferior aos 70 reais não foi ela nem seu
governo, e sim o contribuinte brasileiro. Foi ele, e só ele, quem sacou o
dinheiro de seu bolso, através dos impostos que paga até para comprar um palito
de fósforo, e o entregou às coletorias fiscais; se não fosse assim, não haveria
um único tostão a distribuir para pobre nenhum.
Trata-se de um vício incurável nos circuitos
neurológicos dos governantes brasileiros. Acreditam na existência de uma coisa
que não existe: “dinheiro do governo”. É como acreditar em disco voador. A
diferença é que tiram proveito de sua crença; é o que lhes permite dizer “eu
fiz” tantas escolas, tantos quilômetros de estrada e por aí afora, como se o
dinheiro gasto em tudo isso tivesse saído de sua própria conta no banco.
O problema essencial, porém, está na lógica. Como
nos ensina Mark Twain, que elevou o bom senso à categoria de arte em quase tudo
o que escreveu, existem três tipos de mentira: a mentira, a desgraçada da
mentira e as estatísticas. Esse anúncio do fim da pobreza extrema é um clássico
do gênero. A estatística precisa, obrigatoriamente, de um número fixo para
definir qualquer coisa que pretende medir, assim como um metro precisa ter 100
centímetros. No caso, o número escolhido, e aceito por organizações imparciais
mundo afora, foi 70 reais ─ mas não faz absolutamente nenhum nexo afirmar
que uma pessoa que ganhe 71 reais por mês, ou 100, ou 150, tenha saído da
miséria. O resumo dessa ópera é claro. Daqui a alguns dias, não haverá mais
miseráveis nas estatísticas do Brasil; só haverá miseráveis na vida real. Além
disso, seremos provavelmente o único país do mundo em que a miséria teve uma
data certa para desaparecer. O governo poderá dizer: “O Brasil acabou com a
miséria no dia 15 de março de 2013, às 18 horas, ao fim do expediente na
administração federal”.
Praticamente nenhum cidadão brasileiro, ao sair todo
dia de casa, leva mais do que 15 minutos para dar de cara com alguma prova
física de miséria. Mas, do mês de março em diante, terá de achar que não viu
nada. Se procurar alguma autoridade para relatar o fato, ouvirá o seguinte: “O
senhor deve estar enganado. Não há mais nenhum miserável no Brasil”. É assim,
no fim das contas, que funciona o sistema cerebral do governo. A realidade não
é o que se vê. É o que está no cadastro. Aqui
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