Publicado
na coluna de Carlos Brickmann
Toda
a feroz campanha contra o ministro Joaquim Barbosa terá como causa a vingança
contra a ousadia de condenar réus do sacrossanto partido que ocupa o poder
federal? Ou, como causa associada, a possibilidade de que o ministro saia
candidato à Presidência da República, cometendo o crime de lesa-majestada?
Talvez a causa seja
outra (até porque Barbosa, arrogante, de trato áspero, muitas vezes grosseiro,
dificilmente ganharia uma eleição): o ator Milton Gonçalves, respeitado
militante dos movimentos negros desde os tempos em que isso não era moda, vê a
face do racismo na guerra a Joaquim Barbosa. “Se fosse louro de olhos azuis, o
discurso seria outro”. Completa: “Ele tem méritos. Não entrou por cotas, fala
cinco línguas, é um personagem importante em nosso país”.
O advogado Humberto
Adami, do Instituto de Advocacia Racial, entrou na luta por Barbosa, criando a
campanha “O Brasil abraça o ministro Joaquim e o STF” nas redes sociais e
criticando a “campanha desonesta, vil e evidentemente racista contra um
brasileiro que tem cumprido fielmente suas obrigações constitucionais”. Lembra
que a campanha racista é movida contra Barbosa, que é negro, e poupa os demais
ministros que votaram a seu lado pela condenação. Mas os outros que condenaram
os réus são brancos e não sofrem ataques.
Racismo também é coisa
nossa. Esmeraldo Tarquínio, prefeito eleito de Santos, foi hostilizado por
militares por ser de esquerda e cassado por ser negro.
Da ditadura à
democracia, muita coisa mudou. Mas há fatos tristes que se repetem.
Tons de
pele 2
A questão da cor da pele é travada também em torno do Casal da Copa. A FIFA
tinha há mais de seis meses contratado Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert ─
artistas de sucesso, com amplo apelo popular. Foram propostos então Camila
Pitanga e Lázaro Ramos; como já tinha contratado Fernanda Lima e Hilbert, a
FIFA não aceitou a indicação. Os cartolas passaram a ser acusados de racismo.
Bobagem: como pergunta
o jornalista Mário Mendes, mulato, “Camila Pitanga e Lázaro Ramos são mais
brasileiros do que Fernando Lima e Rodrigo Hilbert porque são negros?” Por que,
então, a guerra? Talvez porque a bela Camila Pitanga, também artista popular e
de sucesso, tenha a imagem ligada à da Caixa Econômica Federal, cujos anúncios
estrela. Alguém na Copa com imagem vinculada à do Governo, em ano eleitoral,
seria ótimo para a campanha presidencial.
Quem
sabe não falou
Até agora, na discussão sobre o estado de saúde de José Genoino, nenhum meio de
comunicação ouviu o médico que o tratou no Hospital Sírio-Libanês, que o
encaminhou para a delicada cirurgia de aorta, e que é, como responsável por seu
acompanhamento, quem melhor conhece a situação do paciente: o Dr. Roberto
Kalil.
Quem discutirá o
parecer de profissional tão abalizado?
O pó
voador
Este colunista está tentando entender: o deputado estadual mineiro Gustavo
Perrela, do Solidariedade, é dono de um helicóptero. O piloto do helicóptero é
seu funcionário; o copiloto do helicóptero é seu funcionário; o transporte da
carga foi autorizado por ele. E ele não sabia de nada. Muito menos, até, que a
carga fosse de cocaína. Seu pai, o senador Zezé Perrela, do PDT, chefe do clã,
também não sabia.
E, veja o caro leitor,
tratava-se de um helicóptero de estimação, tanto que o nobre parlamentar faz
questão de que a Assembleia Legislativa mineira reembolse suas despesas com
combustível (neste ano, foram R$ 14.078,31).
O
dinheiro voador
Talvez a família Perrela use dinheiro público no helicóptero por estar
momentaneamente sem caixa. Diz Leandro Mazzini que Zezé Perrela
comprou uma casa por R$ 10 milhões em Brasília, numa região das mais nobres da
Capital, o Lago Sul. E tem tido muitas despesas com grandes festas em que
recebe pessoas importantes, e a quem assegura boa companhia.
Na
campanha vale tudo
Zezé Perrela é do PDT, partido ligado à presidente Dilma. Gustavo Perrela é
SSD, que apoia Aécio. Aécio já foi fotografado com os Perrela (e com mais uns
mil políticos mineiros).
Acusá-lo nesse caso é,
ao menos por enquanto, leviano.
Boa
notícia (boa notícia?)
Dentro de dois meses, entra em vigor no Brasil uma lei de combate à corrupção,
a 12.846, semelhante à que vigora nos Estados Unidos. A partir de sua vigência,
as empresas serão responsabilizadas por relacionamento indevido entre seus
colaboradores e órgãos estatais. Não importa quem pague a propina, a empresa
terá também a responsabilidade objetiva no caso. A lei deve funcionar como a
que pune o trabalho escravo: a empresa será responsável por irregularidades de
coligadas, controladas, consorciadas e parceiros comerciais, o que a obriga a
fiscalizar o comportamento de seus fornecedores. As multas chegam eventualmente
a 20% do faturamento bruto e pode haver proibição de receber incentivos ou
financiamentos públicos. Conforme o caso, a empresa pode ser fechada.
Boa notícia ─ se
funcionar. De boas leis o arquivo está cheio. Se funcionar, se for aplicada sem
levar em conta o peso político do infrator, pode mudar o país.
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