Esses caras são bandidos?

Há ou não há um padrão? E que padrão é esse senão o do bando que não respeita limites quando estão em jogo seus interesses? Por Augusto de Franco

A trama se desenrola no meio político, dominado por uma turma da pesada, cujo chefe mafioso é muito bem-visto pela população em virtude de suas obras de caridade. Mas eis que um investigador de polícia descobre evidências de um crime cometido pelos poderosos. No início, ninguém acredita. Ele é até punido pelo chefe. Mas insiste em puxar o fio. A história vai parar nas mãos de um jornalista corajoso que publica a matéria. Então a coisa toda desmorona. E a população, afinal, enxerga a verdade: os caras eram bandidos.

Há dezenas de filmes assim, exatamente com o mesmo argumento. São quase um lugar-comum em Hollywood. Mas não estamos assistindo a um desses batidos filmes policiais americanos. Estamos no Brasil de 2008, em plena "Era Lula", em que de nada adianta a publicação -nem de uma, nem de cem evidências- de crimes cometidos pelo governo.

Todavia, aqui seria possível concluir que os caras são bandidos?
No nosso mundo real, a turma da pesada é do PT. Mas, curiosamente, o PT tem menos bandidos - no sentido criminal do termo - do que a maioria dos outros partidos brasileiros.

Entretanto, no sentido social da palavra - aquele sentido a que se referia Eric Hobsbawm no interessante ensaio que publicou no final dos anos 70 sobre os "Rebeldes Primitivos"-, não há como fazer nenhuma comparação: o PT é um partido de bandidos.

Calma lá, litigantes de má-fé! Com isso não quero dizer que a maioria, uma parte ou todos os filiados e militantes do PT são bandidos (no sentido criminal do termo). Quero dizer que o PT é presidido por uma lógica ou uma racionalidade própria dos bandos. E que não é à toa que tenha se formado a partir do movimento sindical.

Sim, o sindicalismo, sobretudo se partidarizado, é uma forma branda de banditismo: subordina o sentido público ao interesse particular de uma corporação e não mede conseqüências para prover a satisfação de um grupo privado em detrimento do bem-estar geral. É exatamente o que o PT, como bando, faz: privatiza partidariamente a esfera pública.

Na nossa política, claro, há de tudo, inclusive bandidos comuns (embora sejam minoria), bandos locais ou regionais (ou "caciquias", às vezes coronelistas, montadas em torno de pessoas e famílias) e bandos políticos (formados com base em uma causa).

Os dois primeiros tipos são endêmicos na velha política brasileira. O terceiro só emergiu, em toda sua plenitude, com a vitória eleitoral de Lula. A democracia convive com todas essas formas de banditismo, da criminal à social, ora fazendo valer a lei, ora gerando consensos sobre o que é ou não é socialmente aceitável. O problema existe quando as coisas se misturam e um bando social, chegando ao poder, se alia a bandidos comuns (no sentido criminal) e às "caciquias" tradicionais clientelistas, instaurando outro tipo de banditismo: o de Estado, que tanto pode cometer crimes no varejo (sob o perigosíssimo manto da impunidade) quanto perverter a política e degenerar as instituições no atacado. É a via Putin. Contra essa eventualidade, porém, a democracia não tem proteção eficaz.

Não se retira o direito do PT de constituir-se como um bando social a partir de uma causa, mesmo que essa causa seja -na verdade- apenas ficar no poder o maior tempo possível. O problema é que, ao montar aparatos ilegais de poder na própria Presidência da República, esse pessoal "atravessou o corguinho" (como se diz lá no interior de Minas).

Para ficar só nos megaescândalos, o caso Waldomiro-Dirceu foi a primeira evidência. O mensalão, a segunda. A quebra do sigilo do caseiro Francenildo, a terceira. A produção do falso dossiê contra Serra, urdida por homens da cozinha do presidente, a quarta. E agora veio a quinta: a investigação, sem nenhuma denúncia ou fato determinado, dos gastos oficiais com Ruth e Fernando Henrique Cardoso para produzir um novo dossiê com o qual o governo pretendia chantagear a oposição ou impedir que ela requeresse legalmente a investigação das -aqui, sim, fartas- evidências de uso criminoso dos cartões corporativos da Presidência por familiares ou auxiliares diretos de Lula.

Há ou não há um padrão? E que padrão pode ser esse senão o do bando que não respeita limites quando estão em jogo seus interesses?

As oposições permitiram que chegássemos a esse ponto e que se instalasse o banditismo de Estado no Brasil. Foram deixando a coisa avançar, imaginando que os caras eram "players" normais do jogo político. Como se vê, não são.

Augusto de Franco, 57, analista político, é autor, entre outras obras, de "Alfabetização Democrática". Foi conselheiro e membro do Comitê Executivo da Comunidade Solidária durante o governo FHC (1995-2002). Folha de São Paulo



LULA E O DIPLOMA UNIVERSITÁRIO

"Não pude fazer (faculdade) em um primeiro momento porque não tinha condições, em um segundo momento porque eu estava cansado, em um terceiro momento porque virei dirigente sindical, em um quarto momento porque virei presidente do PT, e em um quinto momento porque virei presidente da República. Quem sabe em um sexto momento, quando eu não for mais nada, eu possa concluir, através da Universidade Aberta, o meu diploma universitário", disse Lula a uma platéia de trabalhadores rurais na inauguração do auditório da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


COMENTÁRIO
Veja as palavras usadas pelo signatário para justificar sua preguiça, sua vagabundagem: “Virei sindicalista, virei presidente” (...) “estava cansado” (...) “Quem sabe, quando eu não for mais nada” (...) Lula sabe que ele não é nada, e daí vem seu complexo de inferioridade, sua ira contra aqueles que são alguma coisa, pelo mérito e pela conquista verdadeira.

Lula realmente “virou” um monte de coisas, ele é uma caricatura montada, criada e falsificada pela igreja católica – pelas tais Comunidades Eclesiais de Base totalmente contaminadas pela esquerda – que resolveram apelar, reavivar o sebastianismo e a crença messiânica no povo. E, Lula, como um bom preguiçoso que é, por natureza, aceitou o roteiro de operador de milagres numa boa. - Aceitou “virar”. Quem sabe, num sexto momento, quando sua figura for naturalmente execrada, ele morra de tédio ao se dar conta de que ele nunca passou de um “nada”, de uma miragem, de um vento ruim. Mas, ainda assim, chegará no inferno sem o diploma. Por Gaúcho/Gabriela


CLUBE FECHADO
Opinião – O Globo

Para alguns analistas, a explicação está na montagem de um suporte sindical para sustentar Lula da Silva entre 1º de janeiro de 2011 e a campanha de 2014, quando tentará voltar ao Planalto, com esses e outros aliados. Seria, também, a reafirmação da metamorfose ambulante em que se transformou o presidente, hoje um defensor do inverso de tudo aquilo pelo que se bateu para modernizar a estrutura sindical do país, nas décadas de 70 e 80, tempo em que era um aguerrido militante metalúrgico no ABC paulista.

Soma-se a essas e outras interpretações a certeza de que as concessões e promessas sacramentadas na festiva audiência concedida quarta-feira por Lula a sindicalistas representam, para os contribuintes em geral e, em particular, todo aquele assalariado obrigado a recolher o imposto sindical, mais uma derrota diante de grupos organizados que tomam de assalto o Tesouro, com o beneplácito do governo. Além da compulsoriedade do imposto sindical - mantida por um Congresso sob forte pressão, até física, desse lobby -, formalizou-se quarta-feira a quebra de um acordo selado entre sindicatos e parlamentares, pelo qual seria preservado o imposto, em troca da reafirmação em lei do papel fiscalizador do Tribunal de Contas da União (TCU), órgão do Legislativo, na aplicação desse dinheiro.

A festa fora marcada para o presidente sancionar a lei de oficialização das centrais sindicais e vetar o dispositivo sobre a fiscalização. A alegria se justificava pelo fato de o atrelamento das centrais ao Estado - uma heresia para aqueles combativos metalúrgicos do ABC - abrir ainda mais as portas do guichê público para a CUT, Força Sindical e aparentadas poderem receber parte do butim tributário que é o imposto sindical.

Do R$1,2 bilhão recolhido por ano, as centrais deverão se beneficiar com cerca de R$100 milhões. E poderão gastá-los como quiser, sem qualquer fiscalização, a não ser a de Deus, a quem apelou o presidente para que inspire os sindicalistas, os únicos em condições legais de pedir prestação de contas a suas lideranças. Como assembléia de sindicato costuma ser jogo de cartas marcadas, na prática liberou geral. A não ser que o Supremo Tribunal Federal (STF) faça valer o artigo 70 da Constituição, que impede o uso de dinheiro de imposto sem controles.

Para completar a festa, o presidente reafirmou o apoio à adesão do país, a ser feita pelo Congresso, à Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Outro retrocesso.

Apenas 34 países aderiram ao dispositivo, entre os mais atrasados do mundo. Os desenvolvidos da lista - Espanha, Finlândia, França, Portugal e Suécia - criaram outras modalidade de contratos de trabalho para driblar o anacronismo da convenção, que dificulta as demissões. Para os desavisados, medida justa.

Na vida real, um eficiente desincentivo a que as empresas façam contratações no mercado formal -, e no momento em que o crescimento econômico começa a reduzir a grande informalidade do emprego no país. Além desse efeito deletério, ao aderir à Convenção 158 e ficar na companhia de Lesoto, Congo, Gabão etc. o Brasil tenderá a sair do mapa dos investimentos externos, pois espantará os empresários de fora. Graças às pressões do lobby sindical.

Parte da festa no Planalto transcorreu sem que a imprensa pudesse testemunhar. Um ato falho: essa aliança entre o governo e neopelegos é mesmo um clube fechado, onde apenas interesses de uma minoria são defendidos.
O Globo

2 comentários:

Anônimo disse...

Sobre as boçalidades ditas pelo mollusco em não encontrar tempo para estudar, lembro que milhares de pessoas trabalham durante o dia e estudam - ou estudaram , (eu inclusive) - à noite para obter seu diploma universitário.
O que elle têm mesmo é aversão pelo saber e vagabundice de sobra.

Joana D'Arc

Anônimo disse...

Petismo é religião, é fanatismo, é doença.