O MST contra o desenvolvimento

ELES PROMETEM AINDA MAIS AGRESSÃO


Impulsionados por dinheiro público, pela tolerância das autoridades e pela passividade da Justiça, os sem-terra ameaçam empresas e investimentos que geram empregos e qualidade de vida. Por Octávio Costa e Sérgio Pardellas – Revista Isto É

A partir desta semana, os moradores de várias cidades brasileiras deverão sofrer com a mudança de estratégia do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. Uma nova ofensiva do grupo que um dia empunhou a bandeira da reforma agrária e chegou até a angariar alguma simpatia popular está planejada, anunciada e promete ser a mais agressiva de sua história.

Liderados por João Pedro Stédile, os sem-terra promoverão ocupações em todo o País. Segundo Maria Raimunda César, coordenadora nacional do movimento no Pará, prédios públicos serão invadidos, estradas serão fechadas e ocorrerão marchas em direção às capitais e protestos contra grandes empresas transnacionais voltadas para o agronegócio.

Entre os alvos está a Aracruz Celulose, Monsanto, Cargill e Bunge, por exemplo. O movimento também promoverá manifestações pela reestatização da Vale em vários Estados. Oficialmente, a marcha agressiva do MST, hoje com as finanças turbinadas com dinheiro público repassado pelo governo Lula através de ONGs, é chamada de “Abril Vermelho” e tem o objetivo de lembrar o massacre dos 19 trabalhadores rurais ocorrido no dia 17 de abril de 1996, em Eldorado dos Carajás (PA). Na verdade, o que o MST planeja é a primeira demonstração nacional de uma radicalização ideológica que há dois anos vem tomando corpo.

Desde 2006, o MST lidera ataques à globalização, ao neoliberalismo e às privatizações – algo que nada tem a ver com a sua luta original. Nesse período, quem experimentou as novas táticas do MST descobriu que, no lugar de promover justiça social, o movimento está afugentando investimentos, empresas e, claro, empregos.

No mês passado, as mulheres da Via Campesina, ligada ao MST, ocuparam a unidade de pesquisa da Monsanto em Xanrerê, na região oeste de Santa Catarina. Cortaram três vãos de cerca e destruíram um viveiro e o campo experimental de milho transgênico da empresa. A Monsanto contabilizou um prejuízo de 100% no milharal. “A empresa acredita que, num regime democrático como o que vivemos, discordâncias – ideológicas ou não – devem ser expressas por meio dos caminhos legais e de livre forma de expressão e não por meio de atentados aos indivíduos e à propriedade privada”, registra nota emitida pela Monsanto. Em janeiro, o alvo do MST foi a Fazenda Coqueiros, a 300 quilômetros de Porto Alegre (RS), invadida pela nona vez em três anos. A fazenda pertence aos irmãos Félix e Vera Guerra e produz soja, milho e trigo. Em setembro de 2007, o MST já tinha explodido dois tratores da propriedade, o que causou um prejuízo de mais de R$ 200 mil.

Em 2006, a Aracruz Celulose, uma empresa produtora de celulose branqueada para a fabricação de papel e “Esperamos que o governo federal não admita o desrespeito à ordem constituída” Paulo Skaf, presidente da Fiesp que responde por cerca de 30% da oferta mundial do produto, foi vítima do movimento. Mil e duzentos integrantes do grupo invadiram a Fazenda Agril e destruíram os laboratórios no Rio Grande do Sul. Depois de render os vigias, rasgaram as estufas e arrancaram com as mãos as mudas dos viveiros. No laboratório, quebraram equipamentos e espalharam pelo chão 500 quilos de sementes. O trabalho de melhoramento das espécies sumiu porque as informações ficaram misturadas. Foram perdidos materiais genéticos coletados em mais de 15 anos de pesquisa. Os prejuízos causados somaram US$ 400 mil. Nesse mesmo ano, o MST queimou soja transgênica, em frente à multinacional Bunge, na BR 466, próximo a Pitanga e Santa Maria do Oeste, região central do Paraná.



VALE A mineradora que emprega mais de 60 mil pessoas no Brasil é alvo preferencial do MST.

Com ações como essas, o MST quer dar demonstrações de que está forte no momento em que suas bandeiras originais se tornam mais fracas. O Brasil está efetivamente inserido na economia global, o agronegócio é o principal fator de emprego no campo e garante o superávit da balança comercial, que assegura a estabilidade mesmo diante da crise americana. Essa estratégia acaba por afetar o desempenho econômico de Estados importantes, exatamente no momento em que o Brasil une esforços e recursos para ingressar num ciclo sustentado de desenvolvimento, inclusive no campo. No governo, o sinal vermelho de alerta já foi aceso. Há indícios claros de que os investidores temem os reflexos negativos dos embates com o MST.

No Pará, por exemplo, o setor produtivo atravessa uma quadra difícil. “O empreendedor quando vem nos visitar sempre demonstra essa preocupação com a insegurança”, diz o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), José Conrado Santos. “Estamos perdendo investidores por causa do MST. O temor é generalizado, tanto no interior quanto na região metropolitana.” Quem quer investir tem medo e quem já está estabelecido no Estado, acrescenta o presidente da Fiepa, tem que redobrar os gastos com segurança. Mas nem sempre é possível se prevenir das ações do movimento, mesmo as anunciadas.



“Esperamos que o governo federal não admita o desrespeito à ordem constituída” - Paulo Skaf, presidente da Fiesp

Um caso emblemático, capaz de desencorajar outras empresas, é o da Indústria Biológica e Farmacêutica da Amazônia S/A (Ibifam). A empresa de medicamentos faliu no final de 2006. No início deste ano, foi comprada por outro grupo de empresários que passou a injetar dinheiro a fim de restabelecer a saúde financeira. A localização da nova sede era considerada a melhor possível, a menos de 20 km do centro de Belém. Foram gastos milhões de reais em vigilância, mas, no último mês, os novos donos da Ibifam receberam uma má notícia. A de que a empresa tinha sido invadida pelo MST. Muitos dos empresários que acreditaram na recuperação da Ibifam já acham que jogaram dinheiro pelo ralo. “A reintegração de posse foi autorizada pela Justiça, mas os integrantes do movimento continuam lá”, lamenta José Conrado. A Amafrutas, cujo parque industrial também está localizado a poucos quilômetros de Belém, foi outra empresa a ter parte de sua área invadida neste ano. A empresa já contabiliza um prejuízo de R$ 30 milhões.


INVASÕES

No chamado “Abril Vermelho”, o movimento planeja invadir diversos órgãos públicos. (clique no gráfico ao lado para aumentá-lo)

Vítima maior das últimas ações do MST, a Vale tem ameaçados seus empreendimentos no Pará e no Maranhão. “Fazemos um esforço muito grande para atrair novos investimentos para esta região, ainda pouco industrializada. Mas assim fica muito difícil atrair investimentos. Os empresários questionam os riscos”, afirma Walter Cover, diretor de projetos institucionais e gestão ambiental da mineradora. Segundo ele, até mesmo o projeto de construir uma siderúrgica no Pará, já acertado com o governo local, corre o risco de ser suspenso.

Por enquanto, o plano da Vale é investir US$ 55 bilhões nos próximos cinco anos, sendo 77% no Brasil. Só para o Pará estão previstos US$ 20 bilhões entre 2008 e 2012, com a geração de 35 mil empregos. Tudo vai depender, porém, do grau de segurança que a empresa terá pela frente. “Temos parceria nos nossos projetos. E alguns de nossos fornecedores já questionam: ‘Mas no Pará?’”, conta Cover. Para a Vale, é lamentável que o MST tenha posto de lado a antiga bandeira e se mobilize agora contra questões de caráter eminentemente político, como a globalização e a integração da América Latina. “A gente se sente refém porque a Vale é uma empresa nacional e não tem nada a ver com esse tipo de bandeira”, afirma Cover.

O empresário Eike Batista também lamenta. “O avanço do MST é muito negativo, deve ser combatido, mas, felizmente, o Brasil tem Estado de Direito".

E as empresas dispõem de instrumentos judiciais para lutar contra esse fenômeno”, diz. Depois de perder tempo em tentativas de diálogo com o MST e a Via Campesina, a Vale decidiu recorrer a medidas preventivas no Judiciário. Conseguiu, no mês passado, na Justiça do Rio de Janeiro, uma liminar que proíbe o MST e seu principal dirigente, João Pedro Stédile, de incitar e promover atos violentos contra as suas instalações. É por essa razão que o líder sem-terra não tem se pronunciado publicamente. Caso insista em incentivar atos que interrompam as atividades da empresa, Stédile terá de pagar R$ 5 mil ao dia.

No Pará, a Justiça Federal de Marabá também baixou um interdito proibitório contra o líder do movimento regional, Raimundo Benigno. As decisões são vitórias da Vale. Até então, alegava-se que era impossível citar judicialmente o MST, pois o movimento não tem personalidade jurídica. Agora, a despeito disso, a Justiça decidiu responsabilizar os dirigentes.

Mas essas vitórias não indicam que o MST esteja disposto a cumpri-las e isso desafia o Estado Democrático de Direito. Desde março de 2007, a Vale sofreu oito ocupações violentas. Stédile lava as mãos e diz que nada pode fazer se essa é a vontade das bases do MST. A considerar a posição da líder Maria Raimunda César, o movimento não dará mesmo ouvidos ao Judiciário. “A Justiça fez opção de classe e tem se posicionado ao lado das grandes empresas, ao lado da burguesia. Respeitar a Justiça hoje no nosso país significa desrespeitar as condições em que vive a maioria do povo brasileiro”, desafia a dirigente do MST. “Vamos sim lutar pela reestatização da Vale”, promete. Uma luta que vai contra os fatos.

Em 1997, quando ainda era estatal, a Vale empregava 11 mil pessoas no Brasil. Hoje, são 150 mil empregos no mundo, 60 mil deles no Brasil. Em 1997, a empresa valia US$ 9,2 bilhões. Hoje, vale US$ 151,7 bilhões.



VIOLÊNCIA
Nas últimas invasões, os sem-terra têm destruído propriedades
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O “Abril Vermelho” planejado para os próximos dias pode resultar num movimento equivocado do MST. Ele não dispõe do mesmo respaldo popular de antes, quando o PT era oposição e a classe média urbana pouco tinha sentido no bolso os benefícios das medidas liberais adotadas na economia. Agora, ficou mais fácil enxergar nas ações do MST a violação de regras, o desrespeito à propriedade e a ameaça a empresas que geram empregos e ajudam a melhorar a qualidade de vida das pessoas. Na cidade de Estreito, fronteira entre Maranhão e Tocantins, militantes do MST e do Movimento dos Atingidos por Barragens ocuparam, em março, o canteiro de obras da usina hidrelétrica que começou a ser construída em 2007. A usina está incluída nas obras do PAC e terá capacidade instalada de 1.087 megawatts.

“Fica difícil atrair investimentos. Os empresários questionam os riscos” Walter Cover, diretor da Vale

Trata-se de um investimento de R$ 3,6 bilhões do consórcio Ceste, que é formado pela Vale, Alcoa, Billiton Metais, Camargo Correa e Tractebel. Várias entidades da cidade se pronunciaram contra a violência do MST, entre elas, a Colônia de Pescadores, a Associação das Costureiras, o Clube das Mães, a Associação Novo Progresso e a APAE. “A Usina de Estreito e a Ceste estão promovendo inúmeros benefícios para a população, principalmente emprego, que é uma das nossas maiores necessidades”, ressaltou a nota oficial da APAE contra a invasão.

O MST, porém, não parece preocupado com os interesses das populações locais. Seu objetivo é gerar confusão e prejuízo. Diante da violência cada vez maior do movimento, as empresas, que se sentiam isoladas, começaram a conquistar apoio no Congresso Nacional. Mesmo os parlamentares não ligados a grupos ruralistas demonstram sua apreensão. “É preocupante que lideranças do MST enveredem pelo caminho da desordem. Isso nos trará intranqüilidade interna e descrédito externo”, afirma o senador Heráclito Fortes (DEM-PI). As entidades empresariais do sul do País também estão cobrando uma postura mais firme do governo Lula que, até o momento, mostrou-se tolerante e passivo diante dos fatos. “Esperamos que o governo federal não admita o desrespeito à ordem constituída e, de maneira firme e pronta, combata cada ato criminoso”, reclama Paulo Skaf, presidente da Fiesp. “Não podemos seguir sob a ameaça de arruaceiros e criminosos comuns para os quais não devemos oferecer tratamento político, mas, sim, policial”, diz. Colaborou Hugo Marques

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