Cantor lembra o cancelamento da apresentação no Iate Clube há 40 anos, não reconhece Lula e afirma que nunca fez música de protesto: “Era uma crônica da realidade, talvez” - Por Leandro Colon – Correio Braziliense
Aos 73 anos, Geraldo Vandré afirma que não sabe quem é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, a política brasileira depois do AI-5 não existe mais. “Naquele tempo eu não tinha presidente. Agora você tem, não tem? Eu não tenho. Quero ficar longe dessa realidade que você está”, disse o autor da música Disparada numa conversa de 40 minutos por telefone na terça passada.
Ele também reclama do uso público de suas músicas hoje em dia: “Como tudo mais que as pessoas usam como querem e não pagam nada para ninguém”. E nega que tenha feito música de protesto ao regime militar. “Era uma crônica da realidade, talvez”.
O AI-5 não só encerrou a carreira de Vandré no Brasil, como o transformou num homem solitário, longe dos palcos, recluso num mundo particular, muitas vezes chamado de paranóico pelos amigos. Um mundo com frases desconexas quando fala do presente, mas lúcidas e irônicas ao tratar do passado. Quem foi Vandré? “Foi um artista, uma pessoa que fazia música, arte, canção popular”, diz ele, para logo provocar: “Pergunte ao governo quem foi Vandré”.
O paraibano e advogado Geraldo Pedrosa de Araújo Dias (Vandré era uma homenagem ao pai) vive em São Paulo, num pequeno apartamento no centro da cidade. Mas não é fácil encontrá-lo em casa. Nos últimos dias, disse estar cuidando da saúde num lugar incerto. É aposentado pelo Ministério da Fazenda, por ter trabalhado na extinta Sunab antes de 1968.
“NÃO TENHO PRESIDENTE”
O que significou o AI-5 na sua carreira?
Eu parei ali. Acabou a carreira. Não tive mais carreira.
Por que optou pela reclusão?
Porque é outro país, não é o meu. Mudou demais. Naquele tempo não tinha presidente. Agora você tem, não tem? Eu não tenho. Eu tenho outras coisas a fazer, eu fui expulso do serviço público por causa dessa canção (Para não dizer que não falei das flores). O que você chama de governo cobra impostos sobre o meu crime. Sou advogado, de outra época, do tempo em que se estudava leis neste país.
Quem foi Geraldo Vandré?
Um artista que fazia música brasileira, canção popular.
O senhor acha que os jovens de hoje deveriam saber quem foi Geraldo Vandré?
Você deveria perguntar isso para o governo deles.
Os amigos dizem que o senhor se fechou…
Quem tem mundo particular tem, quem não tem, não tem.
O que diria para o pessoal que o aguardava para aquele show em Brasília? Vou fazer um dia esse show. Isso vai ocorrer no seu tempo.
E hoje, continua compondo?
Estou fora de atividade comercial. Eu estudo música.
No passado, o senhor negou que tivesse sido torturado.
Essa é a realidade. Vocês querem a do sofrimento. Não vende jornal, não, né?
O senhor tem músicas guardadas?
Isso é secundário.
O que é fundamental na sua vida?
Ficar longe dessa realidade que você está.
Para não dizer que não falei das flores era uma música de protesto?
Não existe isso. Tenho que fazer música, interpretar e fazer crítica de arte? Não era de protesto, era música brasileira. Era uma crônica da realidade, talvez.
O que o senhor acha do presidente Lula?
Não conheço.
Por que adota essa postura de dizer que não existe governo?
Porque não sou filho de revolução. Não tenho nada a ver com isso.
Sente saudade dos anos 1960?
Tenho muita coisa para fazer, não dá tempo de sentir saudade.
Como vê sua música até hoje sendo tocada e cantada nos bares?
Como tudo mais que as pessoas usam como querem e não pagam nada para ninguém.
O senhor já votou para presidente?
Sim.
Em quem, pode revelar?
Sim, em João Goulart para vice-presidente e no Marechal Lott para presidente, em 1960.
O AI-5 E A VERDADE HISTÓRICA
Por Aristóteles Drummond
O próximo domingo marca o início da semana dedicada a matérias relativas aos 40 anos do Ato Institucional 5, editado pelo presidente Arthur da Costa e Silva, com aval de seu Ministério, para permitir que o governo garantisse a ordem pública. Além de lhe dar instrumento para controlar atividades criminosas, como assaltos a bancos, seqüestros de diplomatas estrangeiros, tentativas de implantação de guerrilha em diversos pontos do território nacional. Tudo isso promovido não pela oposição ao regime, abrigada no MDB, presente no Congresso Nacional e nas assembléias estaduais. Essa oposição armada era de cunho revolucionário-marxista, com ligações notórias (e confessas, mais tarde) com o regime de Fidel Castro. Mas a versão a ser publicada e comentada será apenas a dos derrotados de então. Como se o que eles queriam implantar no Brasil não fosse merecedor da pronta reação do governo e da sociedade, inclusive da oposição democrática ao regime. Na foto: MARECHAL ARTUR DA COSTA E SILVA - Leia matéria completa no Portal A verdade Sufocada
GOVERNO ENDOSSA E DISTRIBUI LIVROS COM MENTIRAS SOBRE O AI-5
Eles mentem e mentem, solenemente
Pelo menos 4 das 10 coleções de livros de história mais bem avaliadas pelo Programa Nacional do Livro Didático do MEC (Ministério da Educação) para 2008 têm erros de informação sobre o AI-5. As obras foram utilizados pelas escolas públicas do ensino fundamental neste ano. Outros dois livros ignoram o evento histórico.
Um dos livros --"História: das Cavernas ao Terceiro Milênio", escrito por Myrian Becho Mota e Patrícia Ramos Braick-- atribui ao AI-5 o estabelecimento da pena de morte no país. As autoras admitem o engano, que não foi percebido pelos professores universitários contratados pelo MEC para referendar as obras. A obra foi avaliada como "ótima" em critérios como concepção de história e conhecimentos históricos. Por Matheus Magenta Tai Nalon – Matéria completa na Folha
LULA JÁ ANISTIOU 25 MIL “PERSEGUIDOS” E CONCEDEU 10 MIL INDENIZAÇÕES
Desde 2002, Comissão da “caravana da alegria” já julgou 38 mil pedidos; a maioria dos casos se refere ao AI-5. Nos últimos sete anos, foram autorizados pagamentos que totalizam R$ 2,4 bilhões, segundo a comissão. Informação tirada da FSP
COMISSÃO RECONHECE MAIS QUATRO ANISTIADOS POLÍTICOS
A Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, concedeu ontem mais quatro declarações de anistiados políticos a perseguidos da ditadura militar, em especial após o AI-5.
São eles: os ex-deputados pelo MDB Armindo Doutel de Andrade e Paulo Macarini, o médico Jorge Raimundo Nahas (ex-militante do Comando de Libertação Nacional, o Colina), e o ex-líder estudantil Délio Fantini. Nahas, hoje secretário municipal em Belo Horizonte, vai receber R$ 330 mil de indenização retroativa e mais R$ 2 mil em prestações mensais. Os demais receberão R$ 100 mil em prestação única, mas sem pagamentos mensais. "Foi um enorme alívio ver esse processo, que começou em 2001, ser concluído. Minha vida segue adiante", afirmou Nahas. A sessão ocorreu no antigo prédio do Deops, em São Paulo. "É um espaço simbólico", disse o presidente da comissão, Paulo Abrão. IR ASSUNÇÃO – O Estado de São Paulo
A INEVITABILIDADE DO ATO
Por Jarbas Passarinho - – Jornal do Brasil
Em 1949, o mundo dividiu-se em dois hemisférios antagônicos: o do comunismo, expansionista, e o democrático. Iniciava-se a Guerra Fria. O comunismo expandiu-se e os Estados Unidos modificaram o conceito de fronteiras geográficas em ideológicas, o que o fez lutar na Coréia e no Vietnã. Mao Tse Tung na China, Ho Chi Min no Vietnã, as lutas pela descolonização dos países africanos, notadamente a Argélia, aumentaram o contingente comunista. Fidel Castro, em 1959, depõe um governo corrupto e adere ao comunismo em 1961. Torna-se ponta de lança da União Soviética na América do Sul. No Brasil, o presidente João Goulart recebeu, como aliado, o Partido Comunista clandestino, uma das causas de sua deposição. A aliança é confessada no livro Prestes, lutas e autocríticas, pag.167/60.
A partir de 1965, a esquerda arrasada em março de 1964 começou a reorganizar-se. Ainda no governo do presidente Castello Branco, o general Costa e Silva, que o sucederia, viajou para o Nordeste. Esperado em Recife, em julho de 1966, trocou o avião por automóvel, em Aracaju. No aeroporto de Guararapes, Recife, no momento em que deveria chegar, como previsto, uma bomba relógio explodiu. Matou cinco pessoas, feriu mais de uma dezena e mutilou militares. Foi a primeira ação terrorista da luta armada. Empossado, Costa e Silva tentou conciliar, mas a Dissidência Comunista da Guanabara, rompida com Prestes, realizou as passeatas no Rio de Janeiro, contra o governo, ao mesmo tempo que guerrilhas urbanas comunistas iniciavam a luta armada. A esquerda armada no Brasil, 1967/1971, premiado em Cuba, confirma. Apesar da agitação estudantil, das guerrilhas e do terrrorismo, as liberdades políticas e civis, o Congresso, a imprensa livre e eleições democráticas continuaram respeitadas.
O jornalista Márcio Moreira Alves em seu livro O despertar da revolução brasileira (páginas31/32) revela que o papel da esquerda era a "destruição completa das instituições liberais sobreviventes, porque enquanto existissem impediam que o proletariado pudesse optar por uma resistência clandestina e armada". Entre essas instituições figurava o Congresso. O deputado Márcio e um pequeno grupo dedicavam-se a fazer provocações, a que chamavam de "terrorismo cultural". Perto do dia 7 de setembro de 1968, fez um discurso que qualifica como "iconoclasta", nos cinco minutos destinados ao "pinga fogo", a que o plenário não dá atenção. Ridículo, mais que "iconoclasta", sugeria às mulheres que não namorassem militares, mas concluía com uma ofensa intolerável para o Exército, chamado de "valhacouto de bandidos". Imediatamente as notas taquigráficas foram distribuídas por todos os quartéis, causando profunda indignação. Depois da anistia, o discurso é publicado sem a ofensa desonrosa, que justificou a representação ao Supremo Tribunal Federal, que o encaminhou à Câmara dos Deputados com o fim de processar o insultante contra o deputado.
O governo já resistira à tática confessada pelo deputado: "destruir as instituições liberais", apesar do terrorismo no aeroporto de Recife, ao desafio armado das guerrilhas já desencadeadas e agora via seu partido, seu braço parlamentar, amplamente majoritário na Câmara, faltar-lhe ao apoio que lhe era devido, ao negar a licença para o processo. Estava desafiado, pois, também politicamente pelos que se elegeram sob a sua bandeira. Foi a gota d'água. O presidente Costa e Silva, a contragosto, cedeu à declaração enfática dos seus ministros militares de que, a serem mantidas as liberdades fundamentais, não poderiam garantir a ordem interna gravemente atacada pelo terrorismo e as guerrilhas comunistas. Carlos Prestes, anos depois, em resposta à crítica contra o governo comunista chinês, que massacrou estudantes e ativistas na Praça Celestial, disse: "Governo que não se defende não merece ser governo". Costa e Silva, nitidamente constrangido, editou, com o referendo de todos os seus ministros e dos chefes de Estado Maior das Forças Armadas, o AI-5, para "merecer ser governo".
Aos 73 anos, Geraldo Vandré afirma que não sabe quem é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, a política brasileira depois do AI-5 não existe mais. “Naquele tempo eu não tinha presidente. Agora você tem, não tem? Eu não tenho. Quero ficar longe dessa realidade que você está”, disse o autor da música Disparada numa conversa de 40 minutos por telefone na terça passada.
Ele também reclama do uso público de suas músicas hoje em dia: “Como tudo mais que as pessoas usam como querem e não pagam nada para ninguém”. E nega que tenha feito música de protesto ao regime militar. “Era uma crônica da realidade, talvez”.
O AI-5 não só encerrou a carreira de Vandré no Brasil, como o transformou num homem solitário, longe dos palcos, recluso num mundo particular, muitas vezes chamado de paranóico pelos amigos. Um mundo com frases desconexas quando fala do presente, mas lúcidas e irônicas ao tratar do passado. Quem foi Vandré? “Foi um artista, uma pessoa que fazia música, arte, canção popular”, diz ele, para logo provocar: “Pergunte ao governo quem foi Vandré”.
O paraibano e advogado Geraldo Pedrosa de Araújo Dias (Vandré era uma homenagem ao pai) vive em São Paulo, num pequeno apartamento no centro da cidade. Mas não é fácil encontrá-lo em casa. Nos últimos dias, disse estar cuidando da saúde num lugar incerto. É aposentado pelo Ministério da Fazenda, por ter trabalhado na extinta Sunab antes de 1968.
“NÃO TENHO PRESIDENTE”
O que significou o AI-5 na sua carreira?
Eu parei ali. Acabou a carreira. Não tive mais carreira.
Por que optou pela reclusão?
Porque é outro país, não é o meu. Mudou demais. Naquele tempo não tinha presidente. Agora você tem, não tem? Eu não tenho. Eu tenho outras coisas a fazer, eu fui expulso do serviço público por causa dessa canção (Para não dizer que não falei das flores). O que você chama de governo cobra impostos sobre o meu crime. Sou advogado, de outra época, do tempo em que se estudava leis neste país.
Quem foi Geraldo Vandré?
Um artista que fazia música brasileira, canção popular.
O senhor acha que os jovens de hoje deveriam saber quem foi Geraldo Vandré?
Você deveria perguntar isso para o governo deles.
Os amigos dizem que o senhor se fechou…
Quem tem mundo particular tem, quem não tem, não tem.
O que diria para o pessoal que o aguardava para aquele show em Brasília? Vou fazer um dia esse show. Isso vai ocorrer no seu tempo.
E hoje, continua compondo?
Estou fora de atividade comercial. Eu estudo música.
No passado, o senhor negou que tivesse sido torturado.
Essa é a realidade. Vocês querem a do sofrimento. Não vende jornal, não, né?
O senhor tem músicas guardadas?
Isso é secundário.
O que é fundamental na sua vida?
Ficar longe dessa realidade que você está.
Para não dizer que não falei das flores era uma música de protesto?
Não existe isso. Tenho que fazer música, interpretar e fazer crítica de arte? Não era de protesto, era música brasileira. Era uma crônica da realidade, talvez.
O que o senhor acha do presidente Lula?
Não conheço.
Por que adota essa postura de dizer que não existe governo?
Porque não sou filho de revolução. Não tenho nada a ver com isso.
Sente saudade dos anos 1960?
Tenho muita coisa para fazer, não dá tempo de sentir saudade.
Como vê sua música até hoje sendo tocada e cantada nos bares?
Como tudo mais que as pessoas usam como querem e não pagam nada para ninguém.
O senhor já votou para presidente?
Sim.
Em quem, pode revelar?
Sim, em João Goulart para vice-presidente e no Marechal Lott para presidente, em 1960.
O AI-5 E A VERDADE HISTÓRICA
Por Aristóteles Drummond
O próximo domingo marca o início da semana dedicada a matérias relativas aos 40 anos do Ato Institucional 5, editado pelo presidente Arthur da Costa e Silva, com aval de seu Ministério, para permitir que o governo garantisse a ordem pública. Além de lhe dar instrumento para controlar atividades criminosas, como assaltos a bancos, seqüestros de diplomatas estrangeiros, tentativas de implantação de guerrilha em diversos pontos do território nacional. Tudo isso promovido não pela oposição ao regime, abrigada no MDB, presente no Congresso Nacional e nas assembléias estaduais. Essa oposição armada era de cunho revolucionário-marxista, com ligações notórias (e confessas, mais tarde) com o regime de Fidel Castro. Mas a versão a ser publicada e comentada será apenas a dos derrotados de então. Como se o que eles queriam implantar no Brasil não fosse merecedor da pronta reação do governo e da sociedade, inclusive da oposição democrática ao regime. Na foto: MARECHAL ARTUR DA COSTA E SILVA - Leia matéria completa no Portal A verdade Sufocada
GOVERNO ENDOSSA E DISTRIBUI LIVROS COM MENTIRAS SOBRE O AI-5
Eles mentem e mentem, solenemente
Pelo menos 4 das 10 coleções de livros de história mais bem avaliadas pelo Programa Nacional do Livro Didático do MEC (Ministério da Educação) para 2008 têm erros de informação sobre o AI-5. As obras foram utilizados pelas escolas públicas do ensino fundamental neste ano. Outros dois livros ignoram o evento histórico.
Um dos livros --"História: das Cavernas ao Terceiro Milênio", escrito por Myrian Becho Mota e Patrícia Ramos Braick-- atribui ao AI-5 o estabelecimento da pena de morte no país. As autoras admitem o engano, que não foi percebido pelos professores universitários contratados pelo MEC para referendar as obras. A obra foi avaliada como "ótima" em critérios como concepção de história e conhecimentos históricos. Por Matheus Magenta Tai Nalon – Matéria completa na Folha
LULA JÁ ANISTIOU 25 MIL “PERSEGUIDOS” E CONCEDEU 10 MIL INDENIZAÇÕES
Desde 2002, Comissão da “caravana da alegria” já julgou 38 mil pedidos; a maioria dos casos se refere ao AI-5. Nos últimos sete anos, foram autorizados pagamentos que totalizam R$ 2,4 bilhões, segundo a comissão. Informação tirada da FSP
COMISSÃO RECONHECE MAIS QUATRO ANISTIADOS POLÍTICOS
A Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, concedeu ontem mais quatro declarações de anistiados políticos a perseguidos da ditadura militar, em especial após o AI-5.
São eles: os ex-deputados pelo MDB Armindo Doutel de Andrade e Paulo Macarini, o médico Jorge Raimundo Nahas (ex-militante do Comando de Libertação Nacional, o Colina), e o ex-líder estudantil Délio Fantini. Nahas, hoje secretário municipal em Belo Horizonte, vai receber R$ 330 mil de indenização retroativa e mais R$ 2 mil em prestações mensais. Os demais receberão R$ 100 mil em prestação única, mas sem pagamentos mensais. "Foi um enorme alívio ver esse processo, que começou em 2001, ser concluído. Minha vida segue adiante", afirmou Nahas. A sessão ocorreu no antigo prédio do Deops, em São Paulo. "É um espaço simbólico", disse o presidente da comissão, Paulo Abrão. IR ASSUNÇÃO – O Estado de São Paulo
A INEVITABILIDADE DO ATO
Por Jarbas Passarinho - – Jornal do Brasil
Em 1949, o mundo dividiu-se em dois hemisférios antagônicos: o do comunismo, expansionista, e o democrático. Iniciava-se a Guerra Fria. O comunismo expandiu-se e os Estados Unidos modificaram o conceito de fronteiras geográficas em ideológicas, o que o fez lutar na Coréia e no Vietnã. Mao Tse Tung na China, Ho Chi Min no Vietnã, as lutas pela descolonização dos países africanos, notadamente a Argélia, aumentaram o contingente comunista. Fidel Castro, em 1959, depõe um governo corrupto e adere ao comunismo em 1961. Torna-se ponta de lança da União Soviética na América do Sul. No Brasil, o presidente João Goulart recebeu, como aliado, o Partido Comunista clandestino, uma das causas de sua deposição. A aliança é confessada no livro Prestes, lutas e autocríticas, pag.167/60.
A partir de 1965, a esquerda arrasada em março de 1964 começou a reorganizar-se. Ainda no governo do presidente Castello Branco, o general Costa e Silva, que o sucederia, viajou para o Nordeste. Esperado em Recife, em julho de 1966, trocou o avião por automóvel, em Aracaju. No aeroporto de Guararapes, Recife, no momento em que deveria chegar, como previsto, uma bomba relógio explodiu. Matou cinco pessoas, feriu mais de uma dezena e mutilou militares. Foi a primeira ação terrorista da luta armada. Empossado, Costa e Silva tentou conciliar, mas a Dissidência Comunista da Guanabara, rompida com Prestes, realizou as passeatas no Rio de Janeiro, contra o governo, ao mesmo tempo que guerrilhas urbanas comunistas iniciavam a luta armada. A esquerda armada no Brasil, 1967/1971, premiado em Cuba, confirma. Apesar da agitação estudantil, das guerrilhas e do terrrorismo, as liberdades políticas e civis, o Congresso, a imprensa livre e eleições democráticas continuaram respeitadas.
O jornalista Márcio Moreira Alves em seu livro O despertar da revolução brasileira (páginas31/32) revela que o papel da esquerda era a "destruição completa das instituições liberais sobreviventes, porque enquanto existissem impediam que o proletariado pudesse optar por uma resistência clandestina e armada". Entre essas instituições figurava o Congresso. O deputado Márcio e um pequeno grupo dedicavam-se a fazer provocações, a que chamavam de "terrorismo cultural". Perto do dia 7 de setembro de 1968, fez um discurso que qualifica como "iconoclasta", nos cinco minutos destinados ao "pinga fogo", a que o plenário não dá atenção. Ridículo, mais que "iconoclasta", sugeria às mulheres que não namorassem militares, mas concluía com uma ofensa intolerável para o Exército, chamado de "valhacouto de bandidos". Imediatamente as notas taquigráficas foram distribuídas por todos os quartéis, causando profunda indignação. Depois da anistia, o discurso é publicado sem a ofensa desonrosa, que justificou a representação ao Supremo Tribunal Federal, que o encaminhou à Câmara dos Deputados com o fim de processar o insultante contra o deputado.
O governo já resistira à tática confessada pelo deputado: "destruir as instituições liberais", apesar do terrorismo no aeroporto de Recife, ao desafio armado das guerrilhas já desencadeadas e agora via seu partido, seu braço parlamentar, amplamente majoritário na Câmara, faltar-lhe ao apoio que lhe era devido, ao negar a licença para o processo. Estava desafiado, pois, também politicamente pelos que se elegeram sob a sua bandeira. Foi a gota d'água. O presidente Costa e Silva, a contragosto, cedeu à declaração enfática dos seus ministros militares de que, a serem mantidas as liberdades fundamentais, não poderiam garantir a ordem interna gravemente atacada pelo terrorismo e as guerrilhas comunistas. Carlos Prestes, anos depois, em resposta à crítica contra o governo comunista chinês, que massacrou estudantes e ativistas na Praça Celestial, disse: "Governo que não se defende não merece ser governo". Costa e Silva, nitidamente constrangido, editou, com o referendo de todos os seus ministros e dos chefes de Estado Maior das Forças Armadas, o AI-5, para "merecer ser governo".
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