E ESTENDE A MÃO A AHMADINEJAD
Pela primeira vez em 30 anos, um presidente dos Estados Unidos deixou claro que pretende estabelecer um canal diplomático com Teerã: "Estenderemos a mão aos países que descerrarem os punhos", garantiu Barack Obama, ao se dirigir diretamente ao mundo islâmico em seu discurso de posse. Com isso, o recém-empossado presidente deve reverter o maniqueísmo simplório de George Bush, que incluía o Irã no chamado "eixo do mal", infeliz rótulo criado pelo então redator dos discursos do presidente, o republicano David Frum , para definir governos considerados celeiros do terror.
– É um alívio que Obama queira se aproximar do Irã, pois a política dos últimos oito anos foi um desastre total, considerando a importância desse país na região – afirma o iraniano Mehrzad Boroujerdi, fundador do Programa de Estudos Sobre o Oriente Médio na Universidade de Syracuse, em Nova York. –
O grande ponto de interrogação é saber até que ponto Obama está disposto a ir e se sua iniciativa será recebida positivamente pelos iranianos.
Os primeiros sinais não são encorajadores, porque os iranianos acham que Obama está repetindo as mesmas coisas que ouvimos da antiga administração, como, por exemplo, a idéia de que não aceitam um programa nuclear iraniano, a percepção de que o Irã representa uma ameaça na região e, acima de tudo, a ênfase na segurança de Israel.
A rixa diplomática entre Irã e EUA foi sedimentada no dia 4 de novembro de 1979, quando cinco manifestantes universitários, entre eles o atual presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, invadiram a embaixada americana em Teerã e mantiveram 55 reféns por 444 dias. A crise dos reféns, resolvida apenas em janeiro de 1981, levou o governo dos Estados Unidos, então sob a liderança de Jimmy Carter, a romper relações diplomáticas com o Irã, um país que até a queda do xá Mohammed Reza Pahlevi tinha sido um de seus mais importantes aliados na região.
Embora a libertação dos reféns tenha sido uma das prioridades do governo democrata de Carter, seu fracasso em efetivar o final da crise contribuiu decisivamente para sua derrota contra o republicano Ronald Reagan na eleição de 1980. Os reféns foram libertados no dia da posse de Reagan (20 de janeiro de 1981) em troca do desbloqueio de fundos iranianos no valor de US$ 8 bilhões e da anistia dos seqüestradores.
Desde então, os EUA fecharam canais diplomáticos e impõem sanções que dificultam o desenvolvimento econômico do Irã, que por sua vez rebate com a retórica inflamada de Ahmadinejad, desdenhando Israel, ameaçando estruturas americanas na região e insistindo em prosseguir com seu programa nuclear.
– Os EUA e o Irã têm posições inteiramente divergentes sobre Israel e o programa nuclear iraniano – afirma Gary Sick, principal assessor da Casa Branca durante a Revolução Iraniana. – Mas não acho que as diferenças sejam maiores das que tivemos com a União Soviética no auge da Guerra Fria, e nunca deixamos de conversar com os soviéticos. Não acredito no conceito de que devemos conversar somente com quem concorda conosco. Precisamos desenvolver um mecanismo que nos permita resolver os problemas assim que eles surgem. Esta é a essência da diplomacia.
Sick garante que os EUA não conseguirão implementar uma política consistente na região sem lidar diretamente com o Irã, um dos maiores e mais influentes países do continente, e se mostra otimista em relação à postura de Barack Obama.
– Obama está interessado em atrair o Irã para o diálogo sem impor condições prévias, mas antecipando que será uma troca diplomática difícil – afirma Sick. – Isso não significa que os EUA de Obama irão abraçar governos com os quais temos desavenças. Mas estes são os países com os quais precisamos conversar.
Sick sugere que, por hora, Obama deve enviar sinais positivos ao Irã, indicar que está pronto para lidar com o país de maneira mais respeitosa e transparente, e que está aberto a discussões, mas adverte: Obama não deve se apressar em fazer propostas grandiosas, pois o país acaba de iniciar uma campanha presidencial que só terminará daqui a seis meses:
– Acho que, se fizermos grandes propostas de imediato, o Irã vai nos ignorar ou rejeitá-las abertamente, pois o país no momento se preocupa com a iminência das eleições. Por enquanto, devemos apenas mandar sinais positivos, e afirmar que não buscamos forçar uma mudança de regime. Ninguém negocia com alguém que está tentando matá-lo.
Sick aconselha o novo presidente a enviar diplomatas a Teerã para manter contatos contínuos com a base do governo. Deste modo, sugere Sick, os EUA saberão quando o país estiver pronto para conversar. - Por Joana Duarte - Jornal do Brasil
A GRANDE AMEAÇA É O IRÃ
Para o professor de ciência política Eytan Gilboa, do Centro Begin-Sadat de Estudos Estratégicos, a chave para solucionar o conflito entre israelenses e palestinos está em Teerã.
Que mudanças o governo Obama pode trazer ao processo de paz?
EYTAN GILBOA: A nomeação imediata de George Mitchell, tido como o arquiteto das negociações para a paz na Irlanda do Norte, mostra coragem e disposição. Mas o início será difícil. Obama ainda não tem experiência internacional e sabe que precisa agir com cautela, pois está num campo minado.
Sempre houve divergências entre as políticas europeia e americana em relação ao conflito israelense-palestino. Por que essa cooperação daria certo agora?
GILBOA: Os EUA já compreenderam que não podem mais agir sozinhos. E, apesar de toda a condenação pela ofensiva em Gaza, a Europa já compreendeu que o conflito reflete a rapidez com que o Irã está se infiltrando na região. Os tentáculos iranianos estão em Síria e Líbano, com o Hezbollah, em Gaza, com o Hamas, e ainda tentando desestabilizar o governo egípcio, com a Irmandade Muçulmana. A Europa acordou para a ameaça do Irã, que não se resume ao programa nuclear. Trata-se do país mais perigoso do mundo hoje.
E quanto à questão entre Israel e os palestinos?
GILBOA: Enquanto o Hamas estiver em Gaza, não haverá reconstrução e a diplomacia internacional pouco poderá fazer. A questão é saber quem vai se responsabilizar pela recuperação. Se for o Hamas, trata-se de uma vitória iraniana e, em pouco tempo, poderemos ver mais violência. Os palestinos têm uma decisão importante pela frente, que pode mudar o tabuleiro político de todo o Oriente Médio. (R.M.) - Por Eytan Gilboa – O Globo
Pela primeira vez em 30 anos, um presidente dos Estados Unidos deixou claro que pretende estabelecer um canal diplomático com Teerã: "Estenderemos a mão aos países que descerrarem os punhos", garantiu Barack Obama, ao se dirigir diretamente ao mundo islâmico em seu discurso de posse. Com isso, o recém-empossado presidente deve reverter o maniqueísmo simplório de George Bush, que incluía o Irã no chamado "eixo do mal", infeliz rótulo criado pelo então redator dos discursos do presidente, o republicano David Frum , para definir governos considerados celeiros do terror.
– É um alívio que Obama queira se aproximar do Irã, pois a política dos últimos oito anos foi um desastre total, considerando a importância desse país na região – afirma o iraniano Mehrzad Boroujerdi, fundador do Programa de Estudos Sobre o Oriente Médio na Universidade de Syracuse, em Nova York. –
O grande ponto de interrogação é saber até que ponto Obama está disposto a ir e se sua iniciativa será recebida positivamente pelos iranianos.
Os primeiros sinais não são encorajadores, porque os iranianos acham que Obama está repetindo as mesmas coisas que ouvimos da antiga administração, como, por exemplo, a idéia de que não aceitam um programa nuclear iraniano, a percepção de que o Irã representa uma ameaça na região e, acima de tudo, a ênfase na segurança de Israel.
A rixa diplomática entre Irã e EUA foi sedimentada no dia 4 de novembro de 1979, quando cinco manifestantes universitários, entre eles o atual presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, invadiram a embaixada americana em Teerã e mantiveram 55 reféns por 444 dias. A crise dos reféns, resolvida apenas em janeiro de 1981, levou o governo dos Estados Unidos, então sob a liderança de Jimmy Carter, a romper relações diplomáticas com o Irã, um país que até a queda do xá Mohammed Reza Pahlevi tinha sido um de seus mais importantes aliados na região.
Embora a libertação dos reféns tenha sido uma das prioridades do governo democrata de Carter, seu fracasso em efetivar o final da crise contribuiu decisivamente para sua derrota contra o republicano Ronald Reagan na eleição de 1980. Os reféns foram libertados no dia da posse de Reagan (20 de janeiro de 1981) em troca do desbloqueio de fundos iranianos no valor de US$ 8 bilhões e da anistia dos seqüestradores.
Desde então, os EUA fecharam canais diplomáticos e impõem sanções que dificultam o desenvolvimento econômico do Irã, que por sua vez rebate com a retórica inflamada de Ahmadinejad, desdenhando Israel, ameaçando estruturas americanas na região e insistindo em prosseguir com seu programa nuclear.
– Os EUA e o Irã têm posições inteiramente divergentes sobre Israel e o programa nuclear iraniano – afirma Gary Sick, principal assessor da Casa Branca durante a Revolução Iraniana. – Mas não acho que as diferenças sejam maiores das que tivemos com a União Soviética no auge da Guerra Fria, e nunca deixamos de conversar com os soviéticos. Não acredito no conceito de que devemos conversar somente com quem concorda conosco. Precisamos desenvolver um mecanismo que nos permita resolver os problemas assim que eles surgem. Esta é a essência da diplomacia.
Sick garante que os EUA não conseguirão implementar uma política consistente na região sem lidar diretamente com o Irã, um dos maiores e mais influentes países do continente, e se mostra otimista em relação à postura de Barack Obama.
– Obama está interessado em atrair o Irã para o diálogo sem impor condições prévias, mas antecipando que será uma troca diplomática difícil – afirma Sick. – Isso não significa que os EUA de Obama irão abraçar governos com os quais temos desavenças. Mas estes são os países com os quais precisamos conversar.
Sick sugere que, por hora, Obama deve enviar sinais positivos ao Irã, indicar que está pronto para lidar com o país de maneira mais respeitosa e transparente, e que está aberto a discussões, mas adverte: Obama não deve se apressar em fazer propostas grandiosas, pois o país acaba de iniciar uma campanha presidencial que só terminará daqui a seis meses:
– Acho que, se fizermos grandes propostas de imediato, o Irã vai nos ignorar ou rejeitá-las abertamente, pois o país no momento se preocupa com a iminência das eleições. Por enquanto, devemos apenas mandar sinais positivos, e afirmar que não buscamos forçar uma mudança de regime. Ninguém negocia com alguém que está tentando matá-lo.
Sick aconselha o novo presidente a enviar diplomatas a Teerã para manter contatos contínuos com a base do governo. Deste modo, sugere Sick, os EUA saberão quando o país estiver pronto para conversar. - Por Joana Duarte - Jornal do Brasil
A GRANDE AMEAÇA É O IRÃ
Para o professor de ciência política Eytan Gilboa, do Centro Begin-Sadat de Estudos Estratégicos, a chave para solucionar o conflito entre israelenses e palestinos está em Teerã.
Que mudanças o governo Obama pode trazer ao processo de paz?
EYTAN GILBOA: A nomeação imediata de George Mitchell, tido como o arquiteto das negociações para a paz na Irlanda do Norte, mostra coragem e disposição. Mas o início será difícil. Obama ainda não tem experiência internacional e sabe que precisa agir com cautela, pois está num campo minado.
Sempre houve divergências entre as políticas europeia e americana em relação ao conflito israelense-palestino. Por que essa cooperação daria certo agora?
GILBOA: Os EUA já compreenderam que não podem mais agir sozinhos. E, apesar de toda a condenação pela ofensiva em Gaza, a Europa já compreendeu que o conflito reflete a rapidez com que o Irã está se infiltrando na região. Os tentáculos iranianos estão em Síria e Líbano, com o Hezbollah, em Gaza, com o Hamas, e ainda tentando desestabilizar o governo egípcio, com a Irmandade Muçulmana. A Europa acordou para a ameaça do Irã, que não se resume ao programa nuclear. Trata-se do país mais perigoso do mundo hoje.
E quanto à questão entre Israel e os palestinos?
GILBOA: Enquanto o Hamas estiver em Gaza, não haverá reconstrução e a diplomacia internacional pouco poderá fazer. A questão é saber quem vai se responsabilizar pela recuperação. Se for o Hamas, trata-se de uma vitória iraniana e, em pouco tempo, poderemos ver mais violência. Os palestinos têm uma decisão importante pela frente, que pode mudar o tabuleiro político de todo o Oriente Médio. (R.M.) - Por Eytan Gilboa – O Globo
Um comentário:
O mundo está tomado por um sentimento oceânico de amor a Barack.
Contra esse "Tsunami" não fica em pé nenhuma desconfiança. O negócio é esperar para ver, até porque, não temos outra saída.
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