Na Índia o carrinho de 3 metros custará U$ 2.103,82 ou cerca de R$ 4.628,43. Aqui, no Brasil, graças ao apetite tributário do governo, ele custaria R$ 14.400,00. Leia mais aqui, no O Globo
SOMOS TODOS ESCRAVOS
Os brasileiros vivem sob o jugo dos tributos, das taxas bancárias e da ineficiência do Estado. – Por Samir Keedi
Em 13 de maio de 1888 tivemos a libertação dos escravos no Brasil. Essa, no entanto, não ocorreu efetivamente, mesmo transcorrido mais de um século. Nos últimos anos temos visto, de tempos em tempos, ações policiais nas quais o Estado liberta trabalhadores em regime de escravidão ou semi-escravidão, fato que gera muita indignação. Afinal, pergunta-se, como é possível que no século 21 ainda exista escravidão no Brasil?
Bom, para aqueles que ainda ficam indignados com o fato de termos trabalhadores escravizados em fazendas brasileiras, temos de dar péssimas notícias. É que todos somos escravos de alguma maneira neste País. Senão, vejamos.
A presente carga tributária brasileira é a mais alta do mundo em termos reais e em relação ao retorno aos brasileiros, sendo de cerca de 37% do PIB. Como é sabido e divulgado sempre, trabalhamos 4,5 meses por ano para pagar impostos. Trabalhamos talvez outros 2,5 meses anuais para pagar aquilo que o Estado deveria nos dar, caso da saúde, educação, segurança etc. Assim, dos doze meses do ano, trabalhamos cerca de sete para o Estado e cinco meses para nós mesmos.
O que é isso, senão escravidão?
Os preços públicos e administrados são corrigidos desvairadamente (como exemplo, podemos citar telefone, energia elétrica, água, remédios) e bem acima da inflação desde o Plano Real, aquele foi sem ser. Foi denominado "plano", mas trabalhou apenas a inflação. Obviamente necessário, considerando a indecência dos índices na época, mas com resultado aquém do desejado. Jamais trabalhou o emprego, a renda, a educação, saúde, agricultura. Um plano tem que ser um conjunto de ações e não apenas uma coisa.
Se não somos escravos, o que somos?
Cerca de 50/60 milhões de brasileiros não podem fazer refeições regulamente como deveriam. Por isso têm que receber a bolsa-esmola do governo, que onera toda a sociedade, como nunca antes neste País. Há no Brasil uma taxa de desemprego ou subemprego assustadora. Basta ver que os números oficiais dão como trabalhadores com carteira registrada cerca de 32 milhões de brasileiros, enquanto o contingente da população economicamente ativa é de quase 90 milhões.
Isso fica mais grave quando se pensa que um(a) chefe de família tem sob sua responsabilidade mais do que ele(a) próprio(a). Principalmente agora que a marolinha devastadora nos atingiu pela proa e pela popa.
É, e aqui não temos escravos.
Recorrer a financiamentos bancários, compra em cartão de crédito ou cheque especial pode significar entre 80% e 250% de juros nominais ao ano para o incauto, lembrando que a inflação anual está por volta de 6%, com meta de 4,5%. Cobrar mais juros em um único mês do que a inflação de um ano inteiro é no mínimo imoral, mesmo os maravilhosos juros de empréstimos aos trabalhadores, o crédito consignado, criado pelo governo para desconto em folha de pagamento. Este significa, a 2% de juros nominais ao mês, cerca de 27% ao ano. Somente nestes 27% já temos um juro real de 500% sobre a meta da inflação. Isso nos torna únicos e imbatíveis.
Ainda bem que não há escravidão no Brasil.
O resultado é o conhecido, com os bancos ganhando mais dinheiro entre 2003 e 2008 do que jamais ganharam na sua história, e do que se ganha no resto do mundo. É fartamente divulgado que as taxas bancárias hoje sustentam, em diversas instituições, mais do que a sua folha de pagamento, o que é no mínimo imoral. O banco trabalha com nosso dinheiro, fatura a imoralidade e ainda cobra pela nossa movimentação, extrato, talão de cheque e outros serviços. Agora, em muitos bancos, até estacionamento é cobrado.
E não temos escravidão no Brasil.
O governo aumenta seus impostos a bel-prazer, não se importando com a situação dos brasileiros, sem se preocupar se a pessoa pode ou não pagar. Muitos são obrigados a reduzir o consumo, mudar filhos para escolas públicas, cortar gastos essenciais, ir para o sistema público de saúde, enquanto o nosso sócio majoritário jamais corta despesas; ao contrário, só aumenta. Quando tem déficit, nunca pensa em eficiência, mas em aumento de impostos e ninguém pode fazer nada. Só o sócio majoritário tem a força.
Amigos leitores, se isso tudo não é escravidão, o que significa então? Obviamente somos um País de escravos, que não tem vontade própria e apenas cumpre ordens emanadas de quem manda. E como manda!
É hora de realmente termos um 13 de maio (serve qualquer outra data). É necessário que o povo escravo habite o mesmo país de seus donos e tenha os mesmos direitos, ou até mais – isso é que é democracia, governo do povo para o povo. O que também ainda nos falta efetivamente.
Como disse Bertrand Russel: "A principal causa dos problemas do mundo de hoje é que os obtusos estão seguríssimos de si, enquanto os inteligentes estão cheios de dúvidas."
Samir Keedi é economista, consultor e professor da Aduaneiras e de várias universidades e autor de livros sobre comércio exterior.
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