Quando convidou para vir ao Brasil o homem que nega o Holocausto, pune homossexuais com a morte, prende crianças, persegue etnias curdas, azerbaijanis e turcas, oprime cristãos, evangélicos, bahais, chicoteia mulheres — a diplomacia brasileira, pródiga em calarse diante de atrocidades (alô alô, Darfur) deve ter pensado que fazia um gol de placa em sua meta fundamental desde 2003: conseguir uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU.
É que o novo profeta do apocalipse carrega consigo uma penca de votos valiosos dentre as nações onde impera o fundamentalismo islâmico. De quebra, na trilha do unilateralismo pregado por Obama, receber o presidente iraniano seria uma oportunidade de alinhamento global, e um combustível a mais nos planos do presidente Lula de desempenhar, futuramente, um papel importante nas negociações pela paz no Oriente Médio.
Mas eis que, às vésperas da etapa brasileira da turnê de Ahmadinejad, o mesmo vai ao microfone da ONU e, ao reafirmar sua bravata negacionista e incendiária, cria, para seus anfitriões brasileiros, um abacaxi. Não que as ideias de Ahmadinejad não encontrem eco no seio políticopartidário local, sobretudo num importante núcleo da amálgama petista (felizmente, combatido por ilustres correligionários comprometidos com a razão).
Sabe-se que o último discurso de Ahmadinejad não interromperá a cruzada diplomática norte-americana, em busca do apoio do Irã no Afeganistão. Sabe-se, igualmente, que se o recém-empossado primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, não afirmar em breve compromisso com a solução de dois estados para o conflito na região — apoiada por todos os israelenses e judeus de bom senso — a plataforma de Ahmadinejad sairá fortalecida até que ele e Bibi caminhem juntos para a guerra e a era Obama comece, prematuramente, a minguar. Tudo isso são peças no difícil xadrez da geopolítica atual.
Não fosse carreada por interesses escamoteados, não haveria, contudo, esse entusiasmo todo, essa sensualidade, essa pressa pela presença nefasta de Ahmadinejad no Brasil.
Por que não convidar um Dalai Lama, cuja fuga e exílio fizeram 50 anos recentemente? Não. A presença iluminada de Dalai criaria sérios constrangimentos na relação do Brasil com a China, que anda ameaçando, mundo afora, com represálias comerciais, as nações que confraternizarem com o líder tibetano.
Se não são os votos para o Conselho, o que traz Ahmadinejad ao Brasil? Alguém acredita que sua visita transcorrerá num clima de congraçamento, de visões progressistas de futuro, de grandes acordos de cooperação comercial e cultural? Como ficará o tema dos Direitos Humanos, sendo o Irã um dos países mais alvejados pela Anistia Internacional? Alguém acredita que sua visita escapará de se transformar num circo midiático, que o líder iraniano aproveitará a seu bel-prazer para disseminar ódio, atrair simpatias desinformadas, dar munição ao radicalismo, encher o saco de farinha onde se misturam, indiscriminadamente, causas sociais legítimas com o crèmede-la-crème do obscurantismo, no tempo em que a História perde sentido e reina uma grande maçaroca pós-ideológica? Lula, que nem aceita rediscutir a visita, promete dar um pito no colega. Deixar clara sua discordância. Se isso de fato ocorrer, terá que abrir espaço para o contradito, ou seja, mais lenha na fogueira do discurso do confronto.
Quem terá a palavra final? O anfitrião ou o visitante linguarudo, que nada tem a perder? Ao não se retirar do plenário da conferência em Genebra, o ministro Edson Santos intentava não contribuir com a polarização das discussões e não ajudar o presidente iraniano em sua busca por chamar a atenção.
Este discurso naïf (independentemente da postura das delegações, a fala de Ahmadinejad seria a escolhida da mídia para figurar nas manchetes) sempre se confunde com o ceticismo dos que viam nas primeiras arruaças nacional-socialistas a ação de palhaços narcisistas que em nada ameaçavam a solidez dos princípios morais do estado alemão.
Uma vez que a retórica de Ahmadinejad — num foro mundial que, felizmente, ao contrário do que vige no Irã, não oprime o direito à expressão livre de ideias — soou e soará, a retirada de representantes ao menos contrapôs à infâmia uma postura, um outro falar, mesmo que óbvio, mesmo que repisado, mas necessário. Nessas horas, a herança do Émile Zola de “J ’accuse” é honrada e renovada.
Agora, com a visita de Ahmadinejad, as autoridades pátrias terão a chance de, querendo ou não, promover a maior polarização possível e ajudá-lo a chamar o máximo de atenção.
De resto, é esperar passar esta etapa dolorosa para os descendentes brasileiros de vítimas do Holocausto e para todos os que amam a razão. Por outro lado, que o novo governo israelense rompa o isolacionismo e se una às nações que rejeitam Ahmadinejad: um estado Palestino é o único caminho para a paz e a paz é, de fato, a meta. Só assim o isolamento do líder iraniano será cristalizado. O Globo
CONEXÃO IRÃ-SUDÃO
A Federação Israelita de SP vai promover no domingo, na Marcha da Vida -evento anual para lembrar o Holocausto-, um ato de protesto contra a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que virá ao Brasil no dia 6. E vai coletar assinaturas para que o governo se posicione contra o genocídio de Darfur, no Sudão. – Mônica Bergamo da Folha
VAMOS CAIR FORA
"Quando Ahmadinejad chegar ao Brasil, podemos imitar os representantes europeus e abandonar o país por alguns dias. Ele deseja ir à FIESP? A FIESP estará fechada. Ele pretende conhecer a Praia de Copacabana? Copacabana estará deserta" - Diogo Mainardi – Revista Veja
Depois de Iron Maiden, Simply Red e A-Ha, chegou a hora de Mahmoud Ahmadinejad atormentar o Brasil. Este é um ano particularmente penoso para todos nós.
Mahmoud Ahmadinejad desembarca no comecinho de maio. Ele foi convidado por Lula. Uma semana atrás, num congresso da ONU, o presidente iraniano acusou Israel de racismo. Dois dias mais tarde, voltou ao assunto, acusando Israel de praticar limpeza étnica e o assassinato em massa dos palestinos. Ele já anunciou qual é a sua proposta: eliminar Israel da face da Terra.
No congresso da ONU, em protesto contra o discurso de Mahmoud Ahmadinejad, os representantes europeus abandonaram a sala. Quem continuou lá? Os representantes brasileiros, enviados por Lula. No total, mais de trinta apaniguados do PT e ongueiros, do ministro Edson Santos ao pai de santo mangueirense Ivanir dos Santos. Quando Mahmoud Ahmadinejad chegar ao Brasil, podemos imitar os representantes europeus e abandonar o país por alguns dias. Ele deseja ir à Fiesp? A Fiesp estará fechada. Ele pretende conhecer a Praia de Copacabana? Copacabana estará deserta. Para recepcioná-lo, ele encontrará somente os apaniguados do PT e os ongueiros.
Se é para abandonar o país por alguns dias, nenhum lugar é melhor do que a Argentina. Em 1994, terroristas dinamitaram o prédio de um centro israelita em Buenos Aires. Foram assassinadas 85 pessoas. O relatório do Ministério Público argentino acusou as autoridades diplomáticas iranianas de montar uma rede de espionagem no país, que coordenou o atentado praticado por terroristas do Hezbollah. Os organizadores do atentado se refugiaram em território iraniano. A Interpol emitiu uma ordem de captura contra oito deles, mas Mahmoud Ahmadinejad e seu bando se recusaram a entregá-los. Atualmente, dois desses foragidos trabalham como assessores do guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei. A Argentina rejeita qualquer contato direto com o presidente iraniano, que protege os terroristas. É para lá que temos de ir.
Na última semana, o Itamaraty prometeu condenar publicamente as ideias negacionistas de Mahmoud Ahmadinejad durante sua passagem pelo Brasil. Lula poderia ganhar coragem e condenar também o programa nuclear iraniano. Mas ocorre o contrário: ele apoia o programa nuclear iraniano. O mesmo programa nuclear que, associado às ideias negacionistas de Mahmoud Ahmadinejad, torna especialmente alarmante sua promessa de eliminar Israel da face da Terra. Assim sendo, Lula poderia ao menos condenar algumas das práticas mais repelentes do estado iraniano: o apedrejamento de mulheres, os abusos contra as minorias religiosas, o assassinato de homossexuais, o encarceramento de políticos, a censura à imprensa. O que Lula fará quando se encontrar com Mahmoud Ahmadinejad? Simples: ele ficará sentado, calado, como um pai de santo mangueirense num congresso da ONU.
É que o novo profeta do apocalipse carrega consigo uma penca de votos valiosos dentre as nações onde impera o fundamentalismo islâmico. De quebra, na trilha do unilateralismo pregado por Obama, receber o presidente iraniano seria uma oportunidade de alinhamento global, e um combustível a mais nos planos do presidente Lula de desempenhar, futuramente, um papel importante nas negociações pela paz no Oriente Médio.
Mas eis que, às vésperas da etapa brasileira da turnê de Ahmadinejad, o mesmo vai ao microfone da ONU e, ao reafirmar sua bravata negacionista e incendiária, cria, para seus anfitriões brasileiros, um abacaxi. Não que as ideias de Ahmadinejad não encontrem eco no seio políticopartidário local, sobretudo num importante núcleo da amálgama petista (felizmente, combatido por ilustres correligionários comprometidos com a razão).
Sabe-se que o último discurso de Ahmadinejad não interromperá a cruzada diplomática norte-americana, em busca do apoio do Irã no Afeganistão. Sabe-se, igualmente, que se o recém-empossado primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, não afirmar em breve compromisso com a solução de dois estados para o conflito na região — apoiada por todos os israelenses e judeus de bom senso — a plataforma de Ahmadinejad sairá fortalecida até que ele e Bibi caminhem juntos para a guerra e a era Obama comece, prematuramente, a minguar. Tudo isso são peças no difícil xadrez da geopolítica atual.
Não fosse carreada por interesses escamoteados, não haveria, contudo, esse entusiasmo todo, essa sensualidade, essa pressa pela presença nefasta de Ahmadinejad no Brasil.
Por que não convidar um Dalai Lama, cuja fuga e exílio fizeram 50 anos recentemente? Não. A presença iluminada de Dalai criaria sérios constrangimentos na relação do Brasil com a China, que anda ameaçando, mundo afora, com represálias comerciais, as nações que confraternizarem com o líder tibetano.
Se não são os votos para o Conselho, o que traz Ahmadinejad ao Brasil? Alguém acredita que sua visita transcorrerá num clima de congraçamento, de visões progressistas de futuro, de grandes acordos de cooperação comercial e cultural? Como ficará o tema dos Direitos Humanos, sendo o Irã um dos países mais alvejados pela Anistia Internacional? Alguém acredita que sua visita escapará de se transformar num circo midiático, que o líder iraniano aproveitará a seu bel-prazer para disseminar ódio, atrair simpatias desinformadas, dar munição ao radicalismo, encher o saco de farinha onde se misturam, indiscriminadamente, causas sociais legítimas com o crèmede-la-crème do obscurantismo, no tempo em que a História perde sentido e reina uma grande maçaroca pós-ideológica? Lula, que nem aceita rediscutir a visita, promete dar um pito no colega. Deixar clara sua discordância. Se isso de fato ocorrer, terá que abrir espaço para o contradito, ou seja, mais lenha na fogueira do discurso do confronto.
Quem terá a palavra final? O anfitrião ou o visitante linguarudo, que nada tem a perder? Ao não se retirar do plenário da conferência em Genebra, o ministro Edson Santos intentava não contribuir com a polarização das discussões e não ajudar o presidente iraniano em sua busca por chamar a atenção.
Este discurso naïf (independentemente da postura das delegações, a fala de Ahmadinejad seria a escolhida da mídia para figurar nas manchetes) sempre se confunde com o ceticismo dos que viam nas primeiras arruaças nacional-socialistas a ação de palhaços narcisistas que em nada ameaçavam a solidez dos princípios morais do estado alemão.
Uma vez que a retórica de Ahmadinejad — num foro mundial que, felizmente, ao contrário do que vige no Irã, não oprime o direito à expressão livre de ideias — soou e soará, a retirada de representantes ao menos contrapôs à infâmia uma postura, um outro falar, mesmo que óbvio, mesmo que repisado, mas necessário. Nessas horas, a herança do Émile Zola de “J ’accuse” é honrada e renovada.
Agora, com a visita de Ahmadinejad, as autoridades pátrias terão a chance de, querendo ou não, promover a maior polarização possível e ajudá-lo a chamar o máximo de atenção.
De resto, é esperar passar esta etapa dolorosa para os descendentes brasileiros de vítimas do Holocausto e para todos os que amam a razão. Por outro lado, que o novo governo israelense rompa o isolacionismo e se una às nações que rejeitam Ahmadinejad: um estado Palestino é o único caminho para a paz e a paz é, de fato, a meta. Só assim o isolamento do líder iraniano será cristalizado. O Globo
CONEXÃO IRÃ-SUDÃO
A Federação Israelita de SP vai promover no domingo, na Marcha da Vida -evento anual para lembrar o Holocausto-, um ato de protesto contra a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que virá ao Brasil no dia 6. E vai coletar assinaturas para que o governo se posicione contra o genocídio de Darfur, no Sudão. – Mônica Bergamo da Folha
VAMOS CAIR FORA
"Quando Ahmadinejad chegar ao Brasil, podemos imitar os representantes europeus e abandonar o país por alguns dias. Ele deseja ir à FIESP? A FIESP estará fechada. Ele pretende conhecer a Praia de Copacabana? Copacabana estará deserta" - Diogo Mainardi – Revista Veja
Depois de Iron Maiden, Simply Red e A-Ha, chegou a hora de Mahmoud Ahmadinejad atormentar o Brasil. Este é um ano particularmente penoso para todos nós.
Mahmoud Ahmadinejad desembarca no comecinho de maio. Ele foi convidado por Lula. Uma semana atrás, num congresso da ONU, o presidente iraniano acusou Israel de racismo. Dois dias mais tarde, voltou ao assunto, acusando Israel de praticar limpeza étnica e o assassinato em massa dos palestinos. Ele já anunciou qual é a sua proposta: eliminar Israel da face da Terra.
No congresso da ONU, em protesto contra o discurso de Mahmoud Ahmadinejad, os representantes europeus abandonaram a sala. Quem continuou lá? Os representantes brasileiros, enviados por Lula. No total, mais de trinta apaniguados do PT e ongueiros, do ministro Edson Santos ao pai de santo mangueirense Ivanir dos Santos. Quando Mahmoud Ahmadinejad chegar ao Brasil, podemos imitar os representantes europeus e abandonar o país por alguns dias. Ele deseja ir à Fiesp? A Fiesp estará fechada. Ele pretende conhecer a Praia de Copacabana? Copacabana estará deserta. Para recepcioná-lo, ele encontrará somente os apaniguados do PT e os ongueiros.
Se é para abandonar o país por alguns dias, nenhum lugar é melhor do que a Argentina. Em 1994, terroristas dinamitaram o prédio de um centro israelita em Buenos Aires. Foram assassinadas 85 pessoas. O relatório do Ministério Público argentino acusou as autoridades diplomáticas iranianas de montar uma rede de espionagem no país, que coordenou o atentado praticado por terroristas do Hezbollah. Os organizadores do atentado se refugiaram em território iraniano. A Interpol emitiu uma ordem de captura contra oito deles, mas Mahmoud Ahmadinejad e seu bando se recusaram a entregá-los. Atualmente, dois desses foragidos trabalham como assessores do guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei. A Argentina rejeita qualquer contato direto com o presidente iraniano, que protege os terroristas. É para lá que temos de ir.
Na última semana, o Itamaraty prometeu condenar publicamente as ideias negacionistas de Mahmoud Ahmadinejad durante sua passagem pelo Brasil. Lula poderia ganhar coragem e condenar também o programa nuclear iraniano. Mas ocorre o contrário: ele apoia o programa nuclear iraniano. O mesmo programa nuclear que, associado às ideias negacionistas de Mahmoud Ahmadinejad, torna especialmente alarmante sua promessa de eliminar Israel da face da Terra. Assim sendo, Lula poderia ao menos condenar algumas das práticas mais repelentes do estado iraniano: o apedrejamento de mulheres, os abusos contra as minorias religiosas, o assassinato de homossexuais, o encarceramento de políticos, a censura à imprensa. O que Lula fará quando se encontrar com Mahmoud Ahmadinejad? Simples: ele ficará sentado, calado, como um pai de santo mangueirense num congresso da ONU.
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