Para Thums, crianças sofrem lavagem cerebral em escolas itinerantes
A intenção inicial do procurador Gilberto Thums, Procurador de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul, era comprovar que o MST opera na ilegalidade, que o movimento teria se transformado numa organização criminosa e seus acampamentos, num estado paralelo, onde a lei não é cumprida:
- Quem manda neles (os sem-terra) é quem domina a região onde estão instalados. O MST não cumpre a Constituição: ele é mais forte que o próprio Estado - afirma Thums.
Mas surgiu um problema: como extinguir judicialmente uma entidade que sequer tem personalidade jurídica?
- Não há como dissolver o que não existe do ponto de vista legal. Numa hipótese doida, o que poderiam fazer é pedir à Justiça para proibir todo mundo de se reunir como MST - contestou Juvelino Strozake, advogado do movimento.
A saída foi buscar medidas práticas para conter o poder de aglutinação do movimento. O objetivo passou a ser, como diz Thums, "quebrar a espinha dorsal do MST". E foi ao longo desse processo, iniciado em julho de 2008, que ele teve de recuar:
- Notei que não avaliamos com precisão o poder do movimento. Ele é mais forte do que qualquer instituição e tem tentáculos na maioria delas, inclusive no governo federal.
Suas primeiras ações foram exitosas. Thums conseguiu oito vitórias judiciais contra o MST, como desmontar acampamentos que, segundo a acusação, serviam apenas como "bases para atormentar proprietários de terras, a ponto de fazer com que as abandonassem".
A batalha mais recente foi a gota d'água que acabaria provocando o seu recuo: conseguiu que o governo do estado determinasse o fechamento das escolas itinerantes do MST, a partir de 3 de março passado. São doze escolas, com 300 alunos. A alegação é que já não há acampamentos itinerantes no Rio Grande do Sul:
- Alguns estão há dez anos no mesmo lugar. Portanto, as crianças de lá podem, e devem, frequentar uma escola pública, em vez de ficar isoladas das crianças que recebem o ensino básico oficial - diz Thums.
O outro motivo é que elas estariam "sofrendo lavagem cerebral" em cursos sobre os quais o governo gaúcho - que financiava tais escolas - não tem controle. Segundo Thums, ali acontecem "doutrinações revolucionárias" de cunho marxista.
Altair Morback, professor da Escola Itinerante Che Guevara, num acampamento em Nova Santa Rita (RS), disse que o fechamento das escolas não passou de perseguição ideológica.
Thums se viu pressionado pela Comissão Pastoral da Terra, por deputados e senadores e pelo governo federal. Elas se juntaram numa denúncia contra ele e contra o Ministério Público gaúcho, encaminhada à Organização das Nações Unidas e à Organização dos Estados Americanos (OEA) - que, até aqui, não se manifestaram. (JMP)
PROCURADOR QUE DENUNCIOU MST SOFRE AMEAÇAS
Thums, que moveu ações contra o movimento no Sul, é levado a deixar linha de frente das investigações - José Meirelles Passos – O Globo
Gilberto Thums tratou de seguir a lei ao pé da letra. E por tal empenho se meteu numa enrascada. Procurador de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul, declarou guerra ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que considera uma organização ilegal. Buscou recursos legais apropriados, e sua última batalha resultou no fechamento das escolas itinerantes do MST em seu estado, a partir do último dia 3 de março. Há poucos dias, porém, o procurador percebeu que subestimara o inimigo. Viu-se, então, obrigado a um recuo tático, se afastando da linha de frente das causas. Teve de fazer isso, como afirma, por uma razão estratégica e também por uma questão se sobrevivência:
- É prudente eu sair de cena no momento. Cheguei longe demais. Recuo para preservar a minha vida - justificou, referindo-se às ameaças de morte que tem recebido.
Uma delas, segundo ele, por pouco não se concretizou dias atrás, quando sofreu uma tentativa de atropelamento em Porto Alegre. Não havia movimento de veículos quando ele se preparava para atravessar a rua. Só um Fiat estacionado nas proximidades, com alguém ao volante:
- Assim que comecei a cruzar a rua, o carro arrancou e veio para cima de mim. Se eu não tivesse preparo físico, teria sido esmagado - conta, dizendo não ter anotado a placa.
Sair da linha de frente significará basicamente uma mudança de estilo, não de substância. Thums evitará fazer declarações públicas sobre o MST. Ele confessa que, no calor das investigações, pecou ao calibrar os ataques. Como quando afirmou que o MST era um movimento guerrilheiro. O MST então utilizou o fato de ele ser descendente de austríacos para compará-lo a Adolf Hitler.
O procurador de 54 anos, formado pela UFRJ, vai continuar investigando o MST, mas sem assumir a causa:
- É uma demonstração de prudência. Saio da linha de frente mas, ao contrário do que andaram noticiando, não joguei a toalha. Não saio do caso. Não ficaria bem associar o Ministério Público às imagens que eu vinha usando. Agora vou permanecer nos bastidores, municiando colegas que vão levar adiante a nossa luta - disse Thums ao GLOBO.
A intenção inicial do procurador Gilberto Thums, Procurador de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul, era comprovar que o MST opera na ilegalidade, que o movimento teria se transformado numa organização criminosa e seus acampamentos, num estado paralelo, onde a lei não é cumprida:
- Quem manda neles (os sem-terra) é quem domina a região onde estão instalados. O MST não cumpre a Constituição: ele é mais forte que o próprio Estado - afirma Thums.
Mas surgiu um problema: como extinguir judicialmente uma entidade que sequer tem personalidade jurídica?
- Não há como dissolver o que não existe do ponto de vista legal. Numa hipótese doida, o que poderiam fazer é pedir à Justiça para proibir todo mundo de se reunir como MST - contestou Juvelino Strozake, advogado do movimento.
A saída foi buscar medidas práticas para conter o poder de aglutinação do movimento. O objetivo passou a ser, como diz Thums, "quebrar a espinha dorsal do MST". E foi ao longo desse processo, iniciado em julho de 2008, que ele teve de recuar:
- Notei que não avaliamos com precisão o poder do movimento. Ele é mais forte do que qualquer instituição e tem tentáculos na maioria delas, inclusive no governo federal.
Suas primeiras ações foram exitosas. Thums conseguiu oito vitórias judiciais contra o MST, como desmontar acampamentos que, segundo a acusação, serviam apenas como "bases para atormentar proprietários de terras, a ponto de fazer com que as abandonassem".
A batalha mais recente foi a gota d'água que acabaria provocando o seu recuo: conseguiu que o governo do estado determinasse o fechamento das escolas itinerantes do MST, a partir de 3 de março passado. São doze escolas, com 300 alunos. A alegação é que já não há acampamentos itinerantes no Rio Grande do Sul:
- Alguns estão há dez anos no mesmo lugar. Portanto, as crianças de lá podem, e devem, frequentar uma escola pública, em vez de ficar isoladas das crianças que recebem o ensino básico oficial - diz Thums.
O outro motivo é que elas estariam "sofrendo lavagem cerebral" em cursos sobre os quais o governo gaúcho - que financiava tais escolas - não tem controle. Segundo Thums, ali acontecem "doutrinações revolucionárias" de cunho marxista.
Altair Morback, professor da Escola Itinerante Che Guevara, num acampamento em Nova Santa Rita (RS), disse que o fechamento das escolas não passou de perseguição ideológica.
Thums se viu pressionado pela Comissão Pastoral da Terra, por deputados e senadores e pelo governo federal. Elas se juntaram numa denúncia contra ele e contra o Ministério Público gaúcho, encaminhada à Organização das Nações Unidas e à Organização dos Estados Americanos (OEA) - que, até aqui, não se manifestaram. (JMP)
PROCURADOR QUE DENUNCIOU MST SOFRE AMEAÇAS
Thums, que moveu ações contra o movimento no Sul, é levado a deixar linha de frente das investigações - José Meirelles Passos – O Globo
Gilberto Thums tratou de seguir a lei ao pé da letra. E por tal empenho se meteu numa enrascada. Procurador de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul, declarou guerra ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que considera uma organização ilegal. Buscou recursos legais apropriados, e sua última batalha resultou no fechamento das escolas itinerantes do MST em seu estado, a partir do último dia 3 de março. Há poucos dias, porém, o procurador percebeu que subestimara o inimigo. Viu-se, então, obrigado a um recuo tático, se afastando da linha de frente das causas. Teve de fazer isso, como afirma, por uma razão estratégica e também por uma questão se sobrevivência:
- É prudente eu sair de cena no momento. Cheguei longe demais. Recuo para preservar a minha vida - justificou, referindo-se às ameaças de morte que tem recebido.
Uma delas, segundo ele, por pouco não se concretizou dias atrás, quando sofreu uma tentativa de atropelamento em Porto Alegre. Não havia movimento de veículos quando ele se preparava para atravessar a rua. Só um Fiat estacionado nas proximidades, com alguém ao volante:
- Assim que comecei a cruzar a rua, o carro arrancou e veio para cima de mim. Se eu não tivesse preparo físico, teria sido esmagado - conta, dizendo não ter anotado a placa.
Sair da linha de frente significará basicamente uma mudança de estilo, não de substância. Thums evitará fazer declarações públicas sobre o MST. Ele confessa que, no calor das investigações, pecou ao calibrar os ataques. Como quando afirmou que o MST era um movimento guerrilheiro. O MST então utilizou o fato de ele ser descendente de austríacos para compará-lo a Adolf Hitler.
O procurador de 54 anos, formado pela UFRJ, vai continuar investigando o MST, mas sem assumir a causa:
- É uma demonstração de prudência. Saio da linha de frente mas, ao contrário do que andaram noticiando, não joguei a toalha. Não saio do caso. Não ficaria bem associar o Ministério Público às imagens que eu vinha usando. Agora vou permanecer nos bastidores, municiando colegas que vão levar adiante a nossa luta - disse Thums ao GLOBO.
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