Tudo pelo poder

A DESTRUIÇÃO DO ESTADO DEMOCRÁTICO

Os povos ou os países têm o governante que merecem porque são eles quem os elegem.

Lembro quando soube que Evo Morales havia vencido as eleições em 2005 e pensei: "Não sabem quem estão elegendo". Sendo assim, quase ninguém imaginou as consequências negativas que viriam para as regiões e os povos, particularmente para os cambas (povos da Bolívia oriental) da parte oriental do país que demandam autonomia.

Os masistas, indigenistas e comunistas alcançaram o poder estatal com o objetivo principal de destruir o que eles chamam de Estado republicano liberal, como tudo o que isso acarreta: suas instituições democráticas e jurídicas, porque para eles tudo o que até agora se fez para construir o estado de direito na Bolívia é "burguês", liberal ou neoliberal.

Na cabeça de García Linera, Chato Prada e outras das estrelas intelectuais que estão governando ao mais puro estilo do maquiavelismo do século 16, há outro processo político ideológico na cabeça: criar uma nova "casta de ricos e poderosos", mas que desta vez sejam indígenas, sobretudo aimaras, quechuas e cholos, que sejam apóstolos do nacionalismo, do socialismo e do indigenismo colla (pré-inca). - Por Gustavo Pinto Mosqueira


E isto que querem conseguir sem importar a eles se afundam o aparato produtivo das regiões, como o de Santa Cruz, se aumenta o desemprego e a atividade econômico informal (que hoje supera os 68% na Bolívia), se viola-se os direitos humanos colocando opositores na prisão como faz Fidel Castro, se aumentam as plantações de coca e o narcotráfico, se gera-se uma deflação em meio a uma crise econômica internacional.

Essa ambição de poder a qualquer custo, essa atitude de intolerância até os cambas , aos quais chamam de oligarcas, racistas.. com o fim de desprestigiá-los, como fazia Fidel Castro em Cuba quando alguém queria pensar diferente a sua Revolução, essa inautêntica vocação democrática que quer usar a democracia para se perpetuar no poder e assim moldar uma Constituição Política do Estado carregada de racismo indigenista... isso, e algo mais, explica por que o atual presidente da Bolívia se propõe a fazer uma greve de fome por um projeto de lei eleitoral transitória. Mesmo que ainda quando ele, diante das greves que fizeram os autonomistas do oriente boliviano para demandar 2/3 na Assembléia Constituinte realizada na Cidade de Sucre, nunca tenha respeitado essas greves e tenha dito que ainda bem que "as gordas do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz fizeram greve porque assim baixariam de peso" ou, então, que era greve "de mentira".

Enrique Finor, historiador camba, disse uma vez: "É preciso ser cholo e atuar como cholo para estar no poder na Bolívia". Se isso é certo, esta greve deve ser estendida para o contexto des-sa frase. Ali não há atitude democrática. Ali há "espírito monárquico". Gustavo Pinto Mosqueira,CIENTISTA SOCIAL BOLIVIANO - Jornal do Brasil





EVO MORALES NÃO COME PARA SE REELEGER
Presidente boliviano faz greve de fome para aprovar lei eleitoral. Medida é votada de surpresa

O presidente da Bolívia, Evo Morales, iniciou ontem uma greve de fome para pressionar o Congresso a aprovar uma nova lei eleitoral, que permitirá a realização de eleições gerais em 6 de dezembro. À noite, o partido do presidente aprovou o projeto de lei em primeira instância, numa sessão confusa e com parte da oposição fora.

— Diante da negligência de um grupo de parlamentares, fomos obrigados a realizar essa medida para defender o voto do povo — disse o presidente, que durante o jejum masca folhas de coca para aliviar a sensação de fome.

A nova Constituição, aprovada no referendo de janeiro e promulgada em fevereiro, prevê que o Congresso aprove um novo regime eleitoral transitório num prazo que venceu quarta-feira.

A lei eleitoral abriu uma nova frente de confronto entre governistas e opositores, com as principais divergências se centrando no padrão eleitoral, na reserva de 14 cadeiras para indígenas e no sistema de voto para bolivianos no exterior.

A greve de fome aumentou a tensão política no país. O ex-presidente e líder do partido Poder Democrático e Social (Podemos), Jorge Quiroga, chamou a greve de “dieta presidencial para encobrir a fraude”. Para a oposição, da forma como foi apresentado, o projeto de lei beneficia a reeleição de Morales.

— O desespero do governo o está levando a cometer um erro após o outro, procurando montar uma fraude maciça para continuar no governo e esconder a corrupção. Isso é a única coisa que interessa a Morales — afirmou Quiroga.

Segundo presidente do país a lançar mão de jejum Já o presidente da Assembleia Geral da ONU, o nicaraguense Miguel D’Escoto Brockmann, manifestou seu apoio ao presidente boliviano, “para que o Congresso aprove a lei que outorga maior representatividade aos setores mais desfavorecidos do país”. O deputado brasileiro Dr. Rosinha, que é vice-presidente do Parlamento do MERCOSUL (Parlasul), considerou que o ato de Morales é uma resposta à “atitude golpista” da oposição, contrária ao novo Código Eleitoral.

Ele disse que pretendia propor ao Parlasul uma discussão sobre a crise política boliviana.

À noite, o vice-presidente do país e presidente do Congresso, Álvaro García Linera, convocou repentinamente, após mais de 25 horas de debate, a votação. A medida foi aprovada em primeira instância, que ainda não é definitiva, depois que muitos opositores deixaram o Plenário.

Quando retornaram, vários opositores criticaram a estratégia e insultaram García Linera.

Morales não é o primeiro presidente boliviano a lançar mão da greve de fome. Por duas vezes, o presidente Hernán Siles Zuazo recorreu a isso. Em 1956, ele entrou em greve de fome para evitar a violência, numa época de hiperinflação e forte confronto com a Central Operária Boliviana (COB). Quase 30 anos depois, em 1984, em novo mandato, ele jejuou por quatro dias para protestar contra opositores e a COB que, segundo ele, não o deixavam governar. O Globo

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