Uma das funções desagradáveis de qualquer executivo é ter de cortar pessoas. Acontece. Faz parte de qualquer organização. Afinal, nem mesmo a Igreja Católica garante carreiras vitalícias a seus membros.
As causas das demissões são variadas e mais ou menos plausíveis. Podem ser os famigerados cortes de custos, que demonstram uma incapacidade de a empresa manter-se enxuta. Podem ser mudanças no mercado ou nos negócios, que exigem novas habilidades e competências imediatamente, não dando tempo de treinar as pessoas. Podem ser o cansaço com o cargo ou, nada implausível, diferenças pessoais. Incompatibilidade profissional é mais mortal para a relação do que incompetência, pois um chefe até que atura um subordinado mediano, mas não vai manter alguém que lhe causa volteios no fígado.
Assim como contratar, demitir é uma arte. Exceto em casos de flagrante delito, quando o cidadão foi pego com a boca na botija, com a mão na massa, demitir exige, no mínimo, respeito pela pessoa cujos serviços não são mais necessários.
Por tudo isso, a até agora inexplicada demissão do presidente do Banco do Brasil, Antonio Lima Neto, é um péssimo precedente para o mercado. Alegadamente, Lima Neto caiu porque se recusou a baixar o spread cobrado pelo BB nos empréstimos. Por Cláudio Gradilone da Revista Exame
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem até às 13 horas desta quarta-feira para encontrar uma boa justificativa para defenstrar um dos melhores presidentes que o BB já teve. Sob a gestão do funcionário de carreira Lima Neto, o BB não apenas comprou o Banco Votorantim, a paulista Nossa Caixa, o Besc de Santa Catarina e o Bep do Piauí, mas equiparou seu desempenho ao dos grandes bancos privados, de quem o BB costumada perder feio na corrida pela rentabilidade.
Cá para nós, acho pouco provável que o governo tenha boas razões para demitir Lima Neto, excetuando-se o fato de que é uma estratégia eleitoral, digo, governamental, baixar os juros dos empréstimos. Se o presidente do banco recomenda prudência, essa não é uma atitude eleitoral, digo, republicana. Demita-se o homem, portanto.
Claro, o bando de especuladores que forma o mercado está reagindo mal a tão clara necessidade republicana e as ações estão caindo quase 6%. Chegaram a cair mais de 8%, mandando o Índice Bovespa para o terreno negativo no fim da manhã.
Em tempo: isso prova que só há desalmados no mercado, que não estão apoiando o próximo presidente que, com certeza, tornará o BB um instrumento eficaz na manutenção do desenvolvimento e no apoio às classes mais favorecidas. Depois, daqui a alguns anos, injetem-se alguns bilhões de reais do meu, do seu, do nosso dinheiro para capitalizar o BB e não se fala mais nisso.
Para entender porque o que aconteceu no Banco do Brasil é um completo absurdo, vamos traçar um paralelo com a coisa mais dolorida que existe: tratamentos dentários. Pense em uma cidade pequena que tem poucos dentistas. Não há profissionais independentes, apenas duas clínicas dentárias.
Uma delas é uma clínica privada, que atende muito bem os pacientes, tem critérios rígidos de contratação de dentistas, mas que cobra tarifas doloridas.
A outra é uma clínica da prefeitura, que executa duas tarefas. Além de tratar dos dentes da galera, a clínica faz justiça social. Ela garante que os estudantes de odontologia que tiveram as piores notas da classe não fiquem sem emprego. Assim, ela não contrata os melhores dentistas, mas sim os mais merecedores de justiça social.
É uma atitude louvável. Mas, só uma perguntinha: em qual clínica você trataria os seus dentes? Aposto um tratamento de canal que sua escolha seria a clínica privada, e a justiça social da clínica concorrente que fosse à matroca.
O que essa história tem a ver com o BB? Tudo. O BB, assim como qualquer outro banco, não inventa dinheiro nem imprime dinheiro. Os bancos são apenas intermediários, que captam dinheiro de investidores e os repassam a tomadores de empréstimos, ganhando um percentual de diferença, o famigerado spread bancário, que é igual para todos os bancos.
Tudo bem, os lucros são quase exorbitantes, mas o fato é que todos os bancos concorrem no mesmo mercado. Se o Banco do Brasil resolver fazer justiça social e cobrar juros menores pelos empréstimos, tudo bem; mas ele terá, provavelmente, dificuldade em remunerar as aplicações de maneira competitiva com os seus concorrentes privados.
A contrapartida é abrir mão de uma significativa fatia dos lucros, pois ele vai estar comprando dinheiro caro e revendendo dinheiro barato, lucrando bem menos. Você investiria seu dinheiro nos CDB ou compraria ações de um banco que fizesse isso?
Não por acaso, as ações do BB despencaram no pregão desta quarta-feira, e deverão demorar para se recuperar. Há tempos o BB vinha fazendo um esforço hercúleo para melhorar não só sua comunicação com o mercado, mas também a imagem que os profissionais de mercado faziam dele. Atitudes mal-explicadas como a susbstituição do presidente Antonio Lima Neto agem nesses esforços como uma bem-treinada equipe de demolição.
Em tempo: O presidente da Força Sindical, senhor Paulo Pereira da Silva, comemorou a saída de Antônio de Lima Neto da presidência do Banco do Brasil.
- Lima Neto era um impedimento à redução dos spreads e dos juros no BB. Deixamos claro ao Lula que ficamos satisfeitos com a demissão porque parecia que o presidente Lula não mandava no BB, disse o senhor Paulo Pereira da Silva à Agência Estado.
Como diria um chefe de arte com quem trabalhei no século passado: a nível de banqueiro, o senhor Paulo Pereira da Silva é um ótimo sindicalista. Blogue do Investidor
Cláudio Gradilone - Jornalista, economista, ele escreve regularmente sobre investimentos e finanças pessoais.
COMO COMANDO ESTÁ RATEADO
PT e PMDB dominam sete das nove vice-presidências do Banco do Brasil
Aldemir Bendini, vice de Cartões e Novos Negócios de Varejo e futuro presidente do BB - É afilhado político do chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, um dos caciques do PT.
José Luís Prola Salinas, vice de Tecnologia e Logística - Foi indicação pessoal do deputado federal e presidente do PT, Ricardo Berzoini.
Luiz Oswaldo Sant’Iago de Souza, vice de Gestão Pessoal e Responsabilidade Social - É ligado aos movimentos sindicais e indicação pessoal do presidente Lula.
Milton Luciano dos Santos, vice de Varejo e Distribuição - Funcionário de carreira - chegou ao cargo com o apoio do PT e a força do presidente do partido, o deputado federal Ricardo Berzoini.
Adézio de Almeida Lima, vice de Crédito, Controladoria e Risco Geral - É ligado ao PT e tem como principais protetores o deputado federal e presidente do PT, Ricardo Berzoini, e Gilberto Carvalho.
Ricardo da Costa Flores, vice de Governo - Funcionário de carreira do banco - chegou ao cargo depois de aglutinar apoio dentro do PT e do PMDB.
Luís Carlos Pinto Guedes, vice de Agronegócio - Ex-ministro da Agricultura de Lula. Único dos vices que não é funcionário de carreira do banco. É ligado do PT e bem visto no PMDB.
Aldo Luiz Mendes, vice de Finanças, Mercado de Capitais e Relações com os Investidores - Sua nomeação foi considerada técnica e pode perder o cargo por ser muito ligado a Lima Neto.
José Maria Rabelo vice de Negócios Internacionais e Atacado - Indicação técnica e também pode perder o cargo por ser ligado ao presidente demitido do BB. - Ações do BB caem com politização
Informações do Correio Braziliense. Na foto: O novo presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, durante entrevista à imprensa para anúncio de mudanças na presidência da instituição
As causas das demissões são variadas e mais ou menos plausíveis. Podem ser os famigerados cortes de custos, que demonstram uma incapacidade de a empresa manter-se enxuta. Podem ser mudanças no mercado ou nos negócios, que exigem novas habilidades e competências imediatamente, não dando tempo de treinar as pessoas. Podem ser o cansaço com o cargo ou, nada implausível, diferenças pessoais. Incompatibilidade profissional é mais mortal para a relação do que incompetência, pois um chefe até que atura um subordinado mediano, mas não vai manter alguém que lhe causa volteios no fígado.
Assim como contratar, demitir é uma arte. Exceto em casos de flagrante delito, quando o cidadão foi pego com a boca na botija, com a mão na massa, demitir exige, no mínimo, respeito pela pessoa cujos serviços não são mais necessários.
Por tudo isso, a até agora inexplicada demissão do presidente do Banco do Brasil, Antonio Lima Neto, é um péssimo precedente para o mercado. Alegadamente, Lima Neto caiu porque se recusou a baixar o spread cobrado pelo BB nos empréstimos. Por Cláudio Gradilone da Revista Exame
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem até às 13 horas desta quarta-feira para encontrar uma boa justificativa para defenstrar um dos melhores presidentes que o BB já teve. Sob a gestão do funcionário de carreira Lima Neto, o BB não apenas comprou o Banco Votorantim, a paulista Nossa Caixa, o Besc de Santa Catarina e o Bep do Piauí, mas equiparou seu desempenho ao dos grandes bancos privados, de quem o BB costumada perder feio na corrida pela rentabilidade.
Cá para nós, acho pouco provável que o governo tenha boas razões para demitir Lima Neto, excetuando-se o fato de que é uma estratégia eleitoral, digo, governamental, baixar os juros dos empréstimos. Se o presidente do banco recomenda prudência, essa não é uma atitude eleitoral, digo, republicana. Demita-se o homem, portanto.
Claro, o bando de especuladores que forma o mercado está reagindo mal a tão clara necessidade republicana e as ações estão caindo quase 6%. Chegaram a cair mais de 8%, mandando o Índice Bovespa para o terreno negativo no fim da manhã.
Em tempo: isso prova que só há desalmados no mercado, que não estão apoiando o próximo presidente que, com certeza, tornará o BB um instrumento eficaz na manutenção do desenvolvimento e no apoio às classes mais favorecidas. Depois, daqui a alguns anos, injetem-se alguns bilhões de reais do meu, do seu, do nosso dinheiro para capitalizar o BB e não se fala mais nisso.
Para entender porque o que aconteceu no Banco do Brasil é um completo absurdo, vamos traçar um paralelo com a coisa mais dolorida que existe: tratamentos dentários. Pense em uma cidade pequena que tem poucos dentistas. Não há profissionais independentes, apenas duas clínicas dentárias.
Uma delas é uma clínica privada, que atende muito bem os pacientes, tem critérios rígidos de contratação de dentistas, mas que cobra tarifas doloridas.
A outra é uma clínica da prefeitura, que executa duas tarefas. Além de tratar dos dentes da galera, a clínica faz justiça social. Ela garante que os estudantes de odontologia que tiveram as piores notas da classe não fiquem sem emprego. Assim, ela não contrata os melhores dentistas, mas sim os mais merecedores de justiça social.
É uma atitude louvável. Mas, só uma perguntinha: em qual clínica você trataria os seus dentes? Aposto um tratamento de canal que sua escolha seria a clínica privada, e a justiça social da clínica concorrente que fosse à matroca.
O que essa história tem a ver com o BB? Tudo. O BB, assim como qualquer outro banco, não inventa dinheiro nem imprime dinheiro. Os bancos são apenas intermediários, que captam dinheiro de investidores e os repassam a tomadores de empréstimos, ganhando um percentual de diferença, o famigerado spread bancário, que é igual para todos os bancos.
Tudo bem, os lucros são quase exorbitantes, mas o fato é que todos os bancos concorrem no mesmo mercado. Se o Banco do Brasil resolver fazer justiça social e cobrar juros menores pelos empréstimos, tudo bem; mas ele terá, provavelmente, dificuldade em remunerar as aplicações de maneira competitiva com os seus concorrentes privados.
A contrapartida é abrir mão de uma significativa fatia dos lucros, pois ele vai estar comprando dinheiro caro e revendendo dinheiro barato, lucrando bem menos. Você investiria seu dinheiro nos CDB ou compraria ações de um banco que fizesse isso?
Não por acaso, as ações do BB despencaram no pregão desta quarta-feira, e deverão demorar para se recuperar. Há tempos o BB vinha fazendo um esforço hercúleo para melhorar não só sua comunicação com o mercado, mas também a imagem que os profissionais de mercado faziam dele. Atitudes mal-explicadas como a susbstituição do presidente Antonio Lima Neto agem nesses esforços como uma bem-treinada equipe de demolição.
Em tempo: O presidente da Força Sindical, senhor Paulo Pereira da Silva, comemorou a saída de Antônio de Lima Neto da presidência do Banco do Brasil.
- Lima Neto era um impedimento à redução dos spreads e dos juros no BB. Deixamos claro ao Lula que ficamos satisfeitos com a demissão porque parecia que o presidente Lula não mandava no BB, disse o senhor Paulo Pereira da Silva à Agência Estado.
Como diria um chefe de arte com quem trabalhei no século passado: a nível de banqueiro, o senhor Paulo Pereira da Silva é um ótimo sindicalista. Blogue do Investidor
Cláudio Gradilone - Jornalista, economista, ele escreve regularmente sobre investimentos e finanças pessoais.
COMO COMANDO ESTÁ RATEADO
PT e PMDB dominam sete das nove vice-presidências do Banco do Brasil
Aldemir Bendini, vice de Cartões e Novos Negócios de Varejo e futuro presidente do BB - É afilhado político do chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, um dos caciques do PT.
José Luís Prola Salinas, vice de Tecnologia e Logística - Foi indicação pessoal do deputado federal e presidente do PT, Ricardo Berzoini.
Luiz Oswaldo Sant’Iago de Souza, vice de Gestão Pessoal e Responsabilidade Social - É ligado aos movimentos sindicais e indicação pessoal do presidente Lula.
Milton Luciano dos Santos, vice de Varejo e Distribuição - Funcionário de carreira - chegou ao cargo com o apoio do PT e a força do presidente do partido, o deputado federal Ricardo Berzoini.
Adézio de Almeida Lima, vice de Crédito, Controladoria e Risco Geral - É ligado ao PT e tem como principais protetores o deputado federal e presidente do PT, Ricardo Berzoini, e Gilberto Carvalho.
Ricardo da Costa Flores, vice de Governo - Funcionário de carreira do banco - chegou ao cargo depois de aglutinar apoio dentro do PT e do PMDB.
Luís Carlos Pinto Guedes, vice de Agronegócio - Ex-ministro da Agricultura de Lula. Único dos vices que não é funcionário de carreira do banco. É ligado do PT e bem visto no PMDB.
Aldo Luiz Mendes, vice de Finanças, Mercado de Capitais e Relações com os Investidores - Sua nomeação foi considerada técnica e pode perder o cargo por ser muito ligado a Lima Neto.
José Maria Rabelo vice de Negócios Internacionais e Atacado - Indicação técnica e também pode perder o cargo por ser ligado ao presidente demitido do BB. - Ações do BB caem com politização
Informações do Correio Braziliense. Na foto: O novo presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, durante entrevista à imprensa para anúncio de mudanças na presidência da instituição
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