Crise derruba mais um grupo agrícola

GRUPO GUIMARAES, DE MATO GROSSO, ENTRA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Com uma dívida de R$ 278 milhões com bancos, factoring, fabricantes de máquinas agrícolas, indústrias de insumos e tradings, o Grupo Guimarães, de Mato Grosso, entrou em recuperação judicial esta semana. O grupo conseguiu na terceira vara da comarca de Lucas de Rio Verde, a 360 quilômetros de Cuiabá, a suspensão total de ações e execuções contra suas cinco empresas e oito sócios, além da retirada desses nomes das listas de restrições ao crédito e dos serviços de protestos. O pedido de recuperação judicial foi aprovado pelo juiz André Costa Gayva.

A recuperação inclui as revendas de máquinas da Massey Ferguson nos municípios mato-grossenses de Rondonópolis, Primavera do Leste, Paranatinga, Lucas do Rio Verde e Sorriso, além de Rio Verde, em Goiás. Entram também uma algodoeira, três fazendas com 28 mil hectares e um confinamento de gado com capacidade para até 73 mil bois.



De acordo com informações do advogado da ERS Consultoria, Euclides Ribeiro Junior, o grupo se comprometeu a apresentar, num prazo de 60 dias, um plano para pagar os credores em até 20 anos.

De acordo com o advogado, a fabricante de máquinas Massey Ferguson, para quem o grupo deve R$ 23 milhões, já teria acenado que vai continuar vendendo e dando as garantias e a assistência técnica necessária. O grupo deve também R$ 20 milhões para o fabricante de equipamentos Jacto, além de dívidas com indústrias agrícolas e a trading Noble.

Tanto o advogado como o controlador do grupo, o empresário Orcival Guimarães, afirmam que a situação chegou a esse limite "por causa da instabilidade do câmbio, da crise financeira e das dificuldades logísticas enfrentadas" pelas empresas do grupo, que atua na linha de produção, comercialização e transformação de produtos agropecuários. Fundado em 1981 no município de Rondonópolis, a 210 quilômetros de Cuiabá, como revendedora de máquinas usadas, o grupo tem hoje 350 funcionários. Antes da crise, eram 900. Fátima Lessa, CUIABÁ - O Estado de S. Paulo



FIESP CRITICA PASSIVIDADE DO GOVERNO
O governo está assistindo, passivo, a uma piora da situação dos exportadores, que poderá ter graves consequências para os níveis de emprego e para as contas externas, acusa o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca. Ele argumenta que vem crescendo o diferencial das taxas de juros do Brasil em relação a outros países, o que atrai capital especulativo para aplicações em renda fixa, provocando a desvalorização do dólar e minando a competitividade dos exportadores.

"Estamos tentando correr com pés amarrados, e o governo assiste isso de forma passiva, sem um apoio agressivo para fortalecer o exportador", queixa-se Giannetti. Ele defende que o BC reduza as taxas de juros mais agressivamente, para níveis como 6% a 7%, ou estabeleça "travas" de câmbio, com restrições à entrada de moeda estrangeira dirigida a aplicações de renda fixa. Entre as medidas possíveis, sugere o aumento de IOF para retirada de capital em curto prazo, ou uma "quarentena" na entrada de recursos estrangeiros. "O capital para a bolsa deve ser livre, porque tem risco, mas, com esse diferencial de juros, deixar entrada livre para aplicação em renda fixa é tirar doce de criança", afirma.

Giannetti reclama que o governo não vem comprando dólares em volume suficiente, nem reduzindo os juros na medida devida para ter efeito relevante sobre o mercado de câmbio. "A questão da valorização cambial está pegando agora, e pode enterrar fundo os sinais de recuperação que começaram no início do ano", diz o empresário, que é, também presidente da associação das indústrias exportadoras de carne, a Abiec.

A falta de acordo para passivos tributários, como a dívida do crédito-prêmio de IPI, causa bilionária em disputa na Justiça, também fragiliza a situação dos exportadores e dificulta ainda mais a obtenção de crédito, diz ele. "O financiamento foi anunciado pelo governo, mas não está chegando na ponta. Os bancos não confiam na capacidade de pagamento dos exportadores, e criam mais esse constrangimento às empresas."

Giannetti calcula que a indústria exportadora gere cerca de 10 milhões de empregos e que uma queda de 20% no desempenho do setor pode provocar uma redução equivalente de postos de trabalho. Para argumentar que não está fazendo terrorismo, dá exemplos de decisões recentes de redução de quadros de pessoal, como as demissões anunciadas pela Usiminas neste mês. (SL) – Valor Econômico


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