Desaba a renda do trabalhador

RENDA DOS TRABALHORES CAI PELO 4º. CONSECUTIVO

A renda real média do trabalhador nas seis principais regiões metropolitanas do país caiu pela quarta vez consecutiva -1,1% em maio em relação a abril. Para especialistas, o dado é fator de preocupação, ao lado da baixa abertura de novos postos e da desaceleração do emprego com carteira assinada. Já a taxa de desemprego de 8,8% apesar de estável em relação a abril (8,9%) é também a segunda menor já registrada em um mês de maio desde o início da série histórica, em 2002. - Folha de São Paulo


AS PREOCUPAÇÕES DA INDÚSTRIA
Já há sinais de recuperação, mas a economia brasileira deve encolher 0,4% neste ano, segundo as novas projeções da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Há três meses a estimativa era de crescimento nulo neste ano. O setor industrial é o mais afetado pela crise e sua produção deverá ser 3,5% menor que a do ano passado. Isso resultará principalmente da redução das exportações e de uma forte retração do investimento. Editorial O Estado de S. Paulo

Este cenário foi apresentado um dia depois de a própria CNI ter distribuído sua nova sondagem sobre expectativa de emprego. De acordo com o levantamento, os brasileiros mostram, hoje, menor receio de perder o emprego do que nos dois trimestres anteriores, quando o País esteve em recessão. A julgar pelo novo informe conjuntural, a contribuição da indústria para a criação de empregos deve ser muito modesta em 2009. Nos 12 meses terminados em abril, foram fechados 233 mil postos no setor de transformação e não se conhecem, por enquanto, sinais consistentes de melhora.

Segundo os últimos números do Ministério do Trabalho, a indústria de transformação criou apenas 700 dos 131.557 postos formais gerados no País entre janeiro e maio. No acumulado dos cinco meses, o setor fechou 146.478 postos. Nas seis áreas metropolitanas cobertas pela pesquisa mensal de emprego do IBGE, o número de pessoas ocupadas permaneceu estável, entre abril e maio, nos segmentos extrativo, de transformação e de distribuição de eletricidade, gás e água. Mas esse contingente foi 6% menor que o de maio do ano passado.

Estes dados são preocupantes por mais de uma razão. No Brasil, a indústria é a fonte mais importante de empregos de qualidade. Além disso, boa parte das vagas abertas nos demais setores, principalmente na agricultura, tem caráter sazonal e é, portanto, instável.

Pela avaliação dos técnicos da CNI, a economia brasileira só não encolherá mais, em 2009, porque o consumo privado deverá crescer 0,7% e o do governo, 3%. O investimento em máquinas, equipamentos e instalações deverá ser 9% menor que o de 2008. O comércio exterior também não puxará a produção, porque as exportações de bens e serviços devem diminuir 10% e as importações, 12%.

O investimento não avança, do lado privado, porque as indústrias têm elevada capacidade ociosa. Do lado público, o resultado fica abaixo de medíocre, porque o governo se tem revelado incapaz de realizar seus projetos. Na área governamental, salva-se a Petrobrás como executora de investimentos. A análise da CNI não entra em todos esses detalhes, mas apresenta uma descrição dramática da redução do investimento geral da economia. Do terceiro para o quarto trimestre do ano passado a queda foi de 9,3%. Do trimestre final de 2008 para o primeiro deste ano, de 12,6%, a maior registrada na atual série do IBGE, iniciada em 1996.

O custo do financiamento continua muito alto, apesar da redução da taxa básica de juros, e o crédito à indústria ainda não está normalizado, segundo o informe. A expansão tem-se concentrado nos empréstimos às pessoas físicas.

Além disso, a indústria enfrenta neste ano condições excepcionalmente desfavoráveis no mercado internacional. A contração da demanda externa já tornaria mais dura as condições de competição, mas, além disso, os produtores brasileiros ainda são afetados pela valorização cambial. A valorização do real, segundo os autores do relatório, "exige ações mais efetivas para a superação das desvantagens competitivas ocasionadas por disfunções características da economia brasileira". Em outras palavras, obstáculos como o excesso de impostos e o crédito caro ficam ainda mais nocivos ao poder de competição do produtor nacional quando o dólar se torna barato.

Com os dados conhecidos até agora, não se pode chamar de pessimista a avaliação dos técnicos da CNI. Eles não negam os sinais de recuperação e sua previsão para o PIB é ligeiramente mais favorável que a da pesquisa Focus do Banco Central (redução de 0,57%). Mas só uma reativação muito mais forte, segundo argumentam, permitiria fechar 2009 com uma produção média igual à do ano anterior. As disfunções da economia brasileira tornam muito difícil esse resultado. Velhos erros aumentam o custo da crise.



QUEDA DA ARRECADAÇÃO E AUMENTO DE GASTOS PÚBLICOS DEIXAM AS CONTAS NO VERMELHO
A queda brutal das receitas tributárias - combinada com o aumento das despesas - provocou em maio o primeiro déficit primário das contas do Governo Central (Tesouro, INSS e Banco Central) para esse mês, desde 1999. Entre abril e maio, as contas saíram de um superávit de R$ 10 bilhões e fecharam no vermelho, com resultado negativo de R$ 120,2 milhões.

Em apenas um mês, as receitas despencaram R$ 6,5 bilhões, refletindo tanto o impacto da desaceleração econômica quanto as desonerações tributárias adotadas contra a crise. Já as despesas continuaram elevadas, com a folha do funcionalismo mais gorda depois de vários reajustes salariais.

De janeiro a maio, as despesas cresceram 18,6%, enquanto as receitas caíram 0,85% ante o mesmo período do ano passado. As despesas com pessoal avançaram em velocidade ainda maior: 22,6%. Os gastos com custeio da máquina também cresceram acima da média das outras despesas, de 23%.

O resultado dessa conta desequilibrada foi uma queda de 64% do superávit do Governo Central, que é a economia que o governo faz para reduzir seu nível de endividamento. O superávit caiu R$ 34,17 bilhões, passando de R$ 53,45 bilhões em 2008 para R$ 19,28 bilhões este ano. O esforço fiscal no período recuou de 4,68% para 1,63% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 12 meses até maio, o superávit caiu para 1,27% do PIB, ficando, portanto, abaixo da meta de 1,4% fixada para o ano. Por Adriana Fernandes e Renata Veríssimo, O Estado de S. Paulo

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