O terrorismo entra em pauta

Portaria assinada pelo general Felix mostra muita insistência para preocupação tão ausente no governo, segundo Tarso.

Quinze dias depois de negadas pelo ministro Tarso Genro, da Justiça, a prisão em São Paulo de um libanês apontado como integrante da Al Qaeda e, mais ainda, quaisquer preocupações do governo em relação a terroristas, o Gabinete de Segurança Institucional criou na Presidência da República um núcleo interministerial destinado a "prevenção e combate ao terrorismo".

A portaria 22, de 9 de junho, assinada pelo general Jorge Felix, ministro do Gabinete, entrou em vigor ao ser publicada ontem no "Diário Oficial da União". "Al Qaeda no Brasil" foi aqui publicado em 26 de maio. Por Janio de Freitas


Em dois artigos e cinco itens, e com bastante redundância, as atribuições do Núcleo do Centro de Coordenação das Atividades de Prevenção e Combate ao Terrorismo distribuem-se a partir da finalidade de "acompanhamento de assuntos pertinentes ao terrorismo internacional e de ações" para "a sua prevenção e neutralização". O que implicará a discussão de "políticas, estratégias, programas e atividades de prevenção e combate ao terrorismo". Assim como a organização de subsídios para "avaliação" do "risco de ameaça terrorista".

Tudo isso, como já ficou claro, para formular propostas de "políticas estratégias e programas" de "ação integrada dos órgãos governamentais de prevenção e neutralização do terrorismo".

Convenhamos que é muita insistência nas mesmas atribuições para preocupação tão ausente no governo, segundo Tarso Genro. O núcleo será integrado pelos representantes do Ministério da Justiça, o que sugere Polícia Federal; e dos ministérios das Relações Exteriores e da Defesa "à disposição do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência".

O governo pode argumentar, a propósito, que adota providências preventivas, como é de seu dever diante de realidades problemáticas. Mas não pode negar que foi excessivo e desorganizado na inverdade das suas negaças e sigilos de preocupação com presenças colaterais do terrorismo. E, ainda pior, não pode negar que a desorientação e retardo injustificável estão atestados na portaria que só a esta altura é emitida. Agora em que, com toda a certeza, já existe até conhecimento de mais do que o caso paulista publicamente registrado.

Começar a esta altura a discussão organizada de um assunto capaz, há tanto tempo, de expor o país a agudas reações e acusações externas é, para dizer o mínimo, uma reprovação explícita dos ministérios da Justiça e da Defesa.

Correção
Por falar em Ministério da Defesa, Nelson Jobim explicou a repórteres que seu colega José Paulo Sepúlveda Pertence lhe atribuiu "costas de crocodilo" porque "nunca se abalou com críticas, não tem problema nenhum". E, para melhor explicação de si mesmo: "Eu não me emociono". Então, não é nas costas que está a identidade com crocodilos. - Folha de S. Paulo

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