Resultado do IBGE revela o 'pior tipo de desemprego'

Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Instituto Brasileiro de Relações de Emprego e Trabalho (Ibret), diz que a queda na taxa de desemprego apontada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não deve ser comemorada. O indicador recuou para 8,1% em junho, depois de ter atingido 8,8% em maio, porque as pessoas desistiram de procurar emprego. "Esse resultado revela o pior tipo de desemprego: o desemprego oculto pela desesperança de procurar emprego." A seguir os principais trechos da entrevista.

A taxa de desemprego de junho do IBGE surpreendeu? Por Márcia De Chiara

Sim. Esse resultado mostra que está havendo uma espécie de estagnação no mercado de trabalho. Ele parou de receber novos entrantes na População Economicamente Ativa (PEA). Veja que coisa engraçada: o número de ocupados cresceu 200 mil em junho ante maio e o número de desempregados diminuiu 200 mil no mesmo período. É por isso que diminuiu o desemprego. Porque ninguém mais chegou para procurar emprego. Essa é a surpresa.

Nesse contexto, a queda da taxa de desemprego não é favorável?
Ela indica o pior tipo de desemprego: o desemprego oculto pelo desalento, pela desesperança de procurar emprego.

A queda deve ser comemorada?
Um copo de água cheio pela metade pode ser visto de duas maneiras. Um jeito de você olhar é: temos 200 mil empregos a mais em relação ao mês passado. Por outro lado, isso é muito pouco.

Por essa análise o sr. não vê alguma melhoria?
Vejo um congelamento. Quando você analisa onde o emprego cresceu, vê que aumentou nos serviços públicos: educação, saúde, serviços sociais e administração pública.

O emprego cresceu patrocinado pelo governo?
Aparentemente são as atividades ligadas ao governo. Todas as outras (serviços privados, indústria, etc) estão estáveis em relação ao mês anterior. Não há crescimento novo. O único crescimento novo ocorre nos serviços públicos. O emprego no funcionalismo público e entre os militares cresceu 4% no mês.

Esse resultado faz parte das medidas anticíclicas do governo?
Provavelmente. Não é que isso esteja errado, mas o emprego no setor privado ainda não está dando sinal de melhora. É como eu disse: o copo está meio cheio e meio vazio, parou de diminuir e já é alguma coisa. Mas não retomou e congelou. Há duas maneiras de uma pessoa deixar de ser considerada tecnicamente desempregada: achar um emprego ou desistir de procurá-lo. Pelo jeito, o que está acontecendo em maior escala hoje é a segunda opção.

Qual é a tendência para o emprego?
Não tenho bola de cristal. Imagino que, daqui para frente, haja melhora. O que se pode dizer é que a atividade precisa melhorar em todas as dimensões para depois se refletir no aumento do emprego. A decisão de contratar é sempre tardia. O empresário precisa ter muita certeza para voltar a admitir. O Estado de S. Paulo



SEGURO-DESEMPREGO BATE RECORDE
Governo paga R$ 9,9 bi a demitidos no primeiro semestre, 41% mais que no mesmo período de 2008

Ministério do Trabalho estima que 4,1 mi de pessoas tenham pedido benefício; saques do FGTS crescem 24,6% e somam R$ 24,8 bi

O gasto com seguro-desemprego no primeiro semestre foi o maior desde o início do governo Lula, segundo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Outro efeito colateral do fechamento de postos de trabalho no auge da crise foi a piora no saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) nos seis primeiros meses deste ano.

De janeiro a junho, os saques do seguro-desemprego somaram R$ 9,9 bilhões, o que representa aumento de 41% sobre o primeiro semestre do ano passado. O ministério calcula que 4,1 milhões de pessoas tenham sacado o benefício nos seis primeiros meses deste ano.

O ministro do Trabalho vê um lado bom no que classificou de recorde dos saques de seguro-desemprego deste governo. "Isso é muito positivo. É mais dinheiro injetado na economia. Quando o trabalhador [demitido] recebe esse dinheiro, ele compra."

Lupi explicou que as pessoas demitidas em dezembro -mês que concentrou o maior número de dispensas durante a crise- começaram a sacar o seguro-desemprego a partir de janeiro. Por isso, o elevado fechamento de postos de trabalho no fim do ano passado se traduziu em maior gasto de recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) neste ano.

Somente em dezembro de 2008 o Ministério do Trabalho contabilizou que foram fechados 655 mil postos de trabalho a mais do que foram criados. No primeiro semestre deste ano, esse saldo é positivo, com a criação de 300 mil empregos a mais do que as demissões.

O ministro lembrou, ainda, que o governo aumentou o número de parcelas do seguro-desemprego para cerca de 300 mil trabalhadores. Também influenciou no valor dos saques o reajuste do salário mínimo.

Com a piora do mercado de trabalho no início deste ano, o resultado de receitas menos despesas do FAT piorou 70%. No primeiro semestre do ano passado, o balanço foi de R$ 5,695 bilhões. Nos seis primeiros meses deste ano, foi de R$ 1,708 bilhão.

Além das despesas mais altas com seguro-desemprego, a arrecadação líquida do FAT caiu 7%, para R$ 16,37 bilhões. Desse valor, o governo ainda emprestou R$ 4,38 bilhões para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

FGTS
As contas do FGTS também sofreram os efeitos da crise internacional. De janeiro a junho deste ano, foram sacados R$ 24,83 bilhões, valor 24,6% maior que o do mesmo período do ano passado.

Os saques são efetuados por pessoas que perderam o emprego. Também podem retirar o dinheiro da conta do FGTS aqueles trabalhadores que querem comprar a casa própria ou em casos de morte e de algumas doenças graves. O saldo do FGTS está positivo em R$ 2,303 bilhões no primeiro semestre -depois de subtrair os saques da arrecadação de R$ 27,136 bilhões.

Em março, o saldo ficou negativo em R$ 440 milhões. Lupi justificou que esse foi o mês em que o FGTS liberou R$ 1,3 bilhão para Santa Catarina, quando o Estado entrou em calamidade pública devido às fortes chuvas. Folha de São Paulo

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