As terras do petroleiro

PATRIMÔNIO DE EX-SINDICALISTA COM CARGO NA ESTATAL CRESCEU 4.000% EM SEIS ANOS

Ex- dirigente do sindicato da Federação Única dos Petroleiros (FUP), o gerente de Recursos Humanos da Petrobras, Diego Hernandes, vive hoje, aos 51 anos, despreocupado com dinheiro. Documentos obtidos pelo Estado de Minas e Correio Braziliense em cartórios e órgãos públicos de São Paulo mostram que o patrimônio de Hernandes, que até o início da década tomava o trem superlotado para fazer piquetes nas portas de refinarias no interior paulista, aumentou em cerca de 4.000% em seis anos. Por Amaury Ribeiro Jr

De acordo com a papelada, desde 2003, quando passou a ocupar cargos estratégicos na estatal, Hernandes comprou 680 hectares de terras no município de Jales, região noroeste de São Paulo. Avaliadas pelos funcionários de cartórios e corretores da região pelo preço mínimo de R$ 11 milhões, as dezenas de propriedades rurais foram anexadas em uma única propriedade: a Fazenda São Lucas. Localizada a cerca de 10 quilômetros de Jales, a propriedade é cortada estrategicamente pela Estrada do Boi, que liga a cidade a Araçatuba. Arrendada a usineiros, as terras do ex-sindicalista estão tomadas de canaviais.

A incursão imobiliária do ex-sindicalista — que após ocupar o cargo de chefe de gabinete do ex-presidente da Petrobras Eduardo Dutra mudou-se para apartamento na Zona Sul do Rio — também se expandiu para a área urbana. Além de comprar três terrenos na região central de Jales, avaliados em R$ 150 mil cada, Hernandes fundou em 2003, em companhia de um grupo de primos da região do ABC Paulista, uma empresa de equipamentos médicos, a Implalife Produtos Odontológicos. Construída em terreno de 6 mil metros quadrados doado pela prefeitura de Jales, administrada pelo PT, o prédio, decorado com vidros brilhantes em uma das principais avenidas do município, está avaliado em R$ 1 milhão.

Hernandes teve ainda fôlego para investir R$ 300 mil na sede da Fazenda São Lucas e R$ 400 mil em fundos de renda fixa do Banco do Brasil. Com base nisso, o patrimônio de Hernandes chega hoje, no mínimo, a R$ 13 milhões, bem distantes dos cerca de R$ 300 mil em bens que o sindicalista possuía em 2002, um ano antes de ocupar cargos estratégicos na estatal.

Embora tenha adquirido esse amontoado de imóveis, Hernandes declarou à Receita Federal no ano passado possuir patrimônio de R$ 1,4 milhão. Documentos e depoimentos mostram que, a fim de esconder o patrimônio, o ex-sindicalista registra os imóveis com valores abaixo dos de mercado. Além disso, coloca parte das fazendas e imóveis urbanos em nome dos irmãos Walter Hernandes e Manoel Hernandes, pequenos sitiantes de Jales que até pouco tempo ganhavam a vida como camelôs. Manoel morreu no início deste ano, vítima de câncer. De acordo com corretores e funcionários de cartório, Manoel, antes de morrer, procurou um advogado para fazer um inventário transferindo as terras ao irmão Diego, que já era de fato o dono dos terrenos.

Vidraça Ao assumir cargos estratégicos na Petrobras e em órgãos públicos administrados pelo PT, Diego Hernandes, que comandou várias greves de petroleiros em São Paulo, passou de estilingue a vidraça. Hernandes — que no passado defendia a ocupação de refinarias — tornou-se inimigo de parte dos movimentos sindicais. Em 2007, aposentados fizeram enterro simbólico dele durante manifestação por melhores salários no Rio.

Trânsito político
Além de trocar os botequins dos arredores do Sindicato dos Petroleiros de Mauá por restaurantes sofisticados da Zona Sul do Rio, Hernandes passou nos últimos anos a transitar no meio político. Em 2003, ocupou o cargo de assessor da presidência da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo no governo Marta Suplicy. No mesmo ano, começou a ir frequentemente a Jales, quando o petista Humberto Parini foi eleito e parte das obras da prefeitura passaram a ser financiadas pela Petrobras. Em 2006, doou R$ 25 mil à candidatura ao Senado de José Eduardo Dutra (PT-SE). No ano seguinte, deu R$ 3 mil à candidata a vereadora do Rio Maria Naustria.

Desmentido via Petrobras
A reportagem tentou contato com Daniel Hernandes. Nos telefones de casa, não obteve retorno. Quando tentou via Petrobras, foi instruída a mandar as perguntas por e-mail. A estatal, por meio da assessoria de imprensa, não deu explicações sobre o tamanho e o valor da fazendas de Diego Hernandes na região de Jales. Em nota, informa apenas que Hernandes não possui terras avaliadas em R$ 13 milhões. A Petrobras nega ainda que Hernandes tenha colocado parte das posses em nome dos irmãos Walter e Manoel. Por telefone, a assessoria informou que Hernandes possuía apenas pequenos lotes na cidade do interior paulista.

Ao serem informados que o EM/Correio tinha documentos comprovando o contrário, os assessores comentaram que as terras não valeriam R$ 13 milhões. A estatal nega, ainda, que Diego tenha sonegado à Receita o valor real dos imóveis rurais. Correio Braziliense

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