Parece que foi há muitos séculos, e no entanto faz menos de 20 anos. No começo de 1990, já não era numericamente desprezível o bloco dos senadores cujo prontuário implora por longas temporadas na cadeia, em regime de estudos forçados. Mas havia vida inteligente e homens de bem no Senado. Os melhores e os mais capazes conseguiam, simultaneamente, enquadrar os imbecis sem remédio, manter os delinquentes sob estreita vigilância, conduzir a instituição e garantir-lhe a independência. Eles sabiam remover tumores que colocassem em risco valores morais irrevogáveis. Nada a ver com a Casa do Espanto que Lula criou e o clube dos cafajestes agora administra. Por Augusto Nunes
O presidente nem tentaria fazer em 1990 o que anda fazendo há meses com um Senado em estado terminal. Mesmo que tivesse atingido os 103% de popularidade prometidos pelos institutos de pesquisa, logo saberia com quem estava falando. O mais loquaz dos governantes perderia a fala no segundo minuto de conversa com Afonso Arinos ou Roberto Campos. O capitão-do-mato não iria além da primeira grosseria se o aliado fosse Darcy Ribeiro. O palanqueiro debochado não se atreveria a insultar oposicionistas como Mário Covas ou Franco Montoro.
É por saber com quem está falando que Lula humilha antigos companheiros e ofende adversários. Sabujice não inspira respeito. Não se teme o revide que não virá. É por saber com quem está lidando que Lula abençoa a base alugada com salvo-condutos, absolvições sumárias, agrados retóricos e presentes em dinheiro. Não há um acordo político entre o ex-sindicalista que ficou moderno e os velhos oligarcas que se tornaram menos antigos. O que houve foi um acerto entre um presidente deslumbrado e gente que se alia a qualquer governo para manter-se no poder e ganhar muito dinheiro com a corrupção institucionalizada.
Quem acompanhou na terça-feira o depoimento de Lina Vieira e, nesta quarta, a sessão do Conselho de Ética viu em ação um bando fora-da-lei, esbanjando truculência e cinismo no cumprimento de missões confiadas pelo chefe. A quadrilha do faroeste subjugou o lugarejo. O presidente honorário é José Sarney. Paulo Duque comanda o Conselho de Ética. Romero Jucá lidera a bancada do governo e é o relator da CPI da Petrobras presidida pelo suplente amazonense. Renan Calheiros chefia a base alugada. Fernando Colllor comanda uma comissão. Abjeções como Wellington Salgado e Almeida Lima aceitam qualquer encomenda. Tudo parece dominado.
O PT foi reduzido por Lula a duas consoantes descartáveis. A líder do governo no Congresso é Ideli Salvatti, um berreiro à procura de uma ideia. O líder da bancada é Aloízio Mercadante, promovido a Herói da Rendição por atos de bravura em defesa de capitulações ultrajantes. Nesta semana, constatou-se que aprendeu com Eduardo Suplicy a fazer de conta que acha intragável o que não para de engolir.
Para fazer de conta que não gostou da absolvição de Sarney, crime que ajudou a tramar por ordem de Lula, colocou o cargo à disposição da bancada. O cargo sempre esteve, está e estará à disposição da bancada. Quem finge não saber disso topa qualquer negócio para ficar. Quem quer sair se demite ─ e em caráter irrevogável. Por acharem que há limite para tudo (e por lembrarem que a eleição vem aí), os senadores Flávio Arns e Marina Silva deixaram o partido. Os que permanecerem no rebanho pastoreado pela quadrilha são comparsas.
O Senado em decomposição ensina que só os cretinos sem cura e os farsantes juramentados dividem o Brasil em esquerda e direita, soldados do povo e carrascos da elite. O que se vê é um país que acredita na democracia, ama a liberdade e respeita a lei ameaçado pela ofensiva do primitivismo. Para os dirceus e berzoinis, os burgueses malandros são apenas companheiros de viagem que encurtam o caminho que conduz ao paraíso socialista. Para os renans e jucás, os comunistas de araque são apenas os sócios do momento. Os casos para psiquiatra e os casos de polícia só acham antiético perder a eleição e a gazua. Todos têm como objetivo comum o arrombamento dos cofres federais.
É hora de cortar-lhes o avanço. O general parece invencível? A tropa parece crescer em tamanho e agressividade? A maioria parece satisfeita com a vida não vivida? Não importa. Movimentos de resistência nunca tomam forma no ventre da multidão. Não é preciso nascer grande para ter força. Basta ter razão. SEÇÃO » Direto ao Ponto – Revista Veja
O presidente nem tentaria fazer em 1990 o que anda fazendo há meses com um Senado em estado terminal. Mesmo que tivesse atingido os 103% de popularidade prometidos pelos institutos de pesquisa, logo saberia com quem estava falando. O mais loquaz dos governantes perderia a fala no segundo minuto de conversa com Afonso Arinos ou Roberto Campos. O capitão-do-mato não iria além da primeira grosseria se o aliado fosse Darcy Ribeiro. O palanqueiro debochado não se atreveria a insultar oposicionistas como Mário Covas ou Franco Montoro.
É por saber com quem está falando que Lula humilha antigos companheiros e ofende adversários. Sabujice não inspira respeito. Não se teme o revide que não virá. É por saber com quem está lidando que Lula abençoa a base alugada com salvo-condutos, absolvições sumárias, agrados retóricos e presentes em dinheiro. Não há um acordo político entre o ex-sindicalista que ficou moderno e os velhos oligarcas que se tornaram menos antigos. O que houve foi um acerto entre um presidente deslumbrado e gente que se alia a qualquer governo para manter-se no poder e ganhar muito dinheiro com a corrupção institucionalizada.
Quem acompanhou na terça-feira o depoimento de Lina Vieira e, nesta quarta, a sessão do Conselho de Ética viu em ação um bando fora-da-lei, esbanjando truculência e cinismo no cumprimento de missões confiadas pelo chefe. A quadrilha do faroeste subjugou o lugarejo. O presidente honorário é José Sarney. Paulo Duque comanda o Conselho de Ética. Romero Jucá lidera a bancada do governo e é o relator da CPI da Petrobras presidida pelo suplente amazonense. Renan Calheiros chefia a base alugada. Fernando Colllor comanda uma comissão. Abjeções como Wellington Salgado e Almeida Lima aceitam qualquer encomenda. Tudo parece dominado.
O PT foi reduzido por Lula a duas consoantes descartáveis. A líder do governo no Congresso é Ideli Salvatti, um berreiro à procura de uma ideia. O líder da bancada é Aloízio Mercadante, promovido a Herói da Rendição por atos de bravura em defesa de capitulações ultrajantes. Nesta semana, constatou-se que aprendeu com Eduardo Suplicy a fazer de conta que acha intragável o que não para de engolir.
Para fazer de conta que não gostou da absolvição de Sarney, crime que ajudou a tramar por ordem de Lula, colocou o cargo à disposição da bancada. O cargo sempre esteve, está e estará à disposição da bancada. Quem finge não saber disso topa qualquer negócio para ficar. Quem quer sair se demite ─ e em caráter irrevogável. Por acharem que há limite para tudo (e por lembrarem que a eleição vem aí), os senadores Flávio Arns e Marina Silva deixaram o partido. Os que permanecerem no rebanho pastoreado pela quadrilha são comparsas.
O Senado em decomposição ensina que só os cretinos sem cura e os farsantes juramentados dividem o Brasil em esquerda e direita, soldados do povo e carrascos da elite. O que se vê é um país que acredita na democracia, ama a liberdade e respeita a lei ameaçado pela ofensiva do primitivismo. Para os dirceus e berzoinis, os burgueses malandros são apenas companheiros de viagem que encurtam o caminho que conduz ao paraíso socialista. Para os renans e jucás, os comunistas de araque são apenas os sócios do momento. Os casos para psiquiatra e os casos de polícia só acham antiético perder a eleição e a gazua. Todos têm como objetivo comum o arrombamento dos cofres federais.
É hora de cortar-lhes o avanço. O general parece invencível? A tropa parece crescer em tamanho e agressividade? A maioria parece satisfeita com a vida não vivida? Não importa. Movimentos de resistência nunca tomam forma no ventre da multidão. Não é preciso nascer grande para ter força. Basta ter razão. SEÇÃO » Direto ao Ponto – Revista Veja
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