Golpe (eleitoral) contra a agricultura

Empenhado em ganhar as próximas eleições a qualquer custo, o presidente Lula decidiu recrutar para a campanha os desordeiros do MST.

Para garantir seu apoio, planeja golpear um dos setores mais produtivos e estrategicamente mais importantes da economia brasileira, o agronegócio. Para isso, o presidente exigiu de seus ministros a apresentação, nas próximas duas semanas, dos novos índices de produtividade usados como critério para a desapropriação de terras. A intenção é clara. O comando eleitoral do Palácio do Planalto não está interessado em produtividade. Se estivesse, daria mais apoio a quem realmente produz e já demonstrou vocação para modernizar a própria atividade e competir entre os melhores do mundo. O agronegócio brasileiro assusta os concorrentes da Europa, dos Estados Unidos e das maiores economias do resto do mundo por sua capacidade competitiva. No centro do governo, é acusado de improdutivo e de não respeitar a "função social" da propriedade agrícola. O Estado de São Paulo

Se perguntarem ao presidente Lula por que ele prometeu aos dirigentes do MST a renovação dos tais índices de produtividade, ele não poderá fornecer nenhuma resposta razoável, porque nenhuma resposta desse tipo estará disponível. Não há, no Brasil, nenhum déficit na produção e na oferta de alimentos. A agropecuária brasileira tem sido capaz, há muitos anos, de produzir muito mais que o necessário para o consumo interno. Se é preciso complementar a oferta de algum produto, como o trigo, a receita de exportação gerada pelo setor é muito mais que suficiente para financiar a compra. De janeiro a julho deste ano, as exportações do agronegócio renderam US$ 37,73 bilhões, enquanto as importações consumiram apenas US$ 5,88 bilhões.

Esse bom resultado, um superávit de US$ 31,85 bilhões, sustentou o saldo comercial brasileiro e contribuiu de forma importante para o País enfrentar a crise sem abalo nas contas externas. Num cenário adverso, com a procura externa retraída e as condições de concorrência muito mais duras, o agronegócio brasileiro mais uma vez mostrou sua eficiência. Ninguém condenou a indústria por trabalhar, desde o agravamento da crise, bem abaixo de sua capacidade produtiva, como observou a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO). Nem haveria por que censurar. Mas querem cobrar da agropecuária índices de produtividade impostos pela burocracia de Brasília, em qualquer condição econômica e sem nenhum benefício para o País, porque não falta comida - barata - nem matérias-primas de origem agrícola.

O objetivo de Lula não é, obviamente, cuidar dos interesses da economia brasileira. Não é preciso mexer na posse da terra - e ele sabe disso - para abastecer o mercado nacional nem para tornar competitivo o produto brasileiro. Os verdadeiros produtores, grandes, médios e pequenos, têm cuidado de todos esses pontos, com o esforço próprio, com a ação da Embrapa (quase destruída, há alguns anos, pela intervenção petista) e com algum apoio do Ministério da Agricultura. O objetivo presidencial, por exclusão, só pode ser eleitoral. Não por acaso a decisão de Lula foi anunciada depois de 3 mil pessoas arrebanhadas pelo MST montarem acampamento e promoverem manifestações e desordens em Brasília. Bem tratados pela demagogia presidencial, serão convertidos em tropas de choque para atuar na campanha eleitoral coordenada por Lula, o chefe de fato do PT.

Segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário, Gustavo Cassel, só tem de se preocupar com os novos índices quem não se preocupa com a produção. Isso é retórica de quinta categoria. Quem menos se preocupa com produtividade e bom uso da terra é o seu Ministério. Se houvesse alguma seriedade na chamada "política agrária", a próxima iniciativa deveria ser um reexame dos objetivos da "reforma" e de sua utilidade para o Brasil. O resultado de um exame honesto seria facilmente previsível: o único objetivo da política atual é a manutenção de massas de manobra disponíveis para servirem a quem as financia. O financiamento, a propósito, é feito com dinheiro público. Cabe ao ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, denunciar mais essa perigosa farsa da "política agrícola". Sua omissão será desmoralizante.
Opinião



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Se antes a preocupação da sociedade brasileira, com os métodos de atuação do MST se referia ao desrespeito sistemático aos direitos de propriedade praticado por essa entidade, agravado pelos lances de violência que marcam suas mobilizações, de uns tempos para cá há preocupação quanto aos desvios de dinheiro público, especialmente através da "parceria" INCRA/MST.

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