O país que absolve o culpado e pune a vítima mostra a cara na TV

Horas antes do começo da sessão do Supremo Tribunal Federal que acaba de inocentar Antonio Palocci, o caseiro desempregado Francenildo Costa continuava pouco animado com a ideia de assistir ao julgamento. Ainda não viu a cor do dinheiro que a Caixa Econômica terá de pagar-lhe pela quebra ilegal do sigilo bancário. Teria de arrumar um terno. E desconfiava de que a coisa iria dar em nada.”Eles sempre se ajudam”, previu. Esse ceticismo vem sendo alimentado faz dois anos e meio. Desde março de 2006, quando o crime ocorreu, Francenildo colhe sucessivas evidências de que o Brasil já não se limita a absolver pecadores. Também pune inocentes. Por Augusto Nunes

Por ter contado que Palocci aparecia com frequência na mansão suspeitíssima que jurou não conhecer, o caseiro da “República de Ribeirão Preto” perdeu o emprego, o sossego, a mulher e a chance de conseguir trabalho fixo em Brasília. Continue lendo aqui, – Revista Veja


BINGO
Petista amigo do presidente há mais de trinta anos, Okamotto escapou da quebra de seu sigilo bancário durante a esquecida CPI dos Bingos. Por Cláudio Humberto


MARCO AURÉLIO VIU AÇÃO PARA DESQUALIFICAR NILDO
Autor do mais longo e enfático voto a favor da abertura do processo criminal contra o deputado Antonio Palocci (PT-SP), o ministro Marco Aurélio Mello afirmou durante o julgamento de ontem no STF que ficou claro que a quebra do sigilo bancário e a divulgação dos dados para a imprensa tiveram o objetivo de desqualificar o caseiro Francenildo dos Santos Costa.

"Os indícios são mais do que suficientes a ter-se a sequência da ação penal", afirmou Marco Aurélio. "Não tenho como não proceder à imputação quanto ao deputado Antonio Palocci, mas proceder quanto a Jorge Mattoso", disse o ministro. "Vislumbro aqui uma estratégia. Posso imaginar que se sustentará que aquele que levantou os dados simplesmente cumpriu o dever. Espero que esse cumprimento do dever não frutifique."

Ele ressaltou que o encontro entre Mattoso e Palocci para a suposta análise dos dados bancários de Francenildo ocorreu após o expediente. Segundo Marco Aurélio, presume-se que o ex-ministro "seja uma pessoa preocupada com as finanças do País, e não com as do caseiro".

Também a favor do recebimento, o ministro Carlos Ayres Britto falou sobre a origem do caseiro. "Esse caso é emblemático porque envolve um cidadão comum do povo, um homem simples, que teve a coragem de revelar o que lhe parecia desvio de comportamento de pelo menos uma autoridade do primeiro escalão", disse. A ministra Cármen Lúcia também votou pela abertura da ação contra Palocci. Por Mariângela Gallucci - Estado de S. Paulo

Nenhum comentário: