PARA ISSO SERVE O IMPOSTO SINDICAL
Um dia do salário do trabalhador
Sindicalistas de Brasília encontraram uma forma prática de arregimentar manifestantes sem ter de convencê-los dos seus pontos de vista: pagá-los. Gastando R$ 40 por cabeça, um grupo pode ser reunido para protestar a favor da liberação dos bingos, fazer número na Marcha dos Trabalhadores ou qualquer outra ação, contra ou a favor qualquer coisa, em nome de qualquer partido. Por Lisandra Paraguassú
REPRESENTAÇÃO NO TCU
Entrei com uma representação no Tribunal de Contas da União contra a Nova Central Sindical e sua associada Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh). São movimentações artificiais promovidas por alguns sindicatos no pais e em Brasília, criminosas, com pessoas que não são sindicalizadas, à base de dinheiro público, da contribuição sindical. É um desrespeito com quem trabalha um dia por ano para repassar aos sindicatos. É a articialização completa das centrais. Por Ronaldo Caiado
MATERIAL DO ESTADÃO
Criada há cerca de quatro anos, a Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST) parece ser freguesa assídua do agenciamento de manifestantes. Em reportagem publicada pelo site Consultor Jurídico, Bruno Maciel, membro da Nova Central, garante aos repórteres que já fez "diversas vezes" a contratação de 50 a 800 pessoas e foi tudo tranquilo.
Ao lado da Nova Central, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh) do Distrito Federal também tem larga experiência com o método de arregimentação.
"Quando você vai organizar uma passeata, você contrata pessoas: ?Eu quero 500, 600.? Você paga para essa pessoa, porque fica muito caro trazer do País inteiro para se manifestar", disse ao jornalista uma pessoa que se identificou como Oton, responsável pela comunicação do sindicato.
A contratação dos "militantes" começa em Planaltina, cidade-satélite a 30 quilômetros de Brasília. A suposta "agenciadora de manifestantes" chama-se Sandra Ribeiro, tem cerca de 30 anos e, até o que o Estado pôde averiguar, nenhum vínculo com os sindicatos ou as áreas que atuam. Está desempregada - a menos que se conte como trabalho a ocasional arregimentação de manifestantes.
"A Sandra é a pessoa que, toda vez que a gente vai fazer uma manifestação, ela arruma as pessoas. Se você quiser, até 2 mil pessoas ela arruma para você", disse ao Consultor Jurídico Rogério José Cardoso, dirigente da Contratuh. Nas conversas, o jornalista não se identificou como repórter, mas pediu ajuda para organizar uma passeata "Fora, Sarney", contra o presidente do Senado.
É na vizinhança de sua casa em Planaltina que Sandra encontra seus manifestantes. Em uma das zonas mais pobres, de uma cidade miserável do Distrito Federal, em meio a milhares de pessoas desempregadas ou vivendo de bicos, não é difícil encontrar quem queira protestar por R$ 40 ao dia. Boa parte dos seus vizinhos já participou pelo menos uma vez de movimentos organizados por ela.
Procurada ontem pelo Estado, Sandra não foi encontrada. Não atendeu o telefone de casa e, ao ouvir a identificação do jornal, desligou o celular.
NOTA FISCAL
Na conversa com o Consultor Jurídico,ela não se mostrou tão receosa. Prometia quantas pessoas o interlocutor quisesse, ônibus e coordenadores para organizar as pessoas. Ela mesma cobrava R$ 350, se tivesse apenas de arregimentar gente, mas o preço subiria se tivesse de preparar camisetas e conseguir um carro de som.
Prometeu até mesmo uma nota fiscal, apesar de ainda não ter uma empresa registrada. "Estou montando uma empresa, mas posso arrumar uma nota, se você quiser. Ou podemos fazer um contrato, eu assino, sem problemas", disse.
Apesar de ter prestado vários serviços para a Contratuh, procurado ontem pelo Estado, o sindicato negou conhecer Sandra e sua atuação. O presidente da Nova Central, José Calixto Ramos, disse não conhecer Sandra, mas não negou que o sindicato tenha pago manifestantes. Diz que, em Brasília, a Nova Central tem apenas diretores e é "natural o pagamento".
"As pessoas têm de ter alimentação, transporte. É uma diária", justificou. Mais do que isso, garante que "todo mundo faz" e vê um complô para desmoralizar a Nova Central.
“EU DUVIDO QUE SÓ NÓS FAÇAMOS ISSO”
Entrevista com José Calixto Ramos: pres. da Nova Central
O presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores, José Calixto Ramos, credita a um complô contra o seu sindicato a revelação de que a entidade pagava para arregimentar manifestantes. No entanto, não nega a realização dos pagamentos. "Eu duvido que só nós façamos isso", declara.
A Nova Central paga para levar pessoas às suas manifestações?
O problema não é bem assim.Parece que querem denegrir a nossa imagem. A Nova Central tem sede em Brasília e em 20 Estados. Quando vamos fazer uma manifestação em Brasília, precisa ter alguém para acompanhar, porque aqui só tem diretor. Nós recrutamos não no sentido de pagar, mas, se vão nos acompanhar, tem de ter alimentação, transporte, é natural. É como uma diária. Fica mais razoável do que trazer pessoal de fora.
Mas as pessoas não deveriam participar porque têm interesse no tema que vocês estão defendendo?
Eu duvido que só nós façamos isso. Parece de propósito. A Nova Central nunca esteve na mídia e, quando aparece, é isso. É muito triste para a gente. Chamou a minha atenção um comentário em São Paulo, há um mês e meio, de que a Nova Central não ia chegar ao fim deste ano. Estão interessados em nos extinguir.
As pessoas não deveriam participar das manifestações por estar interessadas no tema e não porque estão recebendo para protestar?
Você sabe quanta gente desempregada tem no Distrito Federal. Basta que se chamem uns, se paga alguma coisa, vai ter mil se precisar.
O senhor conhece a Sandra Ribeiro?
Eu não conheço, eu não faço esse contato. Eu lido com coisas mais acima, não vou atrás de gente para segurar bandeira. O Estado de S. Paulo
Um dia do salário do trabalhador
Sindicalistas de Brasília encontraram uma forma prática de arregimentar manifestantes sem ter de convencê-los dos seus pontos de vista: pagá-los. Gastando R$ 40 por cabeça, um grupo pode ser reunido para protestar a favor da liberação dos bingos, fazer número na Marcha dos Trabalhadores ou qualquer outra ação, contra ou a favor qualquer coisa, em nome de qualquer partido. Por Lisandra Paraguassú
REPRESENTAÇÃO NO TCU
Entrei com uma representação no Tribunal de Contas da União contra a Nova Central Sindical e sua associada Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh). São movimentações artificiais promovidas por alguns sindicatos no pais e em Brasília, criminosas, com pessoas que não são sindicalizadas, à base de dinheiro público, da contribuição sindical. É um desrespeito com quem trabalha um dia por ano para repassar aos sindicatos. É a articialização completa das centrais. Por Ronaldo Caiado
MATERIAL DO ESTADÃO
Criada há cerca de quatro anos, a Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST) parece ser freguesa assídua do agenciamento de manifestantes. Em reportagem publicada pelo site Consultor Jurídico, Bruno Maciel, membro da Nova Central, garante aos repórteres que já fez "diversas vezes" a contratação de 50 a 800 pessoas e foi tudo tranquilo.
Ao lado da Nova Central, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh) do Distrito Federal também tem larga experiência com o método de arregimentação.
"Quando você vai organizar uma passeata, você contrata pessoas: ?Eu quero 500, 600.? Você paga para essa pessoa, porque fica muito caro trazer do País inteiro para se manifestar", disse ao jornalista uma pessoa que se identificou como Oton, responsável pela comunicação do sindicato.
A contratação dos "militantes" começa em Planaltina, cidade-satélite a 30 quilômetros de Brasília. A suposta "agenciadora de manifestantes" chama-se Sandra Ribeiro, tem cerca de 30 anos e, até o que o Estado pôde averiguar, nenhum vínculo com os sindicatos ou as áreas que atuam. Está desempregada - a menos que se conte como trabalho a ocasional arregimentação de manifestantes.
"A Sandra é a pessoa que, toda vez que a gente vai fazer uma manifestação, ela arruma as pessoas. Se você quiser, até 2 mil pessoas ela arruma para você", disse ao Consultor Jurídico Rogério José Cardoso, dirigente da Contratuh. Nas conversas, o jornalista não se identificou como repórter, mas pediu ajuda para organizar uma passeata "Fora, Sarney", contra o presidente do Senado.
É na vizinhança de sua casa em Planaltina que Sandra encontra seus manifestantes. Em uma das zonas mais pobres, de uma cidade miserável do Distrito Federal, em meio a milhares de pessoas desempregadas ou vivendo de bicos, não é difícil encontrar quem queira protestar por R$ 40 ao dia. Boa parte dos seus vizinhos já participou pelo menos uma vez de movimentos organizados por ela.
Procurada ontem pelo Estado, Sandra não foi encontrada. Não atendeu o telefone de casa e, ao ouvir a identificação do jornal, desligou o celular.
NOTA FISCAL
Na conversa com o Consultor Jurídico,ela não se mostrou tão receosa. Prometia quantas pessoas o interlocutor quisesse, ônibus e coordenadores para organizar as pessoas. Ela mesma cobrava R$ 350, se tivesse apenas de arregimentar gente, mas o preço subiria se tivesse de preparar camisetas e conseguir um carro de som.
Prometeu até mesmo uma nota fiscal, apesar de ainda não ter uma empresa registrada. "Estou montando uma empresa, mas posso arrumar uma nota, se você quiser. Ou podemos fazer um contrato, eu assino, sem problemas", disse.
Apesar de ter prestado vários serviços para a Contratuh, procurado ontem pelo Estado, o sindicato negou conhecer Sandra e sua atuação. O presidente da Nova Central, José Calixto Ramos, disse não conhecer Sandra, mas não negou que o sindicato tenha pago manifestantes. Diz que, em Brasília, a Nova Central tem apenas diretores e é "natural o pagamento".
"As pessoas têm de ter alimentação, transporte. É uma diária", justificou. Mais do que isso, garante que "todo mundo faz" e vê um complô para desmoralizar a Nova Central.
“EU DUVIDO QUE SÓ NÓS FAÇAMOS ISSO”
Entrevista com José Calixto Ramos: pres. da Nova Central
O presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores, José Calixto Ramos, credita a um complô contra o seu sindicato a revelação de que a entidade pagava para arregimentar manifestantes. No entanto, não nega a realização dos pagamentos. "Eu duvido que só nós façamos isso", declara.
A Nova Central paga para levar pessoas às suas manifestações?
O problema não é bem assim.Parece que querem denegrir a nossa imagem. A Nova Central tem sede em Brasília e em 20 Estados. Quando vamos fazer uma manifestação em Brasília, precisa ter alguém para acompanhar, porque aqui só tem diretor. Nós recrutamos não no sentido de pagar, mas, se vão nos acompanhar, tem de ter alimentação, transporte, é natural. É como uma diária. Fica mais razoável do que trazer pessoal de fora.
Mas as pessoas não deveriam participar porque têm interesse no tema que vocês estão defendendo?
Eu duvido que só nós façamos isso. Parece de propósito. A Nova Central nunca esteve na mídia e, quando aparece, é isso. É muito triste para a gente. Chamou a minha atenção um comentário em São Paulo, há um mês e meio, de que a Nova Central não ia chegar ao fim deste ano. Estão interessados em nos extinguir.
As pessoas não deveriam participar das manifestações por estar interessadas no tema e não porque estão recebendo para protestar?
Você sabe quanta gente desempregada tem no Distrito Federal. Basta que se chamem uns, se paga alguma coisa, vai ter mil se precisar.
O senhor conhece a Sandra Ribeiro?
Eu não conheço, eu não faço esse contato. Eu lido com coisas mais acima, não vou atrás de gente para segurar bandeira. O Estado de S. Paulo
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