Se olharmos o quanto se paga de impostos e quanto volta ao cidadão, concluiremos que somos um país socialista, onde quem produz é o Estado e a maior parte é dele.
Perguntar se o Brasil é capitalista ou socialista parece algo estranho, já que a resposta parece óbvia e única. Com certeza somos capitalistas e assim devemos ser rotulados. Bom, será mesmo? O Brasil é, efetivamente, uma economia capitalista como parece e como tudo leva a crer, a priori?
Se a economia brasileira for analisada com carinho, começaremos a perceber fatos estranhos ao capitalismo. Tem sido comum ao longo das últimas décadas, os empresários solicitarem favores ao Estado, como se capitalismo não significasse correr riscos. Por Samir Keedi
Vemos sempre pedidos de fechamento da economia para determinados setores ou mercadorias, em que não somos capazes de competir. Agora mesmo temos visto a choradeira do câmbio e pedidos de intervenção do governo para controlar a moeda. Não achamos que o câmbio esteja bom – ao contrário, está em um preço inadequado, representando os erros da política econômica do País. No entanto, pedir intervenção não é o caso. Isso não parece capitalismo a quem quer que seja.
Não entendemos capitalismo sem riscos. Assim, pode-se ver que nem sempre a máxima de que "quem não tem competência não se estabelece" é seguida. Quando há problemas pedem-se favores, mas quando há lucros, estes não são rateados com a sociedade.
Mas, apesar de grave, tudo bem, já que isso é apenas acessório. O que queremos dizer com "talvez não sejamos mesmo capitalistas, mas socialistas", refere-se à atuação do próprio governo.
Quando se tem uma empresa no Brasil, mesmo que não gostemos de sócios, nós sempre os temos em nossa vida, queiramos ou não. Não importa se ele não está na folha de pagamento, ou não entrou como acionista no contrato social de constituição da empresa, ou não está conosco nas horas difíceis. O governo brasileiro, e isso em todos os níveis, federal, estadual e municipal, é o maior sócio que uma empresa pode ter. Ele é onipresente e em tudo há o dedo dele.
Para se abrir uma empresa no Brasil é um tormento; para fechá-la, então, é tormento ao cubo. As taxas são as mais variadas e as autorizações necessárias as mais diversas. E, como se sabe, não há regras precisas, já que mudam sempre, em especial quanto aos impostos pagos pelos pobres contribuintes.
Falando em carga tributária, ela continua entre as primeiras em altura no mundo em termos absolutos, bem como em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) e está aqui o principal problema. E estamos entre as últimas em relação ao seu retorno à sociedade. Como a carga tributária brasileira está em quase 40%, e com a certeza de continuar subindo sempre, isso significa que cada brasileiro trabalha hoje cerca de cinco meses por ano para o governo, restando para si apenas sete meses. Este é o maior sócio que alguém pode ter, e impossível de ser abatido. Com tudo isso sendo levado pelo governo, pode-se dizer que a economia brasileira é capitalista?
Parece-nos que ficaria bem melhor se disséssemos que somos uma economia socialista. No socialismo, os meios de produção pertencem ao Estado e não existe iniciativa privada. Com uma carga tributária dessa magnitude, pode-se mesmo dizer que é a iniciativa privada que produz e que ela é a dona dos ativos? Ficaria melhor dizer que o produtor é o Estado, aquele que nunca perde em termos de arrecadação, pois a obtém com lucro ou prejuízo. E que apenas utiliza a iniciativa privada para levar a cabo seus objetivos de produção e de apropriação da renda alheia, praticando ele o conceito marxista da mais valia.
Pois é, se olharmos o quanto se paga de impostos no País, e quanto dele retorna ao cidadão, chegaremos a uma terrível conclusão. O Brasil não é um país capitalista, mas socialista, onde quem produz é o Estado, apenas através de prepostos, e a maior parte é dele.
Pode parecer que estamos forçando a barra para subverter fatos reais e fantasiá-los, mas o que acontece é exatamente isso. Se a empresa tiver lucro ganham todos, e se tiver prejuízo, ganha apenas o Estado, pois sua parcela é garantida, chova ou faça sol.
Considere-se que isso ocorre sem que ele invista qualquer parcela de capital no empreendimento. E, mesmo assim, age como um “atrapalho" (sic), dificultando a vida de todo mundo.
E cada vez que se fala em reforma tributária, assunto que vem à tona de quando em quando, já entendemos que se trata de aumentar ainda mais os impostos. Alguém tem alguma dúvida sobre isso, e de que a carga tributária passará dos 40% do PIB, loguinho, loguinho? O que podemos chamar de número vergonhoso e um título inadmissível, considerando seu retorno à sociedade.
Todos sempre lutamos por uma reforma tributária, mas agora estamos escaldados e é sempre melhor torcer para deixá-la de lado e não reformar nada. É mais seguro para a sociedade. Claro que falamos da nossa. Como costumamos dizer, esse é um país no mínimo estranho.
Estamos há quase três décadas sempre achando que atingimos o fundo do poço, mas a cada ano constatamos que o poço não tem fundo, e que de alguma forma as coisas pioram em diversos setores, enquanto melhoram em alguns poucos – isso quando melhoram. – Diário do Comércio
Samir Keedi é economista, professor da Aduaneiras e autor de vários livros em comércio exterior
Perguntar se o Brasil é capitalista ou socialista parece algo estranho, já que a resposta parece óbvia e única. Com certeza somos capitalistas e assim devemos ser rotulados. Bom, será mesmo? O Brasil é, efetivamente, uma economia capitalista como parece e como tudo leva a crer, a priori?
Se a economia brasileira for analisada com carinho, começaremos a perceber fatos estranhos ao capitalismo. Tem sido comum ao longo das últimas décadas, os empresários solicitarem favores ao Estado, como se capitalismo não significasse correr riscos. Por Samir Keedi
Vemos sempre pedidos de fechamento da economia para determinados setores ou mercadorias, em que não somos capazes de competir. Agora mesmo temos visto a choradeira do câmbio e pedidos de intervenção do governo para controlar a moeda. Não achamos que o câmbio esteja bom – ao contrário, está em um preço inadequado, representando os erros da política econômica do País. No entanto, pedir intervenção não é o caso. Isso não parece capitalismo a quem quer que seja.
Não entendemos capitalismo sem riscos. Assim, pode-se ver que nem sempre a máxima de que "quem não tem competência não se estabelece" é seguida. Quando há problemas pedem-se favores, mas quando há lucros, estes não são rateados com a sociedade.
Mas, apesar de grave, tudo bem, já que isso é apenas acessório. O que queremos dizer com "talvez não sejamos mesmo capitalistas, mas socialistas", refere-se à atuação do próprio governo.
Quando se tem uma empresa no Brasil, mesmo que não gostemos de sócios, nós sempre os temos em nossa vida, queiramos ou não. Não importa se ele não está na folha de pagamento, ou não entrou como acionista no contrato social de constituição da empresa, ou não está conosco nas horas difíceis. O governo brasileiro, e isso em todos os níveis, federal, estadual e municipal, é o maior sócio que uma empresa pode ter. Ele é onipresente e em tudo há o dedo dele.
Para se abrir uma empresa no Brasil é um tormento; para fechá-la, então, é tormento ao cubo. As taxas são as mais variadas e as autorizações necessárias as mais diversas. E, como se sabe, não há regras precisas, já que mudam sempre, em especial quanto aos impostos pagos pelos pobres contribuintes.
Falando em carga tributária, ela continua entre as primeiras em altura no mundo em termos absolutos, bem como em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) e está aqui o principal problema. E estamos entre as últimas em relação ao seu retorno à sociedade. Como a carga tributária brasileira está em quase 40%, e com a certeza de continuar subindo sempre, isso significa que cada brasileiro trabalha hoje cerca de cinco meses por ano para o governo, restando para si apenas sete meses. Este é o maior sócio que alguém pode ter, e impossível de ser abatido. Com tudo isso sendo levado pelo governo, pode-se dizer que a economia brasileira é capitalista?
Parece-nos que ficaria bem melhor se disséssemos que somos uma economia socialista. No socialismo, os meios de produção pertencem ao Estado e não existe iniciativa privada. Com uma carga tributária dessa magnitude, pode-se mesmo dizer que é a iniciativa privada que produz e que ela é a dona dos ativos? Ficaria melhor dizer que o produtor é o Estado, aquele que nunca perde em termos de arrecadação, pois a obtém com lucro ou prejuízo. E que apenas utiliza a iniciativa privada para levar a cabo seus objetivos de produção e de apropriação da renda alheia, praticando ele o conceito marxista da mais valia.
Pois é, se olharmos o quanto se paga de impostos no País, e quanto dele retorna ao cidadão, chegaremos a uma terrível conclusão. O Brasil não é um país capitalista, mas socialista, onde quem produz é o Estado, apenas através de prepostos, e a maior parte é dele.
Pode parecer que estamos forçando a barra para subverter fatos reais e fantasiá-los, mas o que acontece é exatamente isso. Se a empresa tiver lucro ganham todos, e se tiver prejuízo, ganha apenas o Estado, pois sua parcela é garantida, chova ou faça sol.
Considere-se que isso ocorre sem que ele invista qualquer parcela de capital no empreendimento. E, mesmo assim, age como um “atrapalho" (sic), dificultando a vida de todo mundo.
E cada vez que se fala em reforma tributária, assunto que vem à tona de quando em quando, já entendemos que se trata de aumentar ainda mais os impostos. Alguém tem alguma dúvida sobre isso, e de que a carga tributária passará dos 40% do PIB, loguinho, loguinho? O que podemos chamar de número vergonhoso e um título inadmissível, considerando seu retorno à sociedade.
Todos sempre lutamos por uma reforma tributária, mas agora estamos escaldados e é sempre melhor torcer para deixá-la de lado e não reformar nada. É mais seguro para a sociedade. Claro que falamos da nossa. Como costumamos dizer, esse é um país no mínimo estranho.
Estamos há quase três décadas sempre achando que atingimos o fundo do poço, mas a cada ano constatamos que o poço não tem fundo, e que de alguma forma as coisas pioram em diversos setores, enquanto melhoram em alguns poucos – isso quando melhoram. – Diário do Comércio
Samir Keedi é economista, professor da Aduaneiras e autor de vários livros em comércio exterior
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