São dias melhores para os inimigos do que para os amigos dos Estados Unidos
O presidente Obama prometeu que a América iria ganhar amigos, onde, sob George W. Bush, tinha antagonistas. A realidade é que os EUA estão trabalhando duro para criar antagonistas onde anteriormente tinham amigos.
É a conclusão que se pode tirar sobre a decisão do presidente Obama de tornar uma sucata o acordo de defesa da administração Bush, que previa a instalação de escudo antimíssil na Polônia e República Checa. Ambos os países fizeram do sistema antimíssil suas bandeiras nacionais e tomaram enormes riscos políticos, inclusive a ira de seus antigos senhores da Rússia, a fim de acomodar os interesses dos EUA que queriam o sistema de defesa contra um possível ataque de mísseis iranianos. Editorial do The Wall Street Journal
A Casa Branca justifica sua decisão afirmando que os novos dados da Inteligência apontaram que os mísseis de longo alcance do Irã não estão tão avançados como se acreditava anteriormente, enquanto que os de curto e médio alcance estão mais acelerados. Daí, a decisão de Obama em usar um novo sistema de defesa flexível, destinado a interceptar mísseis de curto e médio alcance do Irã.
Mas é difícil de dar crédito ao argumento do governo, até porque as nossas fontes nos informaram - já em fevereiro - que a administração Obama estava disposta a engavetar o escudo de defesa dos EUA, isto, bem antes das conclusões da Inteligência tornarem-se públicas.
Também é difícil conciliar a avaliação otimista da Inteligência quando se sabe que o Irã foi bem sucedido, em maio, no lançamento-teste do míssil Sejil. Com um alcance estimado de 1.560 milhas, o Sejil poderia entregar uma carga útil de uma tonelada em Varsóvia. Isso não pode ser reconfortante quando a Comunidade Internacional de Energia Atômica afirma que o Irã tem "informação suficiente" para construir uma bomba atômica e também para "ultrapassar os problemas" em seu sistema de lançamento de foguetes.
O motivo mais provável da Administração Obama em demolir com o programa de seu antecessor, é que ele espera ganhar o voto da Rússia no Conselho de Segurança da ONU para aprovar sanções mais duras ao Irã. Talvez os russos tenham aceitado secretamente essa troca, embora eles tenham negado publicamente, ontem, que pretendam defender sanções contra o Irã apenas porque os EUA cancelaram o plano de defesa do sistema de antimísseis.
E como fez notar o líder oposicionista russo Garry Kasparov: Vladimir Putin sabe que ao manter a crise iraniana em ebulição, isto pode trazer benefícios para o Kremlin, pois a ameaça de uma crise no Oriente Médio impulsiona os preços de energia e coloca em risco os interesses dos EUA. A Rússia também gosta de oferecer um afago de ajuda diplomática na ONU, em troca de material e concessões ocidentais. Desta vez, a concessão vai ser em defesa dos antimísseis. Da próxima vez, talvez, o Ocidente possa ser seduzido a negociar a deposição do governo pró-Ocidente da Geórgia, ou até mesmo da Ucrânia.
Isso não é um receio sem razão. O destino foi trágico para os países da Europa Oriental e da Central que foram tratados como moedas de troca nos projetos de seus vizinhos mais poderosos. A inclusão no âmbito da NATO e da UE supunha ter enterrado a história, mas a nova assertividade da Rússia, incluindo o corte no fornecimento de energia durante o inverno e a invasão na Geórgia no ano passado, reavivou os temores aos poderosos.
Os funcionários em Varsóvia, certamente repararam que Obama cancelou o sistema de mísseis justamente no dia mais infeliz, que marca 70º anivérsário da invasão da União Soviética à Polônia, como parte do Pacto Molotov-Ribbentrop com a Alemanha nazista.
A decisão dos EUA também prejudica a credibilidade do guarda-chuva americano de defesa nuclear. O governo Bush procurou desenvolver uma postura de defesa global, em parte, para tranquilizar os aliados de forma que não precisassem de sua própria dissuasão nuclear, assim como para frear os regimes párias no fornecimento de armas nucleares e mísseis.
Essa reversão da América em seu plano de defesa antimíssil na Europa significa dizer aos outros países que não eles podem invocar os EUA e, por isso, é melhor que sigam o caminho de Israel e desenvolvam suas próprias armas de defesas. Aliás, isso também torna os EUA menos seguros com um sistema baseado em terra no Alasca e na Califórnia, cobrindo muito mal o Oriente.
A tendência de Obama tem sido a de cortejar os adversários enquanto bate nos aliados. Sua administração tem procurado laços com o Irã, Birmânia, Coréia do Norte, Rússia e até com a Venezuela. Mas ele escolheu lutar comercialmente com o Canadá e México, sentou-se sob os tratados de comércio com a Colômbia e com a Coréia do Sul, luta contra Israel na questão dos assentamentos na Cisjordânia, ignorou o Japão ao decidir conversar com a Coréia do Norte, e sancionou Honduras por seu pecado de resistir à invasão da Venezuela de Hugo Chávez.
Estamos nos lembrando da triste piada de Bernard Lewis: “o problema de se tornar amigo dos EUA é que você nunca sabe quando ele vai atirar no próprio pé”.
The Wall Street Journal - Tradução de Arthur Mc para o MOVCC
DECEPÇÃO
Algumas personalidades políticas polonesas e checas, contudo, não esconderam a decepção.
"A decisão é um indício de que os EUA não estão mais tão interessados nesta parte da Europa como antes", afirmou o ex-premiê checo Mirek Topolanek, cujo governo assinou vários tratados com Washington para a instalação do escudo antimíssil.
"Não é uma coisa boa", lamentou o ex-presidente polonês Lech Walesa. "Já sinto qual o tipo de política seguirá o governo Obama para esta parte da Europa. Precisamos fazer com que eles mudem de ideia."
"Se isso se confirmar, será um fracasso do pensamento de longo prazo do governo americano para a Europa Oriental", afirmou Aleksander Szczyglo, diretor da Agência de Segurança Nacional da Polônia.
"Jogar fora o sistema de defesa antimísseis é dar poder à Rússia e ao Irã, à custa de nossos aliados", disse o congressista republicano John Boehner, líder da minoria na Câmara.
A mudança é "seriamente equivocada", disse o senador John McCain.
John Bolton, o neoconservador que foi embaixador dos EUA na ONU no governo Bush, foi mais ácido. "É quase uma catástrofe para relações dos EUA com o Leste Europeu." Material do Estado de São Paulo
O presidente Obama prometeu que a América iria ganhar amigos, onde, sob George W. Bush, tinha antagonistas. A realidade é que os EUA estão trabalhando duro para criar antagonistas onde anteriormente tinham amigos.
É a conclusão que se pode tirar sobre a decisão do presidente Obama de tornar uma sucata o acordo de defesa da administração Bush, que previa a instalação de escudo antimíssil na Polônia e República Checa. Ambos os países fizeram do sistema antimíssil suas bandeiras nacionais e tomaram enormes riscos políticos, inclusive a ira de seus antigos senhores da Rússia, a fim de acomodar os interesses dos EUA que queriam o sistema de defesa contra um possível ataque de mísseis iranianos. Editorial do The Wall Street Journal
A Casa Branca justifica sua decisão afirmando que os novos dados da Inteligência apontaram que os mísseis de longo alcance do Irã não estão tão avançados como se acreditava anteriormente, enquanto que os de curto e médio alcance estão mais acelerados. Daí, a decisão de Obama em usar um novo sistema de defesa flexível, destinado a interceptar mísseis de curto e médio alcance do Irã.
Mas é difícil de dar crédito ao argumento do governo, até porque as nossas fontes nos informaram - já em fevereiro - que a administração Obama estava disposta a engavetar o escudo de defesa dos EUA, isto, bem antes das conclusões da Inteligência tornarem-se públicas.
Também é difícil conciliar a avaliação otimista da Inteligência quando se sabe que o Irã foi bem sucedido, em maio, no lançamento-teste do míssil Sejil. Com um alcance estimado de 1.560 milhas, o Sejil poderia entregar uma carga útil de uma tonelada em Varsóvia. Isso não pode ser reconfortante quando a Comunidade Internacional de Energia Atômica afirma que o Irã tem "informação suficiente" para construir uma bomba atômica e também para "ultrapassar os problemas" em seu sistema de lançamento de foguetes.
O motivo mais provável da Administração Obama em demolir com o programa de seu antecessor, é que ele espera ganhar o voto da Rússia no Conselho de Segurança da ONU para aprovar sanções mais duras ao Irã. Talvez os russos tenham aceitado secretamente essa troca, embora eles tenham negado publicamente, ontem, que pretendam defender sanções contra o Irã apenas porque os EUA cancelaram o plano de defesa do sistema de antimísseis.
E como fez notar o líder oposicionista russo Garry Kasparov: Vladimir Putin sabe que ao manter a crise iraniana em ebulição, isto pode trazer benefícios para o Kremlin, pois a ameaça de uma crise no Oriente Médio impulsiona os preços de energia e coloca em risco os interesses dos EUA. A Rússia também gosta de oferecer um afago de ajuda diplomática na ONU, em troca de material e concessões ocidentais. Desta vez, a concessão vai ser em defesa dos antimísseis. Da próxima vez, talvez, o Ocidente possa ser seduzido a negociar a deposição do governo pró-Ocidente da Geórgia, ou até mesmo da Ucrânia.
Isso não é um receio sem razão. O destino foi trágico para os países da Europa Oriental e da Central que foram tratados como moedas de troca nos projetos de seus vizinhos mais poderosos. A inclusão no âmbito da NATO e da UE supunha ter enterrado a história, mas a nova assertividade da Rússia, incluindo o corte no fornecimento de energia durante o inverno e a invasão na Geórgia no ano passado, reavivou os temores aos poderosos.
Os funcionários em Varsóvia, certamente repararam que Obama cancelou o sistema de mísseis justamente no dia mais infeliz, que marca 70º anivérsário da invasão da União Soviética à Polônia, como parte do Pacto Molotov-Ribbentrop com a Alemanha nazista.
A decisão dos EUA também prejudica a credibilidade do guarda-chuva americano de defesa nuclear. O governo Bush procurou desenvolver uma postura de defesa global, em parte, para tranquilizar os aliados de forma que não precisassem de sua própria dissuasão nuclear, assim como para frear os regimes párias no fornecimento de armas nucleares e mísseis.
Essa reversão da América em seu plano de defesa antimíssil na Europa significa dizer aos outros países que não eles podem invocar os EUA e, por isso, é melhor que sigam o caminho de Israel e desenvolvam suas próprias armas de defesas. Aliás, isso também torna os EUA menos seguros com um sistema baseado em terra no Alasca e na Califórnia, cobrindo muito mal o Oriente.
A tendência de Obama tem sido a de cortejar os adversários enquanto bate nos aliados. Sua administração tem procurado laços com o Irã, Birmânia, Coréia do Norte, Rússia e até com a Venezuela. Mas ele escolheu lutar comercialmente com o Canadá e México, sentou-se sob os tratados de comércio com a Colômbia e com a Coréia do Sul, luta contra Israel na questão dos assentamentos na Cisjordânia, ignorou o Japão ao decidir conversar com a Coréia do Norte, e sancionou Honduras por seu pecado de resistir à invasão da Venezuela de Hugo Chávez.
Estamos nos lembrando da triste piada de Bernard Lewis: “o problema de se tornar amigo dos EUA é que você nunca sabe quando ele vai atirar no próprio pé”.
The Wall Street Journal - Tradução de Arthur Mc para o MOVCC
DECEPÇÃO
Algumas personalidades políticas polonesas e checas, contudo, não esconderam a decepção.
"A decisão é um indício de que os EUA não estão mais tão interessados nesta parte da Europa como antes", afirmou o ex-premiê checo Mirek Topolanek, cujo governo assinou vários tratados com Washington para a instalação do escudo antimíssil.
"Não é uma coisa boa", lamentou o ex-presidente polonês Lech Walesa. "Já sinto qual o tipo de política seguirá o governo Obama para esta parte da Europa. Precisamos fazer com que eles mudem de ideia."
"Se isso se confirmar, será um fracasso do pensamento de longo prazo do governo americano para a Europa Oriental", afirmou Aleksander Szczyglo, diretor da Agência de Segurança Nacional da Polônia.
"Jogar fora o sistema de defesa antimísseis é dar poder à Rússia e ao Irã, à custa de nossos aliados", disse o congressista republicano John Boehner, líder da minoria na Câmara.
A mudança é "seriamente equivocada", disse o senador John McCain.
John Bolton, o neoconservador que foi embaixador dos EUA na ONU no governo Bush, foi mais ácido. "É quase uma catástrofe para relações dos EUA com o Leste Europeu." Material do Estado de São Paulo
2 comentários:
"Traição! Os Estados Unidos venderam Polónia para a Rússia, furou a faca nas costas ", comentou jornal diário polonês de grande circulação "Fakt".
Choque para a opinião pública europeia: Obama disse sobre renúncia do escudo antimíssil
no dia de 17 setembro, quando atingiram 70 anos da invasão da Polônia pela União Soviética.
"A América tem traído a Polónia. Isso pode abrir uma época de frio nas relações polaco-americano. Mesmo que Barack Obama propõe um prêmio de consolação, como os norte-americanos caiu escudo ea data escolhida é nojento ", anuncia o journal polonês do direito "Rzeczpospolita ".
Donald Tusk, chefe do governo polonês, decidiu reagir reservados: "É uma decisão autônoma do presidente dos Estados Unidos e seu governo”.
Primeiro-Ministro checo Jan Fischer mostra satisfação: "Não há nenhuma razão para alterar um relacionamento perfeito com os E.U.”.
Primeiro-ministro russo Vladimir Putin: "É uma boa idéia, e espero que após esta decisão correcta e corajosa, outros se seguirão, incluindo a anulação de quaisquer restrições em cooperação com a Rússia absoluta em relação à transferência para a Rússia de alta tecnologia e a retomada dos trabalhos sobre aumento do número de membros da OMC se juntar pela Rússia, Belarus e Cazaquistão ".
Os meios de comunicação na Roménia (país europeu, um membro da OTAN), comentou com pesar a decisão de os E.U.
Muitos chefes de estado na Europa Ocidental têm elogiado a decisão do E.U.
"Campeões de entusiasmo foram a Alemanha ea França", disse um analista romeno.
Oi,
Eleonora
Agradeço sua presença sempre muito inteligente no MOVCC.
Parabéns, pela explanação.
Visitei seu blog. Está muito informativo e bonito. Já temos um membro do MOVCC constando como seu seguidor. Isto muito bom. Sou sua admiradora , também! Conte sempre comigo.
Um abraço.
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