EDITORIAL DO WSJ: O DISCURSO DE MORGENTHAU
A perspectiva de mísseis iranianos na América do Sul não deve ser julgada improcedente
As relações diplomáticas entre o Irã e a Venezuela remontam de quase 50 anos e até recentemente elevou-se a pouco mais do que a troca de rotina de diplomatas. Com a eleição do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, o relacionamento mudou dramaticamente.
Hoje Ahmadinejad e o presidente venezuelano Hugo Chávez têm criado uma aconchegante parceria financeira, político e militar radicada na partilha de um anti-animus americano. Agora é hora de desenvolver políticas neste país [nos EUA] para garantir que esta parceria não produza frutos venenosos. Por Robert M. Morgenthau – Promotor Público
Os sinais de evolução da parceria começaram a surgir em 2006, quando a Venezuela se juntou a Cuba e a Síria como os únicos países que votaram contra uma resolução da Agência de Energia Atômica da ONU e do Conselho de Segurança, contra o Irã, por sua incapacidade de cumprir as sanções impostas por não restringir seu programa nuclear.
Um ano mais tarde, durante uma visita de Chávez a Teerã, as duas nações declarararam a formação de um "eixo da unidade" contra os EUA. E em junho deste ano, enquanto os manifestantes se alinhavam nas ruas de Teerã, após as alegações de substancial fraude na reeleição de Ahmadinejad, Chávez publicamente ofereceu-lhe apoio. Como o regime reprimiu a oposição política, prendendo, torturando e matando manifestantes, a Venezuela ficou com o iraniano linha-dura.
Enquanto isso, os investimentos iranianos na Venezuela têm aumentado. Os dois países assinaram vários memorandos de entendimento sobre o desenvolvimento tecnológico, a cooperação no domínio dos bancos e finanças, e exploração de petróleo, gás e refino. Em abril de 2008, os dois países também assinaram um Memorando de Entendimento, prometendo apoio militar e cooperação mútua. A United Press International informou que em agosto, conselheiros militares iranianos foram incorporados em tropas venezuelanas.
De acordo com um relatório publicado pela Carnegie Endowment for International Peace, em dezembro do ano passado, a estimativa foi de que a Venezuela tenha produzido 50.000 toneladas de urânio. Há especulações no relatório da Carnegie de que o país possa ser fornecedor de urânio do Irã.
Os iranianos abriram também o Banco de Desenvolvimento Internacional em Caracas, com o nome espanhol Banco Internacional de Desenvolvimento CA, uma subsidiária independente da Export Development Bank of Iran. Em outubro passado, o Departamento do Gabinete do Tesouro de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA, impôs sanções econômicas contra estes dois bancos iranianos, pela prestação ou tentativa de prestar serviços financeiros ao Ministério da Defesa do Irã e às Forças Armadas, as duas entidades militares encarregadas da logística e do avanço das ambições nucleares iranianas.
Tenho afirmado ao longo dos últimos três anos, sobre o surgimento de várias fábricas iranianas criadas em partes remotas e subdesenvolvidas da Venezuela, locais ideais para a produção ilícita de armas. Evidências sobre as atividades realizadas dentro dessas fábricas são limitadas. Mas devemos nos preocupar, especialmente à luz de um incidente ocorrido em dezembro de 2008. As autoridades turcas detiveram um navio iraniano que seguia para Venezuela, após descobrirem em seu interior um equipamento de laboratório capaz de produzir explosivos, acondicionado dentro de 22 contêiners marcados como "peças para tratores. Recipientes também estavam em barris marcados com sinais de "perigo". Penso que é seguro afirmar que a captura desse navio foi uma sorte, mas a maioria desse tipo de carga deve chegar ao seu destino na Venezuela.
Um recente estudo do Government Accountability Office (GAO) relatou um alto nível de corrupção militar e da justiça dentro do governo venezuelano, o que permitiu que o país se tornasse uma importante rota para o tráfico de cocaína da Colômbia. Informações recolhidas pelo meu escritório reforçam a conclusão de que apoiadores do Hezbollah na América do Sul estão envolvidos no tráfico de entorpecentes. O estudo do GAO também confirma as acusações de apoio da Venezuela às Farc, o grupo terrorista colombiano que financia suas operações através do tráfico de entorpecentes, extorsão e seqüestro. Em um ataque a um acampamento das Farc em julho, militares colombianos recuperaram lançadores de foguetes suecos vendidos à Venezuela nos anos 1980.
Nos últimos anos várias entidades iranianas têm empregado um sistema generalizado de práticas enganosas e fraudulentas para movimentar dinheiro em todo mundo, sem sua detecção. O regime tem feito isso, creio eu, para pagar os materiais necessários para desenvolver armas nucleares, mísseis de longo alcance, e bombas de estrada lateral. A Venezuela tem um sistema financeiro estabelecido com o Irã, com ajuda de Chávez, que ajuda o país a driblar as sanções econômicas.
Considere, por exemplo, o banco Lloyds TSB do Reino Unido. De 2001 a 2004, em nome dos clientes de bancos iranianos, este banco inglês admitiu em uma declaração de fatos, que ele intencionalmente alterou as informações de transferência bancária para ocultar a identidade dos seus clientes. Isto permitiu a transferência ilegal de mais de 300 milhões de dólares em dinheiro iraniano apesar das sanções econômicas que proíbem o acesso iraniano ao sistema financeiro dos Estados Unidos. Em janeiro, o Lloyds celebrou acordos com a promotoria do Ministério da Justiça para resolver esse inquérito.
Em abril, anunciei o indiciamento de uma empresa chamada LIMMT, e de seu gerente, Fang Li Wei. O governo americano tinha proibido a LIMMT de participar de operações com ou através do sistema financeiro americano por causa de seu papel na proliferação de armas de destruição em massa para Irã. Mas a nossa investigação revelou que Fang Li Wei e LIMMT têm usado pseudônimos e empresas de fachada para enganar os bancos no processamento de pagamentos referentes às vendas proibidas de mísseis nucleares e de materiais de uso dual para organizações filiadas à Organização das Indústrias de Defesa iraniana (A LIMMT, através da imprensa internacional, negou as alegações constantes da acusação.)
As táticas usadas nesses casos - sobre o estilo e nível de engano que os iranianos empregam - devem sinalizar fortemente para as agências de inteligência e para os comandos militares do mundo inteiro sobre a necessidade da aplicação da lei. Com base na informação, nós acreditamos que os iranianos, com a ajuda da Venezuela, estão empenhados em ajudar outros regimes a driblarem sanções semelhantes.
A abertura diplomática do presidente Barack Obama ao apertar a mão de Chávez, durante a Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, não oferece razão para assumir que o risco diminuiu. De acordo com fundamentos previstos anos atrás, na verdade estamos entrando em um período onde os frutos da guerra deflagrada pelo Irã-Venezuela começarão a amadurecer.
Isso significa que dois dos regimes mais perigosos do mundo, descritos como "eixo da unidade", estarão agindo em conjunto no nosso quintal, no desenvolvimento de tecnologia nuclear e de mísseis. E parece que os grupos terroristas têm encontrado um terreno ideal para o treinamento operacional, de planejamento e financiamento de suas atividades através de narcotráfico.
As ameaças nucleares vão desde os mísseis de longo à insidiosa influência iraniana no hemisfério ocidental, o que não pode ser negligenciado. O público precisa estar consciente da presença crescente do Irã na América Latina. Além disso, os EUA e a comunidade internacional devem considerar fortemente a necessidade de monitorar e sancionar o sistema bancário da Venezuela. A omissão vai deixar uma janela aberta, suscetível à lavagem de dinheiro pelo governo iraniano, e pelas organizações de narcóticos com laços com elementos corruptos no governo venezuelano, e com organizações terroristas apoiadas abertamente pelo Irã.
Morgenthau é o promotor público de Manhattan. Este artigo foi adaptado de um discurso de anteontem na Brookings Institution em Washington, DC The Wall Street Journal – 08/09/2009
Tradução de Arthur Mc para o MOVCC
A perspectiva de mísseis iranianos na América do Sul não deve ser julgada improcedente
As relações diplomáticas entre o Irã e a Venezuela remontam de quase 50 anos e até recentemente elevou-se a pouco mais do que a troca de rotina de diplomatas. Com a eleição do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, o relacionamento mudou dramaticamente.
Hoje Ahmadinejad e o presidente venezuelano Hugo Chávez têm criado uma aconchegante parceria financeira, político e militar radicada na partilha de um anti-animus americano. Agora é hora de desenvolver políticas neste país [nos EUA] para garantir que esta parceria não produza frutos venenosos. Por Robert M. Morgenthau – Promotor Público
Os sinais de evolução da parceria começaram a surgir em 2006, quando a Venezuela se juntou a Cuba e a Síria como os únicos países que votaram contra uma resolução da Agência de Energia Atômica da ONU e do Conselho de Segurança, contra o Irã, por sua incapacidade de cumprir as sanções impostas por não restringir seu programa nuclear.
Um ano mais tarde, durante uma visita de Chávez a Teerã, as duas nações declarararam a formação de um "eixo da unidade" contra os EUA. E em junho deste ano, enquanto os manifestantes se alinhavam nas ruas de Teerã, após as alegações de substancial fraude na reeleição de Ahmadinejad, Chávez publicamente ofereceu-lhe apoio. Como o regime reprimiu a oposição política, prendendo, torturando e matando manifestantes, a Venezuela ficou com o iraniano linha-dura.
Enquanto isso, os investimentos iranianos na Venezuela têm aumentado. Os dois países assinaram vários memorandos de entendimento sobre o desenvolvimento tecnológico, a cooperação no domínio dos bancos e finanças, e exploração de petróleo, gás e refino. Em abril de 2008, os dois países também assinaram um Memorando de Entendimento, prometendo apoio militar e cooperação mútua. A United Press International informou que em agosto, conselheiros militares iranianos foram incorporados em tropas venezuelanas.
De acordo com um relatório publicado pela Carnegie Endowment for International Peace, em dezembro do ano passado, a estimativa foi de que a Venezuela tenha produzido 50.000 toneladas de urânio. Há especulações no relatório da Carnegie de que o país possa ser fornecedor de urânio do Irã.
Os iranianos abriram também o Banco de Desenvolvimento Internacional em Caracas, com o nome espanhol Banco Internacional de Desenvolvimento CA, uma subsidiária independente da Export Development Bank of Iran. Em outubro passado, o Departamento do Gabinete do Tesouro de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA, impôs sanções econômicas contra estes dois bancos iranianos, pela prestação ou tentativa de prestar serviços financeiros ao Ministério da Defesa do Irã e às Forças Armadas, as duas entidades militares encarregadas da logística e do avanço das ambições nucleares iranianas.
Tenho afirmado ao longo dos últimos três anos, sobre o surgimento de várias fábricas iranianas criadas em partes remotas e subdesenvolvidas da Venezuela, locais ideais para a produção ilícita de armas. Evidências sobre as atividades realizadas dentro dessas fábricas são limitadas. Mas devemos nos preocupar, especialmente à luz de um incidente ocorrido em dezembro de 2008. As autoridades turcas detiveram um navio iraniano que seguia para Venezuela, após descobrirem em seu interior um equipamento de laboratório capaz de produzir explosivos, acondicionado dentro de 22 contêiners marcados como "peças para tratores. Recipientes também estavam em barris marcados com sinais de "perigo". Penso que é seguro afirmar que a captura desse navio foi uma sorte, mas a maioria desse tipo de carga deve chegar ao seu destino na Venezuela.
Um recente estudo do Government Accountability Office (GAO) relatou um alto nível de corrupção militar e da justiça dentro do governo venezuelano, o que permitiu que o país se tornasse uma importante rota para o tráfico de cocaína da Colômbia. Informações recolhidas pelo meu escritório reforçam a conclusão de que apoiadores do Hezbollah na América do Sul estão envolvidos no tráfico de entorpecentes. O estudo do GAO também confirma as acusações de apoio da Venezuela às Farc, o grupo terrorista colombiano que financia suas operações através do tráfico de entorpecentes, extorsão e seqüestro. Em um ataque a um acampamento das Farc em julho, militares colombianos recuperaram lançadores de foguetes suecos vendidos à Venezuela nos anos 1980.
Nos últimos anos várias entidades iranianas têm empregado um sistema generalizado de práticas enganosas e fraudulentas para movimentar dinheiro em todo mundo, sem sua detecção. O regime tem feito isso, creio eu, para pagar os materiais necessários para desenvolver armas nucleares, mísseis de longo alcance, e bombas de estrada lateral. A Venezuela tem um sistema financeiro estabelecido com o Irã, com ajuda de Chávez, que ajuda o país a driblar as sanções econômicas.
Considere, por exemplo, o banco Lloyds TSB do Reino Unido. De 2001 a 2004, em nome dos clientes de bancos iranianos, este banco inglês admitiu em uma declaração de fatos, que ele intencionalmente alterou as informações de transferência bancária para ocultar a identidade dos seus clientes. Isto permitiu a transferência ilegal de mais de 300 milhões de dólares em dinheiro iraniano apesar das sanções econômicas que proíbem o acesso iraniano ao sistema financeiro dos Estados Unidos. Em janeiro, o Lloyds celebrou acordos com a promotoria do Ministério da Justiça para resolver esse inquérito.
Em abril, anunciei o indiciamento de uma empresa chamada LIMMT, e de seu gerente, Fang Li Wei. O governo americano tinha proibido a LIMMT de participar de operações com ou através do sistema financeiro americano por causa de seu papel na proliferação de armas de destruição em massa para Irã. Mas a nossa investigação revelou que Fang Li Wei e LIMMT têm usado pseudônimos e empresas de fachada para enganar os bancos no processamento de pagamentos referentes às vendas proibidas de mísseis nucleares e de materiais de uso dual para organizações filiadas à Organização das Indústrias de Defesa iraniana (A LIMMT, através da imprensa internacional, negou as alegações constantes da acusação.)
As táticas usadas nesses casos - sobre o estilo e nível de engano que os iranianos empregam - devem sinalizar fortemente para as agências de inteligência e para os comandos militares do mundo inteiro sobre a necessidade da aplicação da lei. Com base na informação, nós acreditamos que os iranianos, com a ajuda da Venezuela, estão empenhados em ajudar outros regimes a driblarem sanções semelhantes.
A abertura diplomática do presidente Barack Obama ao apertar a mão de Chávez, durante a Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, não oferece razão para assumir que o risco diminuiu. De acordo com fundamentos previstos anos atrás, na verdade estamos entrando em um período onde os frutos da guerra deflagrada pelo Irã-Venezuela começarão a amadurecer.
Isso significa que dois dos regimes mais perigosos do mundo, descritos como "eixo da unidade", estarão agindo em conjunto no nosso quintal, no desenvolvimento de tecnologia nuclear e de mísseis. E parece que os grupos terroristas têm encontrado um terreno ideal para o treinamento operacional, de planejamento e financiamento de suas atividades através de narcotráfico.
As ameaças nucleares vão desde os mísseis de longo à insidiosa influência iraniana no hemisfério ocidental, o que não pode ser negligenciado. O público precisa estar consciente da presença crescente do Irã na América Latina. Além disso, os EUA e a comunidade internacional devem considerar fortemente a necessidade de monitorar e sancionar o sistema bancário da Venezuela. A omissão vai deixar uma janela aberta, suscetível à lavagem de dinheiro pelo governo iraniano, e pelas organizações de narcóticos com laços com elementos corruptos no governo venezuelano, e com organizações terroristas apoiadas abertamente pelo Irã.
Morgenthau é o promotor público de Manhattan. Este artigo foi adaptado de um discurso de anteontem na Brookings Institution em Washington, DC The Wall Street Journal – 08/09/2009
Tradução de Arthur Mc para o MOVCC
Um comentário:
Que loucura disse Chávez em Belarus e na Rússia para obter armamento russo!
Por exemplo, ele disse que reconhece a independência das duas
regiões separatistas da Geórgia e que “E.U. é uma jibóia”.
Em resposta, Geórgia disse que "Chávez é uma figura marginal”. :)
Chávez disse que queria uma república "Venezuela-Belarus” :)
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