TRAMAS E MENTIRAS
Os mal embaralhados negócios de compras de armas chegam ao ponto em que suas muitas inverdades precisam cair
A compra de armamentos pesados toma ares de escândalo, com tantas tramas escusas, esboços estratégicos caóticos, volume fantástico e arbitrário de dinheiro e endividamento, e muitas inverdades como argumentos. A essa mixórdia, cujo conhecimento se vai extraindo a fórceps, agora os Estados Unidos sobrepõem um lance muito embaraçoso para o governo brasileiro. À parte o aspecto de negócio, que não faltaria em uma iniciativa norte-americana, o lance é deliberadamente embaraçoso para Lula e para a diplomacia brasileira. Por Jânio de Freitas
Trata-se da nota pública em que a Embaixada dos EUA, e portanto o Departamento de Estado, comunica ao governo brasileiro a disposição de também ceder as informações tecnológicas de construção do caça F-18E, caso o Brasil compre esse avião produzido pela Boeing. De qualidade aprovada no teste realista das guerras, e de preço muito menor que o Rafale francês escolhido a priori por Lula, o F-18 foi aqui descartado de um modo simplório que não poderá mais se manter. O governo Lula vai reconhecer para os Estados Unidos que não confia na geopolítica de Washington, como evidencia o desvio da conexão militar para a Europa, e quer disputar-lhe a primazia da influência na região e em algo mais? Imaginaria contentar os norte-americanos com pretensos motivos técnicos para preteri-los?
Os mal embaralhados negócios de compras chegam ao ponto em que suas muitas inverdades precisam cair. Já está claro que toda a transação foi armada com antecedência para o negócio com fabricantes franceses. Associação que não é má em si, mas se torna inaceitável por seus componentes próprios das tramoias. Com a demonstração definitiva, nesse sentido, que é a aberração da empreiteira Odebrecht metida na transação dos submarinos, para um negócio gigantesco sem licitação. E que não é pago pelos franceses, como pretende Nelson Jobim, mas pelos brasileiros, apenas com intermediação francesa. Há mentiras demais e escamoteios demais nessa corrida a armamentos pesados.
Frequentador habitual do "Painel dos Leitores", o capitão-de-mar-e-guerra reformado Paulo Marcos G. Lustoza é outra vez bem-vindo para dizer, agora, que "esqueço de mencionar", nos "artigos contra os submarinos franceses", que "os alemães não transferiram toda a tecnologia do submarino IKL", cujos sobressalentes custam ao Brasil 30% mais e cada revisão custa "quase outro submarino".
Não é esse ou aquele submarino que importa. É o negócio montado, são os aspectos civis da transação, e não os militares. E eu não esqueceria a informação que o missivista transmite. Se a Marinha não a escondesse, se a ela me desse algum modo de acesso. Mas é compreensível que não o faça. O custo de manutenção dos nossos cinco IKL, dando-se como precisas as afirmações da carta, atesta a compra incompetente feita pela Marinha: pagou pelo que não recebeu e paga pelo que não previu em contrato. O que estaria a reclamar providências bastante sérias, porque a coisa vem de longe.
Neste 2009 completam-se 50 anos de compra do porta-aviões aqui batizado de "Minas Gerais". Foi um escândalo no governo Juscelino, pelo preço pago aos ingleses, pelo ferro velho (como o chamavam) encostado desde a Segunda Guerra, pelo custo da reforma na Inglaterra e na Holanda, e pela quantidade de oficiais que passou um belo ano na Europa esperando o navio. O qual nunca se prestou no Brasil a decolagem/pouso de aviões, mas só a panes sucessivas, com folclórico arrombamento do casco para um reparo definitivamente ruinoso. Já no governo Fernando Henrique, houve a compra do atual porta-aviões, "Foch" na França e "São Paulo" aqui, cuja venda a Marinha francesa decidiu por causa do custo excessivo de manutenção do navio. É melhor o escândalo do que a repetição do que já foi feito com os piores resultados. Folha de S. Paulo
DONO DA DASSAULT CONTROLA JORNAL E APOIA SARKOZY NO SENADO
O presidente honorário da Dassault Aviation, Serge Dassault, 84, é senador desde 2004 pela UMP (União por um Movimento Popular), partido do presidente Nicolas Sarkozy. Seu grupo também controla, desde 2004, o tradicional jornal "Le Figaro". Formado em engenharia, Serge começou a trabalhar na empresa do pai, Marcel Dassault, como engenheiro. Assumiu a presidência do grupo em 1987. Em 2000 deixou a função para se tornar presidente honorário. Folha de S. Paulo
Os mal embaralhados negócios de compras de armas chegam ao ponto em que suas muitas inverdades precisam cair
A compra de armamentos pesados toma ares de escândalo, com tantas tramas escusas, esboços estratégicos caóticos, volume fantástico e arbitrário de dinheiro e endividamento, e muitas inverdades como argumentos. A essa mixórdia, cujo conhecimento se vai extraindo a fórceps, agora os Estados Unidos sobrepõem um lance muito embaraçoso para o governo brasileiro. À parte o aspecto de negócio, que não faltaria em uma iniciativa norte-americana, o lance é deliberadamente embaraçoso para Lula e para a diplomacia brasileira. Por Jânio de Freitas
Trata-se da nota pública em que a Embaixada dos EUA, e portanto o Departamento de Estado, comunica ao governo brasileiro a disposição de também ceder as informações tecnológicas de construção do caça F-18E, caso o Brasil compre esse avião produzido pela Boeing. De qualidade aprovada no teste realista das guerras, e de preço muito menor que o Rafale francês escolhido a priori por Lula, o F-18 foi aqui descartado de um modo simplório que não poderá mais se manter. O governo Lula vai reconhecer para os Estados Unidos que não confia na geopolítica de Washington, como evidencia o desvio da conexão militar para a Europa, e quer disputar-lhe a primazia da influência na região e em algo mais? Imaginaria contentar os norte-americanos com pretensos motivos técnicos para preteri-los?
Os mal embaralhados negócios de compras chegam ao ponto em que suas muitas inverdades precisam cair. Já está claro que toda a transação foi armada com antecedência para o negócio com fabricantes franceses. Associação que não é má em si, mas se torna inaceitável por seus componentes próprios das tramoias. Com a demonstração definitiva, nesse sentido, que é a aberração da empreiteira Odebrecht metida na transação dos submarinos, para um negócio gigantesco sem licitação. E que não é pago pelos franceses, como pretende Nelson Jobim, mas pelos brasileiros, apenas com intermediação francesa. Há mentiras demais e escamoteios demais nessa corrida a armamentos pesados.
Frequentador habitual do "Painel dos Leitores", o capitão-de-mar-e-guerra reformado Paulo Marcos G. Lustoza é outra vez bem-vindo para dizer, agora, que "esqueço de mencionar", nos "artigos contra os submarinos franceses", que "os alemães não transferiram toda a tecnologia do submarino IKL", cujos sobressalentes custam ao Brasil 30% mais e cada revisão custa "quase outro submarino".
Não é esse ou aquele submarino que importa. É o negócio montado, são os aspectos civis da transação, e não os militares. E eu não esqueceria a informação que o missivista transmite. Se a Marinha não a escondesse, se a ela me desse algum modo de acesso. Mas é compreensível que não o faça. O custo de manutenção dos nossos cinco IKL, dando-se como precisas as afirmações da carta, atesta a compra incompetente feita pela Marinha: pagou pelo que não recebeu e paga pelo que não previu em contrato. O que estaria a reclamar providências bastante sérias, porque a coisa vem de longe.
Neste 2009 completam-se 50 anos de compra do porta-aviões aqui batizado de "Minas Gerais". Foi um escândalo no governo Juscelino, pelo preço pago aos ingleses, pelo ferro velho (como o chamavam) encostado desde a Segunda Guerra, pelo custo da reforma na Inglaterra e na Holanda, e pela quantidade de oficiais que passou um belo ano na Europa esperando o navio. O qual nunca se prestou no Brasil a decolagem/pouso de aviões, mas só a panes sucessivas, com folclórico arrombamento do casco para um reparo definitivamente ruinoso. Já no governo Fernando Henrique, houve a compra do atual porta-aviões, "Foch" na França e "São Paulo" aqui, cuja venda a Marinha francesa decidiu por causa do custo excessivo de manutenção do navio. É melhor o escândalo do que a repetição do que já foi feito com os piores resultados. Folha de S. Paulo
DONO DA DASSAULT CONTROLA JORNAL E APOIA SARKOZY NO SENADO
O presidente honorário da Dassault Aviation, Serge Dassault, 84, é senador desde 2004 pela UMP (União por um Movimento Popular), partido do presidente Nicolas Sarkozy. Seu grupo também controla, desde 2004, o tradicional jornal "Le Figaro". Formado em engenharia, Serge começou a trabalhar na empresa do pai, Marcel Dassault, como engenheiro. Assumiu a presidência do grupo em 1987. Em 2000 deixou a função para se tornar presidente honorário. Folha de S. Paulo
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