A OMISSÃO DO PODER PÚBLICO
Armamentos percorrem aproximadamente 2.500 km em rodovias brasileiras até chegar aos traficantes no Rio de Janeiro
"A questão geográfica é um complicador", diz delegado da PF; custo de metralhadora antiaérea, capaz de derrubar aeronaves, chega a R$ 60 milPor R$ 60 mil, uma metralhadora antiaérea, capaz de derrubar helicópteros, comprada pelas facções criminosas, percorre até 2.500 km em rodovias brasileiras até chegar às favelas cariocas. De acordo com a polícia, as peças do arsenal do tráfico saem principalmente do Paraguai e da Bolívia.Nos últimos anos, as rotas de entrada de armas pela fronteira até o Rio passaram a ser as mesmas do tráfico de drogas. Por Cláudia Antunes, Italo Nogueira, Sergio Torres
As mais conhecidas começam no Brasil pela cidade de Corumbá (MS), com a entrada feita de barco pelo rio Paraguai, a partir da Bolívia; em Foz do Iguaçu e Guaíra (PR), pelo Paraguai; e por Rondônia, na fronteira com a Bolívia.
De acordo com a PF (Polícia Federal), há no Brasil 17 pontos de entrada de armas nas fronteiras com Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Entre janeiro de 2007 e agosto deste ano, 754 fuzis, metralhadoras e submetralhadoras -sendo 39 antiaéreas- foram apreendidas pela polícia do Rio, de acordo com o ISP (Instituto de Segurança Pública).
O arsenal representa 3% das armas apreendidas pela polícia no Rio. A estimativa é que desde 2000 a polícia retirou 3.500 armas de guerra do tráfico.
As armas pesadas começaram a chegar ao Rio no final da década de 80, com a venda de cocaína nos morros, mais lucrativa do que a maconha. O Estado acompanhou a "corrida armamentista".
Em 95, a polícia comprou o primeiro lote de fuzis. Nos últimos dois anos, o governo empenhou ao menos R$ 27,5 milhões do orçamento na compra de armas, aeronaves e cabines blindadas, segundo dados do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
"Se não tivermos paridade em armamento, não vamos fazer frente às armas que os traficantes têm", diz o subchefe da Polícia Civil do Rio, delegado Carlos Oliveira.
As armas contrabandeadas chegam em carros de passeio, caminhonetes e ônibus de linhas regulares interestaduais. O "mula" (condutor da carga) geralmente leva até dez armas pesadas, pistolas e munição. Elas ficam escondidas em compartimentos dos veículos.
Grampo da Polícia Civil mostra Antônio Gonçalves, o Toni, acusado de negociar armas com traficantes, intermediando a venda de fuzis e de metralhadoras com criminosos do Comando Vermelho e um homem na Bolívia.
Ele comprou dez fuzis e dez pistolas a US$ 86 mil (R$ 147 mil). O material é repassado aos poucos para traficantes por cerca de R$ 500 mil.
Toni também trouxe uma metralhadora .30. Segundo a polícia, revendeu-a por R$ 60 mil. Sua rota passou pelas cidades de Corumbá (MS), Campo Grande (MS), Caldas Novas (GO) e Uberlândia (MG), antes de chegar ao Rio. A arma percorreu 2.500 km até ser entregue a traficantes do complexo do Alemão (zona norte).
"Temos 16 mil km de fronteira seca. A questão geográfica é um complicador. O tráfico de armas é "formiguinha", aos poucos", diz Rafael Floriani, delegado da Divisão de Repressão ao Tráfico de Armas da PF. Segundo policiais e pesquisadores, os traficantes se armam principalmente para defender o território dos ataques da facção inimiga. Chefes do tráfico trocam entre si fuzis e metralhadoras para invasões como na semana passada, no morro dos Macacos. Quem perde um fuzil pode morrer.
Oliveira estima que haja 60 fuzis no complexo do Alemão, reduto do Comando Vermelho - Folha de S. Paulo
CONTRABANDO SEM LIMITES
Com uma fiscalização insuficiente e desordenada, as fronteiras do Brasil continuam vulneráveis à ação do contrabando.
Levantamento do Sindireceita (sindicato dos analistas tributários da Receita) ao longo de 6.000 km, entre o Rio Grande do Sul e Mato Grosso, constatou que postos do fisco em 16 cidades de cinco Estados estão sem auditores e estrutura para o trabalho da aduana. Ainda que tenha sido feito por um sindicato -o que pressupõe interesse por aumento de vagas e benefícios-, o levantamento parece persuasivo.
Pululam registros de omissão do poder público, o que abre passagem para a entrada ilegal de produtos, armas e drogas. Na fronteira do Brasil com a Argentina contam-se 71 servidores, quando -ao menos na visão do sindicato- o número aceitável deveria ser pelo menos o dobro. Em Cáceres (MT), na divisa com a Bolívia, há mais de um ano não é realizada ação de vigilância e repressão na área de aduana.
Esses fatos confirmam a debilidade da estrutura nacional voltada ao controle dos mais de 15 mil km de fronteira seca do país. A formulação de um plano público deveria contemplar a criação de incentivos para que funcionários se disponham a atuar na divisa. É lamentável que o Estado não ofereça condições mínimas de segurança em postos do fisco -muitas vezes, situam-se em áreas inóspitas, à mercê da ação criminosa.
A eficácia do controle depende da integração entre Receita e Polícia Federal. Tal colaboração constitui uma obviedade; no entanto, somente neste ano as instituições assinaram um acordo. As apreensões de produtos contrabandeados cresceram nos últimos meses. O avanço, contudo, é tímido. Cumpre à Receita instituir diretrizes claras que sirvam como base para ações efetivas de combate ao contrabando. Sem isso, não haverá limites para o mercado ilegal. Editorial Folha de S. Paulo
Armamentos percorrem aproximadamente 2.500 km em rodovias brasileiras até chegar aos traficantes no Rio de Janeiro
"A questão geográfica é um complicador", diz delegado da PF; custo de metralhadora antiaérea, capaz de derrubar aeronaves, chega a R$ 60 milPor R$ 60 mil, uma metralhadora antiaérea, capaz de derrubar helicópteros, comprada pelas facções criminosas, percorre até 2.500 km em rodovias brasileiras até chegar às favelas cariocas. De acordo com a polícia, as peças do arsenal do tráfico saem principalmente do Paraguai e da Bolívia.Nos últimos anos, as rotas de entrada de armas pela fronteira até o Rio passaram a ser as mesmas do tráfico de drogas. Por Cláudia Antunes, Italo Nogueira, Sergio Torres
As mais conhecidas começam no Brasil pela cidade de Corumbá (MS), com a entrada feita de barco pelo rio Paraguai, a partir da Bolívia; em Foz do Iguaçu e Guaíra (PR), pelo Paraguai; e por Rondônia, na fronteira com a Bolívia.
De acordo com a PF (Polícia Federal), há no Brasil 17 pontos de entrada de armas nas fronteiras com Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Entre janeiro de 2007 e agosto deste ano, 754 fuzis, metralhadoras e submetralhadoras -sendo 39 antiaéreas- foram apreendidas pela polícia do Rio, de acordo com o ISP (Instituto de Segurança Pública).
O arsenal representa 3% das armas apreendidas pela polícia no Rio. A estimativa é que desde 2000 a polícia retirou 3.500 armas de guerra do tráfico.
As armas pesadas começaram a chegar ao Rio no final da década de 80, com a venda de cocaína nos morros, mais lucrativa do que a maconha. O Estado acompanhou a "corrida armamentista".
Em 95, a polícia comprou o primeiro lote de fuzis. Nos últimos dois anos, o governo empenhou ao menos R$ 27,5 milhões do orçamento na compra de armas, aeronaves e cabines blindadas, segundo dados do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
"Se não tivermos paridade em armamento, não vamos fazer frente às armas que os traficantes têm", diz o subchefe da Polícia Civil do Rio, delegado Carlos Oliveira.
As armas contrabandeadas chegam em carros de passeio, caminhonetes e ônibus de linhas regulares interestaduais. O "mula" (condutor da carga) geralmente leva até dez armas pesadas, pistolas e munição. Elas ficam escondidas em compartimentos dos veículos.
Grampo da Polícia Civil mostra Antônio Gonçalves, o Toni, acusado de negociar armas com traficantes, intermediando a venda de fuzis e de metralhadoras com criminosos do Comando Vermelho e um homem na Bolívia.
Ele comprou dez fuzis e dez pistolas a US$ 86 mil (R$ 147 mil). O material é repassado aos poucos para traficantes por cerca de R$ 500 mil.
Toni também trouxe uma metralhadora .30. Segundo a polícia, revendeu-a por R$ 60 mil. Sua rota passou pelas cidades de Corumbá (MS), Campo Grande (MS), Caldas Novas (GO) e Uberlândia (MG), antes de chegar ao Rio. A arma percorreu 2.500 km até ser entregue a traficantes do complexo do Alemão (zona norte).
"Temos 16 mil km de fronteira seca. A questão geográfica é um complicador. O tráfico de armas é "formiguinha", aos poucos", diz Rafael Floriani, delegado da Divisão de Repressão ao Tráfico de Armas da PF. Segundo policiais e pesquisadores, os traficantes se armam principalmente para defender o território dos ataques da facção inimiga. Chefes do tráfico trocam entre si fuzis e metralhadoras para invasões como na semana passada, no morro dos Macacos. Quem perde um fuzil pode morrer.
Oliveira estima que haja 60 fuzis no complexo do Alemão, reduto do Comando Vermelho - Folha de S. Paulo
CONTRABANDO SEM LIMITES
Com uma fiscalização insuficiente e desordenada, as fronteiras do Brasil continuam vulneráveis à ação do contrabando.
Levantamento do Sindireceita (sindicato dos analistas tributários da Receita) ao longo de 6.000 km, entre o Rio Grande do Sul e Mato Grosso, constatou que postos do fisco em 16 cidades de cinco Estados estão sem auditores e estrutura para o trabalho da aduana. Ainda que tenha sido feito por um sindicato -o que pressupõe interesse por aumento de vagas e benefícios-, o levantamento parece persuasivo.
Pululam registros de omissão do poder público, o que abre passagem para a entrada ilegal de produtos, armas e drogas. Na fronteira do Brasil com a Argentina contam-se 71 servidores, quando -ao menos na visão do sindicato- o número aceitável deveria ser pelo menos o dobro. Em Cáceres (MT), na divisa com a Bolívia, há mais de um ano não é realizada ação de vigilância e repressão na área de aduana.
Esses fatos confirmam a debilidade da estrutura nacional voltada ao controle dos mais de 15 mil km de fronteira seca do país. A formulação de um plano público deveria contemplar a criação de incentivos para que funcionários se disponham a atuar na divisa. É lamentável que o Estado não ofereça condições mínimas de segurança em postos do fisco -muitas vezes, situam-se em áreas inóspitas, à mercê da ação criminosa.
A eficácia do controle depende da integração entre Receita e Polícia Federal. Tal colaboração constitui uma obviedade; no entanto, somente neste ano as instituições assinaram um acordo. As apreensões de produtos contrabandeados cresceram nos últimos meses. O avanço, contudo, é tímido. Cumpre à Receita instituir diretrizes claras que sirvam como base para ações efetivas de combate ao contrabando. Sem isso, não haverá limites para o mercado ilegal. Editorial Folha de S. Paulo
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