Fronteiras abertas: caminho livre para as drogas

Federação denuncia abandono da fronteira fluvial com a Colômbia, o Peru e a Bolívia

Considerada uma prioridade para a garantia da soberania do país, a fiscalização das fronteiras continua de mal a pior. Pelo menos no que diz respeito à fronteira fluvial com a Colômbia, Bolívia e Peru, responsáveis por grande parte da origem da droga que chega ao Brasil. A crise na fiscalização da Polícia Federal é evidenciada pelo descumprimento da promessa do superintendente da PF no Pará, Manoel Fernando Abbadi, de retomar, há cerca de 30 dias, as atividades de uma das mais importantes bases flutuantes da região, a unidade Candiru, localizada em Óbidos (PA). A constatação é da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef). Por Danielle Santos

Segundo o diretor de relações de trabalho da Fenapef, Francisco Sabino, a situação é crítica porque demonstra a fragilidade do órgão em um ponto tão estratégico como o da região amazônica. "Cerca de 80% das drogas que chegam no país vêm por rotas fluviais como essa, que estão livres para os traficantes agirem como quiserem. Podemos dizer que a porteira está aberta para o contrabando", denuncia.

A federação esteve na região antes do fechamento da unidade e constatou que além da falta de efetivo e de equipamentos, as condições de trabalho eram degradantes. E fez um alerta ainda mais grave: "Hoje, deveríamos ter um efetivo de 180 profissionais para atuar na operação de fronteira entre Brasil e Colômbia em sete bases de fiscalização, entre flutuantes e terrestres, mas todas estão desativadas ou em situação inadequada de trabalho".

Só a Candiru foi responsável, em 2008, pela apreensão de 600 quilos de droga, a maioria cocaína. Quantidade bem inferior das cargas que realmente transitam pelas águas do Amazonas devido ao baixo número de pessoal, que não consegue captar embarcações que burlam a rota, diz a federação.

Outra base da PF na mesma situação de abandono é a Anzol, situada em Tabatinga (AM), às margens do Rio Solimões. Considerada ainda mais importante pelos agentes pelo fato de ter sido "modelo para o desenvolvimento de novos métodos de combate ao tráfico na região e de aprimoramento dos profissionais", a unidade foi desativada em abril deste ano, sem previsão para retomada. Por lá, foram apreendidos 700 quilos de cocaína no ano passado. A insegurança causada com a retirada da balsa provocou a interferência da Procuradoria Geral da República em Tabatinga, que exigiu o acompanhamento do caso com pedido de relatórios mensais, informando o andamento da licitação das empresas responsáveis pela reforma da unidade.

Contradições Apesar das denúncias, os responsáveis pelas bases de fiscalização negam que os trabalhos estejam paralisados por causa da retirada das balsas e garantem que e a presença de funcionários na região continua por meio de monitoramento com lanchas. "Não é a situação mais adequada, mas mantemos duas equipes para percorrer toda a extensão necessária e não deixar de realizar os trabalhos necessários", afirma o superintendente da Polícia Federal no Pará, Manoel Fernando Abbadi.

O superintendente da PF no Amazonas, Sérgio Fontes, foi além e disse que depois da desativação da base Anzol, as condições de trabalho ficaram mais favoráveis porque o deslocamento de lanchas possibilita uma movimentação maior dos agentes por entre os cursos do rio, permitindo uma abordagem maior de embarcações. Segundo ele, a base deve voltar à fronteira em meados de janeiro do ano que vem. "Estamos fazendo nossas patrulhas normalmente e não diminuiu em nada a quantidade de entorpecentes apreendidos, podendo dizer, inclusive, que o número deve ser até maior devido a mudança de estratégia".

Sobre a quantidade de pessoal, o delegado concorda que o número é insuficiente, mas que a PF está investindo na região. "A base vai voltar com força total e ainda teremos mais novidades com a chegada de um veículo aéreo não tripulado, capaz de controlar o narcotráfico, crimes ambientais e outros, além da vinda de pessoal com o último concurso público da polícia, que já destina um público específico para atuação na fronteira".

Reação A reação diante das declarações dos superintendentes foi imediata. "Isso não está ocorrendo, não sei por que eles dizem isso à imprensa", disse Francisco Sabino. Sobre o trabalho dos agentes com lanchas, o diretor afirma que a atividade só seria possível se a PF tivesse requisitado profissionais habilitados para a operação dessas máquinas. Ele ainda reclama da falta de atenção com os funcionários da região, desassistidos pela corporação. Estado de Minas

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