Leio em jornais brasileiros que a Blue State Digital, empresa norte-americana que estruturou o suporte tecnológico para viabilizar a bem-sucedida campanha de marketing de Barack Obama na Internet, está de malas prontas para desembarcar nas eleições presidenciais do próximo ano, no Brasil. Pelas mãos do engenheiro elétrico Ben Self, sócio da companhia, o efeito Obama poderá dar resultados na Terra Brasilis.
Não acredito. Recorro ao arquivo pessoal onde guardo, cuidadosamente, artigos e livros adquiridos nesses quase três anos de estudo na Universidade de Harvard, em que há um pouco de tudo, especialmente Política. Por Rosane Santana
Releio, então, uma esclarecedora entrevista de Eli Pariser, diretor executivo do Moveon.org Politic Action sobre como a Internet está revolucionando a política, concedida a revista Rolling Stone, em novembro de 2007.
Criada há 10 anos, a Moveon é uma organização que congrega cinco milhões de internautas ativistas, nos Estados Unidos, e foi um dos principais responsáveis pelas milionárias arrecadações e sucesso de Obama no mundo virtual, embora muitos continuem a pensar que Obama inventou o Blackberry e descobriu a Internet. Simpatizante do Partido Democrata, a Moveon decidiu pelo apoio a Barack Obama, entre outras coisas, porque os Clinton eram considerados muito próximos de George Bush, especialmente em questões de política externa, tendo a senadora Hillary apoiado a invasão do Iraque.
Eli Pariser diz que a maior contribuição que a revolução tecnológica trouxe para a política é a possibilidade de dialogar com eleitores em tempo real e realizar mudanças rapidamente, diferentes dos tempos em que os contatos com senadores e deputados, por exemplo, eram praticamente impossíveis ou levavam muito tempo, quando uma lei ou uma proposta já não podia ser modificada.
No futuro, ele acredita que alguém vai experimentar uma estrutura de decisão democrática que tirará o máximo proveito da tecnologia. Provavelmente, segundo Eli Pariser, o modo como irá funcionar é que eleitores terão representantes sobre várias questões. "Eu poderia decidir que você (o entrevistador) é meu representante em meio ambiente. Cada vez que você votar, eu recebo um e-mail que diz: "Ele votou, sim, em painéis solares". Se eu não gosto da maneira que você esta votando, eu vou escolher outro representante. Se 100.000 pessoas dão a você uma representação você pode influenciar..."
Como imaginar, no curto prazo, uma estrutura dessa natureza funcionando no Brasil, país onde a região Norte não conhece banda larga, segundo informações que me chegam por telefone, e boa parte do território não possui sequer energia elétrica? Superados os entraves de infraestrutura, cairemos na questão da democratização da tecnologia. Aqui nos Estados entre pobres e ricos, negros e brancos, gregos e troianos, o uso de tecnologia de ponta está disseminado em toda a parte.
Computadores, microcomputadores e afins são acessíveis à população de tal forma, que é difícil você encontrar hoje um celular que não seja iPhone ou BlackBarry, por exemplo. Lan houses praticamente não existem (nunca vi), porque se alguém não pode adquirir um bom computador, a biblioteca pública tem centenas deles à disposição. A maioria dos estudantes maneja computadores desde a escola fundamental sem risco de sofrer violência, isto é, ser assaltado na próxima esquina. Em muitas salas de aula, computadores tomam o lugar do quadro negro para o ensino de ciência, matemática, português etc. e tal.
Além da cultura tecnológica, há ainda o que eu chamaria de cultura cidadã, adquirida por anos de valorização da educação. O historiador americano John Lukács diz que, nos Estados Unidos, "desde o início do século XX, a mania nacional de educação havia se tornado parte do credo norte-americano", abraçado por gente de todos os matizes políticas, republicanos e democratas, capitalistas e socialistas etc.
Isso significa dizer que a maioria das crianças freqüenta escola e que o índice de analfabetismo é quase zero. Isso explica, além do desenvolvimento científico e tecnológico alcançado pelos Estados Unidos, a formação de pensamento crítico, capacidade de autodeterminação nas escolhas pessoais e profissionais, incluindo política, e, ao longo dos anos, o surgimento de organizações como o Moveon, que, aproveitando as possibilidades oferecidas pela Internet, está mudando a história política dos EUA.
Como no Brasil, lembrando Oliveira Viana, tudo acontece por decreto, de cima para baixo, a utilização da tecnologia na política será instrumento do partido do governo e com dinheiro público, tudo indica, haja vista a presença de assessores palacianos em seminários e negociações com a empresa de Ben Self. Coisa muito diferente do que ocorreu nas eleições americanas.
Rosane Santana é jornalista, mestre em História pela UFBA, mora atualmente em Boston (EUA) e estuda em Harvard. Terramagazine
BANDA-LARGA NA REGIÃO NORTE/NORDESTE?
O Piauí não pode
O último censo do IBGE sobre analfabetismo encontrou no Piauí uma situação chocante: cerca de 20% da população, ou 563 mil pessoas, não sabem ler nem escrever. No governo do petista Wellington Dias, o Estado serviu de laboratório para a implantação do programa de alfabetização cubano “Yo, si puedo” e importou de Havana o professor Carlos Martinez. Ainda não deu certo.- por Octávio Costa – Revista IstoÉ
Não acredito. Recorro ao arquivo pessoal onde guardo, cuidadosamente, artigos e livros adquiridos nesses quase três anos de estudo na Universidade de Harvard, em que há um pouco de tudo, especialmente Política. Por Rosane Santana
Releio, então, uma esclarecedora entrevista de Eli Pariser, diretor executivo do Moveon.org Politic Action sobre como a Internet está revolucionando a política, concedida a revista Rolling Stone, em novembro de 2007.
Criada há 10 anos, a Moveon é uma organização que congrega cinco milhões de internautas ativistas, nos Estados Unidos, e foi um dos principais responsáveis pelas milionárias arrecadações e sucesso de Obama no mundo virtual, embora muitos continuem a pensar que Obama inventou o Blackberry e descobriu a Internet. Simpatizante do Partido Democrata, a Moveon decidiu pelo apoio a Barack Obama, entre outras coisas, porque os Clinton eram considerados muito próximos de George Bush, especialmente em questões de política externa, tendo a senadora Hillary apoiado a invasão do Iraque.
Eli Pariser diz que a maior contribuição que a revolução tecnológica trouxe para a política é a possibilidade de dialogar com eleitores em tempo real e realizar mudanças rapidamente, diferentes dos tempos em que os contatos com senadores e deputados, por exemplo, eram praticamente impossíveis ou levavam muito tempo, quando uma lei ou uma proposta já não podia ser modificada.
No futuro, ele acredita que alguém vai experimentar uma estrutura de decisão democrática que tirará o máximo proveito da tecnologia. Provavelmente, segundo Eli Pariser, o modo como irá funcionar é que eleitores terão representantes sobre várias questões. "Eu poderia decidir que você (o entrevistador) é meu representante em meio ambiente. Cada vez que você votar, eu recebo um e-mail que diz: "Ele votou, sim, em painéis solares". Se eu não gosto da maneira que você esta votando, eu vou escolher outro representante. Se 100.000 pessoas dão a você uma representação você pode influenciar..."
Como imaginar, no curto prazo, uma estrutura dessa natureza funcionando no Brasil, país onde a região Norte não conhece banda larga, segundo informações que me chegam por telefone, e boa parte do território não possui sequer energia elétrica? Superados os entraves de infraestrutura, cairemos na questão da democratização da tecnologia. Aqui nos Estados entre pobres e ricos, negros e brancos, gregos e troianos, o uso de tecnologia de ponta está disseminado em toda a parte.
Computadores, microcomputadores e afins são acessíveis à população de tal forma, que é difícil você encontrar hoje um celular que não seja iPhone ou BlackBarry, por exemplo. Lan houses praticamente não existem (nunca vi), porque se alguém não pode adquirir um bom computador, a biblioteca pública tem centenas deles à disposição. A maioria dos estudantes maneja computadores desde a escola fundamental sem risco de sofrer violência, isto é, ser assaltado na próxima esquina. Em muitas salas de aula, computadores tomam o lugar do quadro negro para o ensino de ciência, matemática, português etc. e tal.
Além da cultura tecnológica, há ainda o que eu chamaria de cultura cidadã, adquirida por anos de valorização da educação. O historiador americano John Lukács diz que, nos Estados Unidos, "desde o início do século XX, a mania nacional de educação havia se tornado parte do credo norte-americano", abraçado por gente de todos os matizes políticas, republicanos e democratas, capitalistas e socialistas etc.
Isso significa dizer que a maioria das crianças freqüenta escola e que o índice de analfabetismo é quase zero. Isso explica, além do desenvolvimento científico e tecnológico alcançado pelos Estados Unidos, a formação de pensamento crítico, capacidade de autodeterminação nas escolhas pessoais e profissionais, incluindo política, e, ao longo dos anos, o surgimento de organizações como o Moveon, que, aproveitando as possibilidades oferecidas pela Internet, está mudando a história política dos EUA.
Como no Brasil, lembrando Oliveira Viana, tudo acontece por decreto, de cima para baixo, a utilização da tecnologia na política será instrumento do partido do governo e com dinheiro público, tudo indica, haja vista a presença de assessores palacianos em seminários e negociações com a empresa de Ben Self. Coisa muito diferente do que ocorreu nas eleições americanas.
Rosane Santana é jornalista, mestre em História pela UFBA, mora atualmente em Boston (EUA) e estuda em Harvard. Terramagazine
BANDA-LARGA NA REGIÃO NORTE/NORDESTE?
O Piauí não pode
O último censo do IBGE sobre analfabetismo encontrou no Piauí uma situação chocante: cerca de 20% da população, ou 563 mil pessoas, não sabem ler nem escrever. No governo do petista Wellington Dias, o Estado serviu de laboratório para a implantação do programa de alfabetização cubano “Yo, si puedo” e importou de Havana o professor Carlos Martinez. Ainda não deu certo.- por Octávio Costa – Revista IstoÉ
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