Milícia de voluntários, Basij monitora e reprime opositores

Eles são invisíveis aos olhos do ocidental desavisado, mas os iranianos sabem reconhecê-los até no meio da multidão.

Os homens e mulheres que formam a milícia pró-governo Basij estão infiltrados em todos os setores da sociedade, servindo como principal instrumento de monitoramento da oposição no conturbado cenário que sucedeu a eleição presidencial de 12 de junho.

Vestidos à paisana, os basijs são os olhos, ouvidos e braços do regime. Sozinhos ou em grupo, percorrem todos os lugares públicos sem alarde e entram em ação ao menor sinal de atividade política antigoverno.

Os basijs podem reprimir verbalmente cantos oposicionistas improvisados no meio da rua, recolher panfletos políticos ou recorrer à violência quando julgam necessário.

A milícia é tida como responsável pela morte de Neda Agha-Soltan, 27, em uma manifestação no dia 20 de junho. A cena foi flagrada por um celular e tornou-se símbolo da oposição.

Os basijs também são responsabilizados pelo ataque que destruiu um alojamento da Universidade de Teerã. Além da função política, a força zela pelo cumprimento das normas morais. Milicianos controlam a identidade de casais que andam de mãos dadas em público -só pode quem for casado- e interpelam mulheres que deixam muito cabelo à mostra por baixo do véu.

"Elas podem ser presas e chicoteadas, mas antes de chegar a esse ponto, nós avisamos reiteradas vezes para que entendam que estão faltando com a moral, e que o véu serve para protegê-las", diz Aliakbar Soltani, 24, basij desde os 7.

Maysam Ghasemi, 29, admite que "abusos" são cometidos. "Algumas ações mancham nossa reputação, mas existimos para ajudar o país", diz.

Ghasemi diz que cada basij serve a população como puder. Cientista político, ele dá aulas de reforço escolar e organiza torneios de futebol para crianças pobres. Segundo ele, há médicos e engenheiros que trabalham de graça "para o povo".

Tanto Ghasemi como Soltani têm características que ajudam a identificar os basijs homens: cabelo e barba curtos, anel de pedra na mão e casaco de tecido leve parecido com os do presidente Mahmoud Ahmadinejad -que foi basij nos anos 80.

A estudante de computação Mona Salehfard, 21, coberta de preto da cabeça aos pés, dá aulas de informática em favelas.

A Basij foi criada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini (1900-1989) logo após a proclamação da República Islâmica, em 1979, como força paramilitar de cidadãos voluntários. Um ano depois, a milícia foi convocada a lutar contra as tropas invasoras do iraquiano Saddam Hussein. Reza a lenda que basijs se atiravam sobre minas, sacrificando suas vidas para permitir o avanço das tropas iranianas.

Só 1% dos cerca de 12 milhões de basijs estão armados e integram oficialmente a folha de pagamento do governo. Os demais são integrantes que dedicam 20 horas mensais à milícia em troca de benefícios sociais e do prestígio diante de setores mais conservadores. (SA)

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