O rápido aumento dos gastos correntes, o baixo nível de investimento público em infraestrutura e a generosidade com que o governo Lula continua a beneficiar alguns setores com isenções ou reduções tributárias tornam crescente, dentro e fora do País, a desconfiança com relação à sustentabilidade da política fiscal petista.
Uma análise do grupo financeiro americano Morgan Stanley sobre os desafios fiscais de longo prazo que esperam o governo brasileiro a partir de 2011 deixa claro que o equilíbrio das contas públicas não poderá mais se basear, como ocorreu até agora, na crescente elevação da carga tributária. O brasileiro não tem como pagar mais impostos. É preciso interromper a tendência de aumento dos gastos correntes, para aumentar os investimentos públicos em infraestrutura sem novos aumentos dos tributos. Isso exige uma nova política fiscal. Editorial O Estado de S. Paulo
Assinada por Marcelo Carvalho, a análise do Morgan Stanley mostra que a crise financeira iniciada em setembro de 2008 piorou a situação das contas públicas, mas reconhece que, daqui para a frente, o governo conta com a recomposição da arrecadação, decorrente da recuperação da economia, para melhorar alguns indicadores da política fiscal. No entanto, os efeitos de muitas decisões tomadas nos últimos tempos, e que resultaram em aumentos de despesas, são de longa duração.
Por isso, o governo a ser eleito em 2010, qualquer que seja o vencedor, terá de encarar desde o primeiro dia de mandato sérios desafios para manter a estabilidade das contas públicas e restaurar a credibilidade da política fiscal, essenciais para o crescimento. Esta será uma das muitas heranças dos oito anos de governo Lula.
É notória a deterioração dos indicadores da política fiscal petista. O superávit primário reduziu-se para apenas 1% do PIB brasileiro nos 12 meses encerrados em outubro, um resultado muito inferior ao saldo positivo de 4,3% registrado nos 12 meses encerrados em outubro do ano passado. Considerados os juros da dívida pública, o resultado de 12 meses até outubro deste ano é um déficit nominal equivalente a 4,6% do PIB, contra 1,3% do PIB em outubro do ano passado.
Comparados com os dos demais 20 maiores países do mundo, os gastos adicionais do governo brasileiro para enfrentar a crise estão entre os menores, como proporção do PIB. Mas, ao contrário do que fizeram os demais países do G-20, que aumentaram os investimentos em infraestrutura, o Brasil passou a gastar mais com a folha de pessoal e com a Previdência, observa o Morgan Stanley. O País precisa investir pesadamente em infraestrutura, mas tem investido muito pouco em boas estradas, ferrovias, portos e aeroportos, energia e telecomunicações. Essa política compromete o crescimento futuro.
O estudo considera que um superávit primário de 1% a 2% é suficiente para manter a atual proporção entre a dívida pública e o PIB. Mas, com o aumento constante das despesas, como vem ocorrendo há anos, a manutenção desse superávit, mesmo não sendo muito elevado, vem exigindo um aumento também constante da carga tributária, que passou de cerca de 25% do PIB na década de 1990, chegou a 36% em 2008 e, ao ritmo atual, pode chegar a 40% na próxima década. É uma carga muito alta, se comparada com a dos demais países latino-americanos. É comparável com a de países europeus, mas estes oferecem aos contribuintes serviços públicos compatíveis com essa carga, o que está longe de ocorrer no Brasil.
Além de apresentar resultados cada vez piores, a política fiscal ficou turva. Para atingir as metas de superávit primário, que foram reduzidas, o governo excluiu as empresas estatais do cômputo dos resultados fiscais e os investimentos nos Programas Piloto de Investimento (PPIs) e no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do cálculo dos gastos públicos.
Para evitar um desequilíbrio ainda maior das contas públicas, o próximo governo terá, ao mesmo tempo, de conter os gastos, sem afetar áreas essenciais como educação e saúde, e aumentar os investimentos em infraestrutura, sem aumentar os impostos. Austeridade, competência, responsabilidade, visão de longo prazo são essenciais para executar uma política desse tipo.
Uma análise do grupo financeiro americano Morgan Stanley sobre os desafios fiscais de longo prazo que esperam o governo brasileiro a partir de 2011 deixa claro que o equilíbrio das contas públicas não poderá mais se basear, como ocorreu até agora, na crescente elevação da carga tributária. O brasileiro não tem como pagar mais impostos. É preciso interromper a tendência de aumento dos gastos correntes, para aumentar os investimentos públicos em infraestrutura sem novos aumentos dos tributos. Isso exige uma nova política fiscal. Editorial O Estado de S. Paulo
Assinada por Marcelo Carvalho, a análise do Morgan Stanley mostra que a crise financeira iniciada em setembro de 2008 piorou a situação das contas públicas, mas reconhece que, daqui para a frente, o governo conta com a recomposição da arrecadação, decorrente da recuperação da economia, para melhorar alguns indicadores da política fiscal. No entanto, os efeitos de muitas decisões tomadas nos últimos tempos, e que resultaram em aumentos de despesas, são de longa duração.
Por isso, o governo a ser eleito em 2010, qualquer que seja o vencedor, terá de encarar desde o primeiro dia de mandato sérios desafios para manter a estabilidade das contas públicas e restaurar a credibilidade da política fiscal, essenciais para o crescimento. Esta será uma das muitas heranças dos oito anos de governo Lula.
É notória a deterioração dos indicadores da política fiscal petista. O superávit primário reduziu-se para apenas 1% do PIB brasileiro nos 12 meses encerrados em outubro, um resultado muito inferior ao saldo positivo de 4,3% registrado nos 12 meses encerrados em outubro do ano passado. Considerados os juros da dívida pública, o resultado de 12 meses até outubro deste ano é um déficit nominal equivalente a 4,6% do PIB, contra 1,3% do PIB em outubro do ano passado.
Comparados com os dos demais 20 maiores países do mundo, os gastos adicionais do governo brasileiro para enfrentar a crise estão entre os menores, como proporção do PIB. Mas, ao contrário do que fizeram os demais países do G-20, que aumentaram os investimentos em infraestrutura, o Brasil passou a gastar mais com a folha de pessoal e com a Previdência, observa o Morgan Stanley. O País precisa investir pesadamente em infraestrutura, mas tem investido muito pouco em boas estradas, ferrovias, portos e aeroportos, energia e telecomunicações. Essa política compromete o crescimento futuro.
O estudo considera que um superávit primário de 1% a 2% é suficiente para manter a atual proporção entre a dívida pública e o PIB. Mas, com o aumento constante das despesas, como vem ocorrendo há anos, a manutenção desse superávit, mesmo não sendo muito elevado, vem exigindo um aumento também constante da carga tributária, que passou de cerca de 25% do PIB na década de 1990, chegou a 36% em 2008 e, ao ritmo atual, pode chegar a 40% na próxima década. É uma carga muito alta, se comparada com a dos demais países latino-americanos. É comparável com a de países europeus, mas estes oferecem aos contribuintes serviços públicos compatíveis com essa carga, o que está longe de ocorrer no Brasil.
Além de apresentar resultados cada vez piores, a política fiscal ficou turva. Para atingir as metas de superávit primário, que foram reduzidas, o governo excluiu as empresas estatais do cômputo dos resultados fiscais e os investimentos nos Programas Piloto de Investimento (PPIs) e no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do cálculo dos gastos públicos.
Para evitar um desequilíbrio ainda maior das contas públicas, o próximo governo terá, ao mesmo tempo, de conter os gastos, sem afetar áreas essenciais como educação e saúde, e aumentar os investimentos em infraestrutura, sem aumentar os impostos. Austeridade, competência, responsabilidade, visão de longo prazo são essenciais para executar uma política desse tipo.
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