"Forças Armadas à míngua"

Estão destruindo a instituição na qual o povo mais confia - MOVCC

O orçamento do Ministério da Defesa continua sendo absorvido, em níveis alarmantes, pelo pagamento dos salários dos 427 mil militares da ativa e das aposentadorias e pensões dos 138 mil inativos e dos 191 mil pensionistas. Segundo levantamento do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), divulgado pelo jornal O Globo, de cada R$ 100 que o Ministério da Defesa desembolsa anualmente, R$ 80 são destinados a pagamento de pessoal ativo e inativo. Dos R$ 20 restantes, 13,7% são gastos com custeio e apenas 6,74% com investimentos. Os números foram extraídos do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). Editorial O Estado de São Paulo

O estudo também mostra que esse padrão de gasto vem se mantendo há 14 anos e prevê que o déficit previdenciário das Forças Armadas, que hoje é de cerca de R$ 5 bilhões, continuará crescendo mesmo que os quadros de pessoal do Exército, da Marinha e da Aeronáutica não sejam aumentados nas próximas décadas.

No valor de mais de R$ 50 bilhões, o orçamento do Ministério da Defesa é o terceiro maior da União, ficando atrás apenas dos orçamentos dos Ministérios da Saúde e da Previdência Social. Comparativamente, contudo, os gastos com a folha de pagamento da Defesa são superiores aos das demais Pastas. Segundo o Instituto de Economia da UFRJ, em 2008 o Ministério da Defesa gastou 63% de seu orçamento só com inativos e pensionistas - ante 18% no Ministério da Saúde e 43% no Ministério da Educação.

Como não sobram recursos suficientes para treinamento adequado, para manutenção de equipamentos, para aquisição de peças e para investimentos na renovação de equipamentos, as Forças Armadas enfrentam enormes dificuldades operacionais. Ao participar de uma audiência na Câmara dos Deputados há dois anos, o comandante da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, disse que, dentro de 15 anos, 87% dos navios de guerra do País terão de ser aposentados por obsolescência. As corvetas e fragatas das décadas de 1970 e 1980, por exemplo, já estão passando por um processo de canibalização, pois para manter uma embarcação em operação é preciso retirar peças de outra.

Problemas semelhantes vêm ocorrendo no Exército, onde a maioria dos fuzis tem mais de 40 anos. Por absoluta falta de recursos para pagamento de água, luz, telefone e alimentação, há três meses o comando do Exército ordenou a redução do expediente. Às segundas-feiras, os trabalhos só começam após o almoço e, às sextas, terminam antes dele. A regra vale para todos - dos recrutas aos oficiais de maior patente, inclusive generais.

Em nota, o Ministério da Defesa afirma que não há vínculo direto entre orçamentos de custeio e investimento e despesas com pessoal ativo e inativo. A nota também afirma que o problema "das despesas previdenciárias no setor público, e sua relação com o investimento, é uma discussão mais abrangente do Estado brasileiro, e extrapola a questão da Defesa". Quanto ao déficit previdenciário, o órgão informa que o estudo do Instituto de Economia da UFRJ não incluiu a previsão de aumento de efetivos nas próximas décadas, para atender às diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa. Segundo o Ministério da Defesa, esse impacto será incorporado "no estudo que acompanhará a Lei de Diretrizes Orçamentárias a ser entregue em 2010".

Há quem defenda a transferência dos gastos com aposentadorias e pensões para o Tesouro Nacional, com o objetivo de reduzir o "inchaço" da folha de pagamento, como se essa medida contábil resolvesse o problema da falta de recursos das Forças Armadas. O fato é que a estrutura das Forças Armadas leva inevitavelmente à absorção de recursos vultosos e crescentes pela rubrica de pessoal - principalmente inativos. E ninguém quer discutir a reforma da carreira militar, indispensável para a correção dessa distorção.

Ao analisar os planos do ministro Nelson Jobim para aquisição de caças e construção de modernos submarinos, o presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, Eurico Figueiredo, chama a atenção para a contradição representada por "uma visão generosa do futuro e a compreensão medíocre do presente, porque nossas Forças vivem à míngua". O diagnóstico não poderia ser mais claro, lúcido e objetivo.

Um comentário:

Joana D'Arc disse...

Do Claudio Humberto:

21/12/2009 | 00:00
Empurra que pega

O Ministério da Defesa, como esta coluna informou, criou um grupo de trabalho, para tratar da inserção do Brasil na segurança nternacional. Vai dar trabalho, após comprar 240 velhos tanques alemães Leopardo 1, carroças reformadas da década de 1970, a R$ 900 mil cada.

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Para as FFAA, as carcaças...