Suriname: versões conflitantes sobre mortes

MENTIR, POR QUÊ?

Brasileiros estão indignados com a versão segundo a qual ninguém morreu, dada pela embaixada

Esta parte da história realmente merece ser acompanhada com atenção: Por que o governo estaria escondendo a informação sobre os brasileiros mortos no conflito? Abaixo, fizemos uma compilação de declarações dadas por garimpeiros a diversos jornais. Todos chamando atenção para este desencontro de informações: das vítimas, testemunhas-oculares dos assassinados, do padre Vergílio, que também critica a posição da embaixada, e do Itamaraty que continua negando que tenha havido mortes. Segundo o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que esteve no Suriname, recentemente, o Itamaraty tinha conhecimento sobre essa “panela de pressão” prestes a explodir. Será esta a razão de Lula se omitir (ou mentir)?

Outro ponto que merece atenção nesta história, é que mesmo tendo sofrido um ataque brutal, os brasileiros agora refugiados em hotéis na capital, ainda assim preferem continuar no Suriname a voltar ao Brasil, devido à falta de emprego no Pará, região da qual saíram. Isto é que é "um país de todos"! – Por Arthur/Gabriela

“Esses brasileiros instalados nos hotéis se disseram "indignados" com a versão segundo a qual ninguém morreu no conflito, dada pela embaixada. Um deles disse ter visto um homem ser esfaqueado e pisoteado. Ninguém testemunhou nada parecido. Todos afirmam que a polícia é complacente com os maroons e que corpos podem ter sido escondidos”. Esta matéria da Folha pode ser lida
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VERSÕES CONFLITANTES
Itamaraty reafirma que brasileiros não foram mortos no dia 24, mas testemunhas dizem que há desaparecidos

Apesar de habitantes de Albina, no Suriname, indicarem que brasileiros foram assassinados na cidade na véspera de Natal, o Itamaraty voltou ontem a negar a versão. O secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Antonio Patriota, se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para relatar a situação no país vizinho. O diplomata reiterou que não houve registro de mortes entre brasileiros, conforme nota do ministério divulgada no domingo. Patriota disse ainda que há cooperação entre os países e que a situação no Suriname “está mais sob controle do que parece”. As autoridades surinamesas detiveram ontem 35 suspeitos pelo ataque aos brasileiros, inclusive homens que teriam violentado brasileiras.

Apesar das afirmações do Itamaraty, o padre José Vergílio, que vive há oito anos em Albina em contato com a comunidade brasileira, disse ao Correio, por telefone, que a situação está tensa e há muitas contradições. Ele destaca que “todo mundo sabe dos desaparecidos”. “Existe a dificuldade de provar (a morte dos brasileiros), pois, durante a fuga, todo mundo correu para as canoas e foram para o rio. E, lá, muitos foram ‘abatidos’”, conta o sacerdote. “É complicado, fico com dor no coração, porque a gente está no meio da situação. Infelizmente, parece que (a informação do) Itamaraty passou por muitos crivos, muitos filtros”, comenta Vergílio. Por Viviane Vaz do Correio Braziliense


GARIMPEIRO VÊ MAIS “ASSASSINATOS''
Dizendo estar escondido na mata para se proteger do conflito no Suriname, Jamilton Soares de Carvalho, de 35 anos, conta versão diferente da oficial sobre os acontecimentos na região. Em contato por meio de uma conexão de rádio, ele diz que o número de mortos estaria acima de 100 e que os ataques a garimpeiros brasileiros continuam. "O quadro é muito mais grave do que as autoridades dizem, do que dizem os meios de comunicação. Só não entendemos ainda por que a embaixada brasileira não toma nenhuma providência", afirma ele. "Os assassinatos continuam, sem parar, pela mata."

Carvalho, que diz trabalhar no garimpo, explica que utiliza um radioamador para se comunicar com uma central de rádio instalada em Macapá (AP). Segundo a atendente da central, ele costuma pagar uma quantia mensal para manter contato com a família, que estaria no município de Abaetetuba (PA). O garimpeiro diz que decidiu procurar refúgio na mata com outros 11 brasileiros, após a eclosão do conflito. Ele conta que na área a informação é de que o total de brasileiros que buscaram esconderijo na floresta ou em outros locais estaria próximo de 2 mil. "Não é brincadeira o que está acontecendo aqui." O Estado de S. Paulo


MATÉRIA NO GLOBO
Da jornalista Camila Nóbrega publicada hoje, também confirma que, “embora a embaixada brasileira não confirme nenhuma morte em decorrência do conflito no Suriname, brasileiros vítimas do ataque afirmam ter visto corpos de conterrâneos enquanto tentavam fugir do local, na cidade de Albina”.

Diz ainda: “Ontem de manhã, quando o primeiro avião comercial vindo da capital do Suriname, Paramaribo, chegou ao Brasil, famílias dividiam sentimentos de alívio e preocupação. Enquanto alguns choravam ao rever parentes que deixaram o Suriname preocupados com o clima de tensão no país, outros estavam desesperados com a falta de informações sobre os familiares que vivem naquele país. É o caso de Maria de Jesus, que foi fotografada aos prantos por não ter recebido notícias do filho. Sandra de Souza foi ao aeroporto à procura da filha Rosângela, de 23 anos. Sem querer falar sobre o ataque, com medo de que a filha sofresse alguma represália, ela também chorava, segurando a foto de Rosângela, que não estava entre os 66 passageiros brasileiros do avião e mora na cidade de Albina”

E mais: “Embora a embaixada brasileira trate o episódio como um caso isolado, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que esteve no Suriname em 27 de novembro, afirmou que o conflito não foi uma surpresa, pois o Itamaraty sabia da tensão constante no local. Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Azeredo viajou na ocasião com o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) e dois embaixadores do Itamaraty para se encontrar com o ministro da Justiça do Suriname e tratar do grande número de imigrantes brasileiros no país e dos conflitos relacionados ao garimpo: — Fizemos um relatório logo que chegamos”


Leia também:
BRASILEIROS TEMEM SOFRER AGRESSÕES EM TABIKI
Um alerta de nova ameaça aos brasileiros foi dado ontem no povoado de Tabiki, na região norte do Suriname. A etnia marron - de quilombolas descendentes de escravos africanos - estaria preparando um ataque a garimpeiros do Brasil que trabalham na extração de ouro na Guiana Francesa. O Estadão


PF É AUSENTE DA FRONTEIRA COM O SURINAME
Com 593 km de extensão, a fronteira do Brasil com o Suriname não tem nem sequer um ponto de fiscalização da Polícia Federal para controlar o tráfego internacional.

Já nas fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa e Guiana, há dois pontos de controle, responsáveis pela imigração e pela repressão à entrada de drogas e armas.

Um deles fica em Oiapoque (Amapá), e o outro, em Bonfim (Roraima). A unidade amapaense tem 14 agentes e cinco delegados para monitorar os 707 km de limites estrangeiros do Estado.

O Suriname faz fronteira com Amapá e Pará, sendo que 91% com o território paraense. No Estado, há cinco pontos de fiscalização internacional, mas nenhum deles é fronteiriço.

No total, há 27 pontos da PF espalhados pelas fronteira do país. Em toda a região Norte, com 10.948 km de fronteira amazônica com sete países, são 12 pontos, o que representa uma unidade a cada 912 km.

Na região Sul, só o Estado do Paraná, com 501 km de fronteira com Paraguai e Argentina, tem cinco unidades de fiscalização -o que corresponde à razão de um ponto a cada 100 km.

Outro exemplo de distribuição desigual ocorre na região Centro-Oeste. O Mato Grosso do Sul tem 1.517 km de limites com Paraguai e Bolívia e cinco unidades de fiscalização fronteiriça. Já o Estado de Mato Grosso, com 780 km de fronteira seca com a Bolívia, é desprovido de pontos de controle.

Questionada pela Folha, a PF informou que o único assessor que poderia comentar o assunto estava incomunicável até o fim da tarde de ontem. Por Rodrigo Vizeu da Folha

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