Em 2002, quando candidato à Presidência da República, o presidente Lula atacou o sistema financeiro internacional de forma virulenta, a ponto de ter obrigado o presidente Fernando Henrique a buscar um empréstimo ponte de 30 bilhões de dólares junto ao FMI, empréstimo que foi obtido sem problemas, pois os fundamentos da economia brasileira eram sólidos e a instabilidade dos mercados financeiro, cambial e de capitais decorria de questões meramente políticas.
A acolhida ao pedido do presidente Fernando Henrique, que gozava e goza de especial prestígio junto ao FMI, deu-se, entretanto, sob a condição de que os quatro candidatos, que então postulavam o cargo máximo da nação, concordassem em respeitar o acordo que viesse a ser firmado, o que, efetivamente, ocorreu. Por Ives Gandra Martins
O então candidato Lula ateve-se ao compromisso e mudou diametralmente seu discurso, a ponto de, após eleito, ter indicado o excelente Henrique Meirelles para presidir o Banco Central.
Graças a sua mudança de postura e a ter seguido, na área econômica, rigorosamente o modelo de seu antecessor, o Brasil evoluiu, aproveitou o boom econômico internacional, passando a ser um interlocutor respeitável no cenário global. Foi por esta razão que o presidente Lula mereceu do presidente Obama o reconhecimento expresso na frase: “Este é o cara”.
A proximidade do fim de seu mandato, porém, e a pressão de sua entourage em eleger uma ex-ativista de radicais movimentos de esquerda, tem levado o presidente Lula a alguns retrocessos perigosos.
De interlocutor admirado perante os países desenvolvidos, apoiando as teses mais consistentes, não só para a saída da crise, como para a convivência entre as nações, transformou-se, no cenário latino-americano, em um acólito do histriônico e desequilibrado presidente Chávez e num subjugado às exigências de nossos vizinhos (Argentina, Paraguai, Equador e Bolívia), com sérios prejuízos ao país e à imagem de que desfruta internacionalmente – imagem que principiou a ser construída no governo anterior e que, sabiamente, soube aperfeiçoar, nos primeiros sete anos de mandato.
O pior, todavia, é a incoerência que passou a trilhar na política externa. Recebeu um presidente ditador, que fraudou, reconhecidamente, as eleições no Irã, mas recusou-se a reconhecer eleições limpas, como foram as de Honduras. Prestigia o presidente violador da constituição hondurenha, Zelaya, que foi deposto com base nos artigos 239, 242 e 272, como bem acentuou o eminente jurista Dalmo Dallari, e aceita cumprimentar ditadores africanos e a conviver, com reverencial admiração, com a mais antiga ditadura da América Latina, que é a cubana.
No caso Battisti, corre o presidente o risco de, ao não extraditá-lo, violar o tratado internacional com a Itália, por não acatar decisão da corte européia, em que nada menos de 27 países estão representados.
A censura à imprensa, que é cada vez maior nas semi-ditaduras venezuelana, boliviana, equatoriana, nicaraguense e até na Argentina, começa, por outro lado, a contaminar setores do governo que pretendem ressuscitar o inaceitável Conselho Nacional de Jornalismo, com base nas conclusões de um esvaziado e dirigido congresso sobre os meios de comunicação.
Por fim, pretende polarizar a campanha entre esquerda e direita, entre ricos e pobres, num debate já obsoleto na história.
Corre, pois, o presidente Lula – que se houve bem nestes sete primeiros anos – de ter sua imagem desfigurada perante as nações civilizadas, por este avanço do retrocesso, ao se transformar num líder vicário, secundário, submisso a tiranetes sul-americanos, dividindo a nação em vez de uni-la, como o fez até hoje, apenas para atender aos reclamos de um grupo de amigos do rei.
Por ser o presidente Lula um hábil político, espero que detecte a tempo os riscos da recaída. E retome o rumo que lhe deu a popularidade merecidamente ostentada. Jornal do Brasil
Ives Gandra Martins é professor de direito e escritor.
A acolhida ao pedido do presidente Fernando Henrique, que gozava e goza de especial prestígio junto ao FMI, deu-se, entretanto, sob a condição de que os quatro candidatos, que então postulavam o cargo máximo da nação, concordassem em respeitar o acordo que viesse a ser firmado, o que, efetivamente, ocorreu. Por Ives Gandra Martins
O então candidato Lula ateve-se ao compromisso e mudou diametralmente seu discurso, a ponto de, após eleito, ter indicado o excelente Henrique Meirelles para presidir o Banco Central.
Graças a sua mudança de postura e a ter seguido, na área econômica, rigorosamente o modelo de seu antecessor, o Brasil evoluiu, aproveitou o boom econômico internacional, passando a ser um interlocutor respeitável no cenário global. Foi por esta razão que o presidente Lula mereceu do presidente Obama o reconhecimento expresso na frase: “Este é o cara”.
A proximidade do fim de seu mandato, porém, e a pressão de sua entourage em eleger uma ex-ativista de radicais movimentos de esquerda, tem levado o presidente Lula a alguns retrocessos perigosos.
De interlocutor admirado perante os países desenvolvidos, apoiando as teses mais consistentes, não só para a saída da crise, como para a convivência entre as nações, transformou-se, no cenário latino-americano, em um acólito do histriônico e desequilibrado presidente Chávez e num subjugado às exigências de nossos vizinhos (Argentina, Paraguai, Equador e Bolívia), com sérios prejuízos ao país e à imagem de que desfruta internacionalmente – imagem que principiou a ser construída no governo anterior e que, sabiamente, soube aperfeiçoar, nos primeiros sete anos de mandato.
O pior, todavia, é a incoerência que passou a trilhar na política externa. Recebeu um presidente ditador, que fraudou, reconhecidamente, as eleições no Irã, mas recusou-se a reconhecer eleições limpas, como foram as de Honduras. Prestigia o presidente violador da constituição hondurenha, Zelaya, que foi deposto com base nos artigos 239, 242 e 272, como bem acentuou o eminente jurista Dalmo Dallari, e aceita cumprimentar ditadores africanos e a conviver, com reverencial admiração, com a mais antiga ditadura da América Latina, que é a cubana.
No caso Battisti, corre o presidente o risco de, ao não extraditá-lo, violar o tratado internacional com a Itália, por não acatar decisão da corte européia, em que nada menos de 27 países estão representados.
A censura à imprensa, que é cada vez maior nas semi-ditaduras venezuelana, boliviana, equatoriana, nicaraguense e até na Argentina, começa, por outro lado, a contaminar setores do governo que pretendem ressuscitar o inaceitável Conselho Nacional de Jornalismo, com base nas conclusões de um esvaziado e dirigido congresso sobre os meios de comunicação.
Por fim, pretende polarizar a campanha entre esquerda e direita, entre ricos e pobres, num debate já obsoleto na história.
Corre, pois, o presidente Lula – que se houve bem nestes sete primeiros anos – de ter sua imagem desfigurada perante as nações civilizadas, por este avanço do retrocesso, ao se transformar num líder vicário, secundário, submisso a tiranetes sul-americanos, dividindo a nação em vez de uni-la, como o fez até hoje, apenas para atender aos reclamos de um grupo de amigos do rei.
Por ser o presidente Lula um hábil político, espero que detecte a tempo os riscos da recaída. E retome o rumo que lhe deu a popularidade merecidamente ostentada. Jornal do Brasil
Ives Gandra Martins é professor de direito e escritor.
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