Herança totalitária

Às vésperas do 31º aniversário da Revolução Islâmica, regime de Ahmadinejad amplia repressão e promete enforcar opositores

Na fictícia cidade de Airstrip One, situada na província da Oceania — que um dia foi chamada de Reino Unido —, um regime totalitário domina tudo e todos. O Ministério da Verdade é o responsável pela propaganda do Partido e o controle sobre a população se dá por meio de um vasto sistema de vigilância por câmeras e da manipulação das mentes. Nas ruas de Londres, cartazes advertem: “O Grande Irmão está de olho em você”. Para o estudante iraniano Hessam (ele não quis divulgar o nome completo), 22 anos, o enredo de 1984, livro escrito em 1949 por George Orwell, representa a submissão de seu povo a uma ditadura herdada da Revolução Islâmica, que completa 31 anos na quinta-feira. Por Rodrigo Craveiro

“O que temos aqui é um regime totalitário, uma ditadura oligarca que controla a imprensa, tolhe a liberdade de expressão e até o pensamento”, afirma. “Eu me sinto como se fizesse parte da história de Orwell, com a diferença de que o regime iraniano está em decadência. Se fosse mais robusto e poderoso, já teria matado milhares de pessoas e não centenas”, acrescenta Hessam.

Quem protesta corre o risco de receber punições severas. Na semana passada, Ebraim Rahisi, alta autoridade do Judiciário iraniano, avisou que nove dissidentes que participaram das últimas manifestações de rua contra o regime serão enforcados nos próximos dias. Em 28 de janeiro, o Irã já havia cumprido a mesma pena para outros dois estudantes. “Um de meus amigos foi preso durante a noite porque tentava pichar o nome de Mir Hossein Moussavi (líder da oposição) no muro. As autoridades o ameaçaram e checaram todas as suas conversas pelo celular”, conta à reportagem, por meio da internet, o universitário Mehrdad S., 21 anos. Ele acredita que as execuções anunciadas podem revelar-se contraproducentes, ao insuflar o ódio da população contra Ahmadinejad e os aiatolás. “O regime subestima o poder dos jovens. Matar nossos irmãos só nos tornará mais fortes e mais determinados a participar dos protestos”, afirma Mehrdad, um membro ativo das manifestações.

Especialista na relação entre a Guarda Revolucionária Islâmica — mantenedora da doutrina dos aiatolás — e a sociedade civil, o iraniano Ali Alfoneh duvida das execuções supostamente realizadas em 28 de janeiro. “Isso é apenas parte das táticas do regime para aterrorizar os adversários nos dias que antecedem os protestos do Dia da Revolução”, aposta o analista do American Enterprise Institute, sediado em Washington. “Outras estratégias incluem a tentativa de rachar a oposição e subornar os setores ideológicos das Forças Armadas — como a Guarda Revolucionária e a milícia Basij — com mais privilégios econômicos, de modo que apoiem o regime no caso de confrontos”, explica.

Alfoneh duvida do colapso iminente da Revolução Islâmica e aponta que a posição de Ahmadinejad como presidente depende única e exclusivamente do apoio obtido pelo aiatolá Ali Khamenei, líder supremo da nação. “Se Khamenei desejar fazer concessões à oposição sacrificando Ahmadinejad — por exemplo, por meio de um voto de não confiança no Parlamento, justificado pela incompetência nas áreas administrativa e econômica —, então o presidente estaria acabado”, admite. No entanto, para o especialista, esse movimento representaria um erro de cálculo do aiatolá, visto por muitos como o responsável pela fraude eleitoral e por todos os males que afligem a sociedade teocrática islâmica.

De acordo com o também iraniano Nader Entessar, autor de livros sobre o Oriente Médio e especialista da University of South Alabama, o anúncio dos enforcamentos indica que o regime pretende enviar uma mensagem clara ao Movimento Verde — de Moussavi — e a outros dissidentes, para que não tomem parte dos protestos de quinta-feira. “Se o regime falhar nesse intento e o povo ainda assim sair às ruas em grande número, certamente vai erodir a legitimidade de Ahmadinejad”, alerta.

Ameaça
O especialista comenta que as demandas dos verdes se estenderam a uma ampla gama de assuntos. “O foco inicial da oposição era desafiar os resultados das eleições presidenciais de 12 de junho do ano passado. Agora, ela se voltou para um número de grupos cujas demandas variam desde os direitos civis até a completa mudança do sistema clerical de governo”, lembra. Por isso, explica, Ahmadinejad e seu círculo de aliados veem os opositores como uma ameaça mais latente que antes. Entessar assegura que os direitos humanos no Irã se deterioraram, com a prisão de mais de 4 mil pessoas nos últimos seis meses, segundo números da oposição.

“O que temos aqui é um regime totalitário, uma ditadura oligarca que controla a imprensa, tolhe a liberdade de expressão e até o pensamento”

Hessam, 22 anos, estudante, morador de Teerã - Correio Braziliense

2 comentários:

Anônimo disse...

Tem um selo no inicio de minha pagina que estou oferecendo aos amigos que gostarem
Éliberado para sus amigios também.
“ Nós somos os que:
Não deixaremos o povo esquecer seus atos”
http://clementexiv.blogspot.com/
Sempre unidos pelo bem da pátria.
Pedro Henrique

Rui Barbosa disse...

Esse Almadinejá, é um f. d. p. Sómente pessoas do PT que gostam dele. O comércio? O comércio que vá a merda. Porr...