O reinventor do mundo

Impedido por um surto de hipertensão de viajar a Davos para receber o Prêmio Estadista Global, o presidente Lula delegou ao chanceler Celso Amorim a leitura do discurso de agradecimento pela láurea recebida do Fórum Econômico Global, na última sexta-feira. Com isso, tiveram repercussão menor do que mereciam as palavras proferidas diante de um auditório também esvaziado pela ausência do designado estadista. Pena, porque "nunca antes" em Davos se assistiu a uma exibição de megalomania tão digna de figurar no Livro Guinness de Recordes. Nem conhecidos adoradores de si próprios, como o venezuelano Hugo Chávez e o líbio Muammar Kadafi, chegaram às alturas da apoteose mental que o brasileiro galgou ao cobrir de glórias o seu governo e de críticas o mundo inteiro. Editorial O Estado de S. Paulo

"Sete anos depois (de anunciar em Davos o que faria como presidente) posso olhar nos olhos de cada um de vocês e, mais que isso, nos olhos do meu povo e dizer que o Brasil, mesmo com todas as dificuldades, fez a sua parte", congratulou-se. Enquanto isso, "o que aconteceu com o mundo nos últimos sete anos? Podemos dizer que o mundo, igual ao Brasil, também melhorou"? Apenas melhorará, ensinou, quando "reinventarmos o mundo e suas instituições", decerto segundo o modelo lulista que - deu a entender - consiste na "recuperação do papel de governar". Como foi possível essa recuperação no Brasil se pode avaliar por outras declarações do presidente, no dia seguinte à leitura do texto em que se canonizou como o primeiro entre os iguais na condução dos destinos do globo. Deixando o hospital em São Paulo onde passara, aparentemente com êxito, por uma bateria de exames, declarou-se pronto "para entrar em campo".

Naturalmente, referia-se às maratonas a que se submete no País e no exterior - e que justificariam chamá-lo de presidente frequent flyer. No ano passado, gastou 83 dias circulando pelo Brasil e 91 dias por 31 países. No mês passado, foi a 7 Estados. De fevereiro a julho irá a 22 países, da América Central à China, dos Estados Unidos à Rússia, de Israel ao Irã. Lula explica as viagens domésticas em nome da recuperação do papel de governar: elas se justificariam pela simples razão de que, sem elas, o governo estanca. "Quem engorda o porco é o olho do dono", argumentou, transformando em suíno o boi do velho ditado. E aí humilhou os seus colaboradores: "Se o dono não estiver olhando para as coisas acontecerem, elas não acontecem. Se o presidente não ficar em cima, não ficar cobrando, não ficar viajando, as coisas são mais difíceis."

É claro que o recurso à teoria da governança itinerante, haja o que nela houver de verdade, é pouco mais do que uma engambelação. Lula não se desloca exaustivamente pelo território para fazer a sua administração funcionar. (Como ela funciona - ou não funciona - está no editorial desta página, Incompetência para investir.) Ele o faz para engordar a candidatura da ministra Dilma Rousseff, associando a sua imagem à dele e a de ambos ao que seria a estupenda coleção de realizações desse governo que faz tudo direito. Lula sabe que voa contra o tempo. A partir de abril, quando já não for ministra, Dilma Rousseff - ou "Dilma do chefe", como se ouviu de prefeitos pernambucanos na semana passada - terá de se apartar do seu patrocinador, passando uma temporada no limbo: longe dos comícios administrativos que ele continuará a fazer e ainda sem poder subir aos próprios palanques (oficialmente, a campanha começa em julho). Dilma tem ido bem nas pesquisas. Manterá a tendência quando não tiver Lula a seu lado?

As suas aparições solo não devem baixar a pressão de Lula. Semanas atrás, disse que "gostaria muito de levar os brasileiros ao paraíso". Na última sexta-feira, enquanto o chefe repousava em São Bernardo, Dilma disse que "o presidente precisa de um sucessor a sua altura e eu gostaria de ser essa sucessora", apressando-se a emendar: "Não sou hoje." Além disso, falou da felicidade de ser avó. Mas esses são problemas da dupla e de sua gente. O do País é saber quem governa quando Brasília fica a descoberto. A resposta-padrão de Lula era "a ministra-chefe da Casa Civil". Ele vai precisar de outra, quando continuar viajando e ela imergir no seu curso preparatório de candidata. A verdade é que não há quem exerça no Planalto o papel de governar que Lula se preparara para louvar de viva-voz em Davos, no maior espetáculo de soberba de sua presidência.


COMENTÁRIO
Lula, o embevecido de si mesmo, (e sem razão), subiu no panteão dos que se tornam perniciosos quando investidos de poder. Tornou-se parte daquele contingente humano, grandiloqüente, que cumpre missões e defende consignas. Até conseguiu tornar-se simpático e cativante na exaltação das próprias virtudes...mas, isto já ficando fastidioso; um monocórdio que não recua diante do próprio ridículo, porque dele não possui capacidade de discernimento.

Lula nos faz lembrar de Nero, que tendo mandado incendiar a cidade, e sucedendo libertar-se da sanha dos cidadãos enfurecidos pela caridade de um punhal assassino, ainda haveria de balbuciar em seu último alento, na exaltação do amor próprio embevecido: que grande poeta Roma está perdendo! Por Arthur/Gabriela

Um comentário:

Anônimo disse...

estou com muito medo do mundo!!!!