Os culpados são sempre os outros.

Quem sabe a divergência entre Estados Unidos e Israel seja a coisa mágica que faltava para se chegar a um acordo”, entusiasmou-se o presidente Lula nesta quarta-feira, declamando o que lhe sopraram Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia. ”Em fala tão breve, boçalidade tão longa, que reafirma o que o pior do antiamericanismo pode produzir”, resumiu meu amigo e vizinho Reinaldo Azevedo, sempre em ótima forma.
A frase contém mais cretinices do que sugere uma leitura ligeira. Não se limita a informar que, para Lula, o eventual esgarçamento dos laços históricos entre os dois parceiros encerraria a crise no Oriente Médio. Também confirma que a atual política externa brasileira é um conjunto de ações internacionais contrárias aos ianques e seus aliados, ou favoráveis a quem hostiliza os Estados Unidos e seus amigos. Por Augusto Nunes

Deformado por esse antiamericanismo de grotão, o olhar de Lula é tão imparcial quanto opinião de mãe de candidata a miss. O Oriente Médio visto pelo monoglota militante é uma região pertencente a nações companheiras cercadas por uma província palestina rebatizada de Israel por invasores judeus. Para chegar-se à paz, o mais forte deve render-se ao vizinho sem chances no confronto militar. E qualquer acordo começa pelo enquadramento do Grande Satã do planeta, porque da crise no Oriente Médio ao primitivismo da América Latina, fora o resto, é tudo culpa dos americanos.

“Eu disse ao Bush e tenho dito a todo o governo americano que está na hora deles apresentarem uma política sadia e objetiva para a América Latina, os Estados Unidos nunca fazem nada para ajudar os pobres”, lamuriou-se Lula no ano passado, na reunião do clube dos cucarachas em Trinidad-Tobago. De novo, a comparação com um trecho do discurso lido no mesmo encontro pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, é perturbadora para o Brasil que pensa.

“Quase sempre culpamos os Estados Unidos por nossos males passados, presentes e futuros”, constatou o ganhador do prêmio Nobel da Paz. ”Não creio que isso seja de todo justo. Em 1950, cada cidadão norte-americano era 4 vezes mais rico que um cidadão latino-americano. Hoje em dia, é 10, 15 ou 20 vezes mais rico. Não por culpa dos Estados Unidos. A culpa é nossa. Não podemos esquecer que pelo menos até 1750 todos os americanos eram praticamente iguais: todos eram pobres”.

“Alguma coisa fizemos de errado”, ensinou Arias já no título do discurso. Lula continua achando que foi tudo culpa dos americanos ─ isso quando está longe do Brasil. Nos palanques domésticos, não para de cumprimentar-se por ter reconstruído um país devastado por todos os antecessores, principalmente FHC. São todos brasileiros.

Os culpados, afinal, são nativos ou estrangeiros? Qual dos discursos é o verdadeiro? Nenhum, sabe quem tem mais de dez neurônios. ( Direto ao ponto )

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