Revelando os camaradas

Ditadura: novas gerações têm direito à verdade sobre os dois lados da história.

O livro intitulado Camaradas, do jornalista William Waack – baseado em exaustiva pesquisa realizada nos arquivos da ex-União Soviética, da Inglaterra, da polícia política de Getúlio Vargas e em outras praças, além de várias entrevistas – descreve com riqueza de detalhes os preparativos, a realização e as consequências da Intentona Comunista de 1935 no Brasil.
A documentação apresentada deixa claro que a organização dessa tentativa de golpe ocorreu na União Soviética, a serviço da qual se encontravam Luiz Carlos Prestes e outros brasileiros . Por Marcel Domingos Solimeo

Fica evidente, também, a participação de diversos estrangeiros, de variadas nacionalidades, enviados pelos organismos russos que dirigiam as atividades dos partidos comunistas no exterior. Pela biografia dos personagens apresentados ao longo do livro, verifica-se a participação da ex-União Soviética, por meio dos partidos comunistas locais e de estrangeiros por ela enviados, em tentativas de golpes ou revolução em vários países, inclusive na Guerra Civil espanhola.

O livro mostra a história de Olga, cuja figura vem sendo romanceada, e que veio ao Brasil para ajudar a promover uma revolução para implantar o comunismo no País. Apresenta, também, outra mulher que participou dos acontecimentos de 1935, mas que não tem sido lembrada pelos que buscam reescrever os acontecimentos do período. Trata-se de Elza Elvira Copello Coloni , companheira de Miranda ( Antonio Maciel Martins ), moça simples mas muito bonita, que foi alfabetizada por uma das mulheres do grupo e que acompanhava sempre o secretário geral do Partido Comunista Brasileiro em suas visitas e reuniões – fato que a levou a conhecer não apenas todos os conspiradores, como os locais onde viviam.

Quando, após o fracasso da Intentona, Miranda foi preso, levaram também Elza –que, no entanto, foi solta pouco depois. Isso gerou a desconfiança de Prestes e de outros dirigentes comunistas que, imaginando que ela pudesse ter denunciado os conspiradores (o que jamais foi provado), ou que pudesse vir a fazê-lo, decidiram condená-la à morte. A ordem foi dada por Prestes por escrito, conforme documento encontrado nos arquivos russos, e executada por um membro do Partido, que a enforcou covardemente. Muitos outros episódios são narrados e documentados no livro de William Waack, que mostram a verdadeira face do comunismo.

É curioso como se discute fartamente a participação norte americana na Revolução de 1964, mas não se pesquisa a interferência da União Soviética nos episódios que a antecederam, apesar de ser conhecida sua atuação para a implantação do comunismo em todos os países. Uma pesquisa como essa, de Waack , poderia revelar coisas muitos interessantes.

E, por falar em arquivos, muito se fala na abertura dos dados referentes ao período dos governos militares para que se pudesse conhecer toda a verdade sobre os vinte anos em que o regime vigorou. Poder-se-ia saber, por exemplo, se alguns dos que lutavam contra o governo militar receberam dinheiro, armas ou treinamento do Exterior, não para a restauração da democracia no Brasil, mas para substituir a ditadura militar por outra baseada nos modelos da Rússia, China, Cuba e até Albânia, cujos ditadores a esquerda admirava.

Também é preciso mostrar aqueles que cometeram assassinatos, sequestros, roubos , e que praticaram atos terroristas que ceifaram a vida de muitos inocentes, para separá-los daqueles que fizeram oposição à ditadura militar sem participar da luta armada.

As novas gerações têm o direito à verdade sobre o período da ditadura, mas toda a verdade – e não apenas à história reescrita por muitos, que se apresentam atualmente como tendo lutado pela democracia, mas que defendiam ditaduras comunistas, as quais se destacavam por seus métodos sanguinários de se manter no poder.

Seria importante saber, embora isso seja difícil, se alguns dos que lutaram para implantar o comunismo no Brasil se converteram efetivamente em democratas, ou somente mudaram de estratégia para tomar o poder, seguindo os ensinamentos de Gramsci, em vez da tática fracassada da tomada pela força. Porque, como dizia Santo Agostinho, conversão exige arrependimento e confissão.

Marcel Domingos Solimeo é economista da Associação Comercial de São Paulo

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