A oito meses do final, o governo faz plano para 2022
O ministro Samuel Pinheiro (Assuntos Estratégicos) veio à boca do palco para anunciar uma iniciativa ambiciosa. Chama-se Plano Brasil 2022.
A oito meses de acabar, o governo faz planos para os próximos 12 anos. Projeta os mandatos do sucessor e do sucessor do sucessor de Lula.
O plano fixa metas a serem cumpridas até 2022, ano em que o Brasil vai celebrar o bicentenário de sua Independência.
“Nosso objetivo é o de sermos um país desenvolvido”, disse, em timbre otimista, Samuel Pinheiro. “Isso não será alcançado em 2022”, admitiu.
Estimou que, naquele ano, a renda per capita do brasileiro será de US$ 12 mil. Mais do que os US$ 7 mil atuais.
Muito abaixo, porém, da renda per capita dos EUA, hoje ao redor dos US$ 46 mil.
Para que o futuro lhe sorria, prevê o plano do governo, o país terá de registrar taxas de crescimento econômico no intervalo de 6,5% a 7%.
No papel, o Brasil de 2022 será um país sem analfabetismo, livre da miséria absoluta e com morigerada disparidade social, de gênero e racial.
Prevê-se que algo como 60 milhões de brasileiros hoje pendurados no Bolsa Família estarão economicamente emancipados.
O Plano Brasil 2022 não está pronto. O ministro Samuel Pinheiro disse que vai entregá-lo a Lula em 30 de junho, a seis meses da despedida do presidente. Por Josias de Souza
Samuel Pinheiro discorreu sobre se fosse uma novidade. Não é bem assim. A coisa começou a ser esboçada em maio de 2005.
Tinha outro nome naquela época: “Projeto Brasil 3 Tempos”. Um plano de metas para vigorar até 2022, exatamente nomo no “novo” plano.
Conduzia as pranchetas, então, o companheiro-estrategista Luiz Gushiken. Ele enviou um questionário a 50 mil brasileiros.
Coisa igualmente ambiciosa. Abordava 50 temas –da política cultural à nanotecnologia. O texto anotava:
"Com a sua participação, esses temas serão discutidos, formando o alicerce de um processo de gestão estratégica, que permitirá a construção de um futuro melhor".
Enquanto Gushiken, instalado no terceiro andar do Planalto, construía 2022, José Dirceu, no pavimento superior, conduzia operações que destruíam 2005.
Sobreveio o escândalo do mensalão. Lula foi ao noticiário em posição incômoda.
Chegara a Brasília, dois anos antes, com cara de caçador enviado à casa da Vovozinha. Em vez de salvar a Chapeuzinho, casara-se com o Lobo Mau.
O tempo passou. De chefão da Casa Civil, Dirceu converteu-se em “chefe da quadrilha” dos 40, denunciada pelo Ministério Público ao STF.
O próprio Gushiken, projetista do futuro, deixaria o governo na sequência. Hoje, faz companhia aos personagens acomodados pelo STF no banco de réus do mensalão.
A platéia viu-se compelida a lembrar o escritor austríaco Stefan Zweig.
Autor de "Brasil, País do Futuro", Zweig suicidou-se em fevereiro de 42, em Petrópolis (RJ). Não suportou o presente.
O “Projeto Brasil 3 Tempos” de Gushiken, elaborado ao custo de R$ 900 mil, foi como que sugado pela lama.
Antes de enviar o questionário a 50 mil brasileiros, Gushiken realizara uma pesquisa de opinião.
A sondagem fora coordenada pelo Instituto de Estudos Avançados da USP. Ouviram-se 104 pessoas.
Gente qualificada, com nível superior (100%), doutorado (41%), pós-doutorado (5%) e mestrado (12%).
Entre os pesquisados, 80% haviam considerado que, no futuro, o brasileiro exibiria um sentimento de "crescente intolerância à corrupção na vida pública".
Natural que, rendido ao cangaço parlamentar do mensalão, o governo não tivesse fôlego para levar adiante o “Projeto Brasil 3 Tempos” de Gushiken.
Agora, do alto de sua megapopularidade, Lula sente-se à vontade para ressuscitar o tema que saíra de fininho da pauta.
A corrupção remanesce. A “intolerância” dos brasileiros com o malfeito não há de ter arrefecido. Mas o governo considera-se apto a projetar o Brasil de 2022.
Um comentário:
Está sendo coerente com o programa petista...
Elles sempre disseram que o projeto do PT era ficar 30 anos no poder...
Taí!
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