Em seu discurso de despedida da Casa Civil, Dilma Rousseff afirmou, emocionada, que Lula mudou o Brasil. Ela pensou pequeno. Seu chefe mudou o mundo. Inventou o primeiro governo neoliberal populista da face da Terra.
Com a mão esquerda, Lula fez o velho cafuné no povão: slogans, lágrimas, siglas e migalhas – a sopa de sempre. Com a mão direita, segurou firme Henrique Meirelles pelo rabo, quando ele já ia saindo da presidência do Banco Central.
Nessa hora, o ex-operário até deu um tempo no cafuné. Precisou das duas mãos, postas, para pedir pelo amor de Deus ao banqueiro neoliberal que não o deixasse só.
A guerrilheira Dilma nunca imaginaria que a revolução proletária seria feita pela vanguarda do capitalismo financeiro.
PAC 1, PAC 2, pré-sal e psicografias administrativas à parte, o PT garantia, com Meirelles, sua verdadeira e única plataforma governamental – a manutenção da bendita herança maldita. É a fé que os companheiros professam baixinho, porque esse tipo de coisa o povo não precisa ouvir.
Como diria o poeta Bernardo Vilhena, o que os olhos não veem o coração não mente.
Por Ricardo Fiuza
E, por falar em mentira, começou a campanha eleitoral. Com todo o respeito aos ilusionistas, é um período também propício à discussão do Brasil real. Mas isso não vai ser fácil. Há uma atração à solta prometendo roubar a cena.
Dilma entrou em campo, agora em versão não governamental. Ou paragovernamental. Em sua primeira semana como ex-ministra, a criatura de Lula mostrou-se muito mais desenvolta fora do cativeiro. Saiu distribuindo farpas e caneladas, deixando claro que delicadeza é coisa de mulherzinha. A aspirante a primeira “presidenta” da República parece decidida a mostrar que ninguém é mais homem do que ela.
Na corrida presidencial, o discurso de Dilma promete um espetáculo à parte. E o show está só começando
No que o juiz apitou o início da partida, Dilma foi ao ataque. “O Serra que me desculpe”, já saiu citando seu principal concorrente à Presidência, sem frescura. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ela lembrou, de forma não propriamente erudita, que o ex-governador José Serra foi ministro do Planejamento:
– Planejou o que, hein? Ali se gestou, sabe o quê? O apagão.
Com sua prosa estilo BBB, no tom daqueles debates musculosos à beira da piscina, a candidata de Lula vai dar, no mínimo, muito ibope. Acomode-se na poltrona, o show está começando.
Naturalmente, a tese de que um ministro do Planejamento tenha provocado uma crise de energia não é verossímil nem à beira da piscina. As duas áreas mal se cruzam no organograma federal. Mas, num debate que começa com puxão de cabelo e dedo no olho, só um lunático reclamaria da desonestidade intelectual.
Nesta corrida presidencial, o discurso de Dilma Rousseff promete um espetáculo à parte. No tal pronunciamento de despedida do governo – momento épico em que a autora do dossiê FHC, amiga de Dilma, virou ministra da Casa Civil –, a candidata do PT fez história. Celebrou a vitória do governo Lula ao acabar com o “pesado resquício da escravidão”. Agradeceu ao ministro da Integração Racial por vencer “mais de 400 anos de peso e de exclusão”.
Cada um faz história como pode. Não deixa de ser emocionante ver a herança escravocrata ser extinta com duas frases. Mais de 400 anos em menos de quatro minutos. Basta vontade política (e um pouco de mitomania, que ninguém é de ferro).
Finalmente livre do cargo de ministra – para os revolucionários, os postos administrativos são um mal necessário –, Dilma foi à luta. E caprichou no critério. Seu primeiro passo como candidata foi um abraço em Anthony Garotinho, ex-governador do Rio cujos direitos políticos foram cassados por manipulação eleitoral. “Garotinho é um parceiro antigo”, afirmou Dilma, evocando suas raízes no populismo brizolista. Enfim, um pouco de sinceridade.
Pode acontecer de tudo nessa eleição presidencial. Menos a monotonia de sempre. Nesse aspecto, Lula realmente mudou o Brasil.
Um comentário:
Que cara inchada é essa?
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