Lula será recebido por aiatolá Ali Khamenei durante visita ao Irã

SAMY ADGHIRNI
enviado especial da Folha a Istambul

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será recebido durante sua visita ao Irã, nos próximos dias 16 e 17, pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, uma honra reservada aos aliados mais próximos do regime, como o venezuelano Hugo Chávez e o chefe do grupo palestino Hamas, Khaled Meshal.

"O presidente Lula é um grande amigo do Irã, é normal que seja recebido pelo nosso líder supremo", disse à Folha por telefone Ali Akbar Javanfekr, ex-chefe de comunicação do presidente Mahmoud Ahmadinejad e atual diretor da principal agência de notícias estatal do país, a Irna.

Ali Khamenei detém a palavra final sobre todos os assuntos iranianos, em especial as questões estratégicas como o programa nuclear, que Teerã diz ter intenções pacíficas. O líder supremo aparece raramente em público e só o mais alto escalão do governo tem acesso a ele.

O Brasil espera aproveitar o encontro com o líder supremo, que acontecerá no domingo às 12h (horário local) para reforçar uma proposta em debate na ONU para que o urânio do Irã seja enriquecido em outro país antes de ser devolvido a Teerã. A formula evitaria que os iranianos mantivessem estoques suficientes para fabricar uma bomba atômica. Folha Online

A oferta tem apoio da Turquia, que ocupa, ao lado do Brasil, uma das dez cadeiras rotativas do Conselho de Segurança da ONU, e se ofereceu para ser depositária dos estoques iranianos. Lula cogita fazer uma breve escala em Istambul após passar no Irã para reportar aos aliados turcos o teor das conversas em Teerã.

As potências ocidentais dizem que as ressalvas iranianas sobre o tempo e o local do intercâmbio de urânio demonstram a má vontade de Teerã.

Independentemente do resultado da mediação brasileira, o espaço aberto na agenda com poucos encontros públicos de Khamenei é uma demonstração de apreço a Lula, visto em Teerã como um aliado fiel que resiste a todas as pressões do Ocidente para punir e encurralar o Irã por causa de seu programa nuclear.

O governo iraniano avalia que Lula é um líder independente e corajoso por defender que todos os países signatários do Tratado de Não Proliferação, incluindo o Irã, desfrutem de seu direito de enriquecer urânio para fins médicos ou produção de energia.

A posição brasileira está resumida em uma frase repetida à exaustão por Lula: "defendo para o Irã o mesmo que para o Brasil." O presidente brasileiro ficará dois dias em Teerã em vez da mais frequente estadia de um dia único --sinal da importância conferida pelo Itamaraty à visita.

Críticos dizem que o presidente brasileiro é ingênuo ao acreditar nas intenções pacíficas do programa nuclear iraniano e que é incabível o apoio a um regime acusado de violações de direitos humanos.

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