Por Maria Lucia Victor Barbosa
Duas mulheres estão disputando a presidência da República: Marina da Silva, aparentemente frágil, figura feminina doentia, voz fininha. Como ex-petista Marina terá sempre alma de PT em que pese estar por circunstâncias políticas no PV. Sem chances de vencer, num eventual segundo turno ela certamente dará apoio a Dilma Rousseff, candidata que há dois anos vem sendo conduzida em campanha por seu criador político, Lula da Silva. Na convenção festiva do PT que oficializou Rousseff, obedientes petistas cantaram a plenos pulmões: “Lula tá com ela, eu também to”.
Como pesquisas detectaram que Rousseff tem pior desempenho do que o candidato do PSDB, José Serra, no eleitorado feminino, o marqueteiro João Santana investiu na exaltação da mulher e na feminilização da candidata, que na convenção leu com sua voz rascante um longo e enfadonho discurso capaz de fazer dormir militante petista.
Santana se concentrou na esfera psicológica, elemento fundamental da propaganda enganosa capaz de convencer pessoas a comprarem produtos de má qualidade que não lhes são necessários.
Retoques físicos obtidos com primorosa plástica, aplicações de botox, penteados sofisticados, sobrancelhas arqueadas adequadamente, maquiagem de artista de novela operaram milagres na senhora sessentona de modos rudes. Mas, qual o truque para mudar uma personalidade? Isso é tarefa impossível. Entretanto, assim como o truculento ex-sindicalista foi momentaneamente transformado no “Lulinha paz e amor”, por que não confeccionar uma “Dilminha ternura” sob encomenda do chefe?
Na preparação para a entrada triunfal da “grande estadista” na convenção foram exibidos vídeos da Princesa Isabel, Anita Garibaldi, Chiquinha Gonzaga, Maria da Penha. Naturalmente, a intenção era passar a idéia de uma Rousseff superior a todas elas. Faltou a Santana a idéia de compará-la á Imaculada Conceição, já que o piedoso irmão leigo, Frei Betto, chamou Lula da Silva de “luz do mundo”, privilégio que antes pertencia a Jesus Cristo.
Estrategicamente não foram mencionadas, entre outras: a ministra Zélia Cardoso de Melo que detonou o governo Collor com a expropriação da poupança; a petista Benedita da Silva, expelida do ministério por conta de algumas, digamos, extravagâncias em gastos; a petista, braço direito de Rousseff, senhora Erenice, hoje ocupando o lugar da ex-ministra e que, junto com a chefa sofreu acusações que se desmancharam no ar, relativas à habitual tática dos “aloprados” do PT de confeccionar dossiês para difamar concorrentes políticos.
Na verdade, várias mulheres em cargos públicos são incompetentes ou se comportam de maneira nada edificante, exatamente como homens incompetentes e corruptos, o que prova que não basta ser mulher ou homem, branco ou negro, pobre ou rico para assumir o poder. Para governar, sobretudo um país, é necessário ter experiência que prove competência, biografia que demonstre honestidade, liderança confirmada, ideal voltado para o bem-comum. O resto é mistificação, populismo barato, empulhação de eleitor incauto.
Isso não quer dizer que a mulher não possa se sair bem na política. Grandes governantes entraram para a história como, por exemplo, a rainha Elisabeth da Inglaterra, Indira Gandhi na Índia, Golda Meir em Israel, Margareth Tatcher na Inglaterra, Violeta Chamorro na Nicarágua. Entretanto, como disse Indira Gandhi: “Não me considero uma mulher fazendo política, mas, sim, uma pessoa exercendo um ofício”.
No discurso da convenção Rousseff prometeu que fará um governo como o de Lula, mas “com alma e coração de mulher”. O que será que a colérica Rousseff entende por alma de mulher?
Numa idealização da “alma de mulher” direi que podemos, entre outras coisas, sermos generosas, compreensivas, pacientes, atributos, aliás, inerentes ao maravilhoso dom da maternidade. No comportamento muitas de nós somos graciosas, sedutoras, sensuais, encantadoras no jeito de andar e falar. No dia-a-dia de muitas mulheres se encontram heroínas que amparam, consolam, lutam pela existência, protegem a família.
Nem todas possuem tais características, é claro. Existem mães que matam os filhos, megeras que infernizam a vida alheia, ignorantes que danificam suas vidas e a de outros, mulheres nada graciosas que andam com passadas de guarda de campo de concentração, sempre dando ordens com vozes desagradáveis feitas para o comando.
Parece, porém, que essa coisa de alma virou moda. Até Michel Temer disse que o “PMDB vai entrar em campanha com sua alma, e não apenas com seu raciocínio”. Alguns eleitores mais atilados conhecem bem a “alma e o raciocínio” de José Sarney, Renan Calheiros...
De qualquer modo, se Rousseff ganhar não teremos uma mulher na presidência da República. Como inferior e submissa ao homem ela apenas esquentará o lugar para Lula da Silva que pretende voltar em 2014. Assim os homens do PT traçaram sua manutenção no poder. E se a herança maldita pesar foi a mulher que não soube fazer como a “luz do mundo”. Afinal, só Lula da Silva tem alma.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.mlucia@sercomtel.com.br
www.maluvibar.blogspot.com.br
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