Quanto a Marina, não fosse seu ar missionário de quem tudo sabe, eu lhe recomendaria que se afastasse um pouco das árvores para ver se passa a enxergar a outra floresta: a da sociedade brasileira, em sua complexidade.
A candidata do PV, Marina Silva, lança hoje a sua candidatura. Embora seja uma mulher-causa — a sustentabilidade —, vem tentando ampliar a sua agenda. E não é raro que se dê a generalidades e conceitos, digamos assim, humanistas sobre isso e aquilo. Uma coisa é inequívoca, e a gente pega de primeira: ela quer o nosso bem e não é um desses políticos ambiciosos que andam por aí. Tenho, às vezes, a sensação de que o tucano José Serra e a petista Dilma Rousseff são candidatos porque arrogantes; já Marina seria candidata porque humilde.
Fico aqui a imaginar o que aconteceria se qualquer um dos outros dois fosse flagrado participando de reuniões políticas na sede de uma grande empresa… É o “movimento Marina”, a candidata dos descolados — e de alguns jornalistas que já sentem vergonha de se dizer petistas. Marina estava em busca de um grito de guerra. E deu de cara com o relatório do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) sobre o Código Florestal, cuja leitura foi concluída ontem.
No post abaixo, há um editorial do Estadão sobre o relatório de Rebelo. A Folha também fez o seu. E descobriu um bicho novo na política. Segundo o jornal, Aldo produziu uma peça eivada de dois atrasos: o nacionalismo tacanho, que o faria atacar as ONGs estrangeiras, e os interesses dos ruralistas. Os “ruralistas”, como vocês sabem, é essa gente nojenta que, já lembrei aqui, produz a comida barata que vocês comem, que eu como e que alimenta milhões de brasileiros a um preço como não há no mundo. Também é aquele pessoal que respondeu por sucessivos superávits da balança comercial brasileira e pelo acúmulo de reservas que garantem a estabilidade brasileira.
Marina acha que o novo código é um retrocesso; ONGs como o Greenpeace já calculam as “mudanças” propostas por Rebelo — na verdade, ele se limita a regulamentar o que está aí e, pois, a legalizar produtores que hoje estariam fora da lei e que são vitais para o país — em toneladas de carbono, essa conta que está entre o inefável e o surrealista. Os “ruralistas” aplaudiram o relatório, e isso é imediatamente tomado como sinal de que a coisa não presta. “O relatório libera áreas de várzea!!!”, gritam. Áreas de várzea onde já há, e há muito tempo, vasta produção de arroz.
Investe-se num confronto estúpido entre supostos “ruralistas desmatadores” e supostos “defensores da natureza”. Não! Não é preciso ser um nacionalista do PC do B para perceber que tal debate está inteiramente pautado pelas ONGs ditas ambientalistas, a terceira maior influência nas redações depois do PT e da Lady Gaga… Até aí, vá lá. Volto a Marina.
A presidenciável resolveu se pintar para a guerra. Ok. Está no seu, bem…, meio ambiente! E convocou os outros presidenciáveis a assumir uma posição a respeito do relatório. Ou melhor: convocou os outros presidenciáveis a assumir a SUA posição a respeito do tema. Aí, não dá! Marina tem todo o direito de levar adiante a sua plataforma e de tentar conquistar os eleitores, mas não pode ter a ambição de ser uma espécie de ombudsman das outras candidaturas, por mais que suas demandas encontrem eco na imprensa. Já a elogiei aqui; já a vi ser ponderada em muita coisa; acho louvável que não tenha aderido, por exemplo, a temas momentosos a que seus eleitores seriam simpáticos, como descriminação do aborto ou casamento gay — nem entro no mérito dos temas; elogio é o fato de ela não falar o que a platéia quer ouvir.
No que concerne à questão ambiental, baixa um aiatolá em Marina, e ela sai decretando fatwas, como se fosse razoável que o setor mais virtuoso da economia brasileira pudesse ser tratado segundo a ótica do banditismo, que é o que fazem algumas ONGs, com incrível irresponsabilidade.
É fácil, como faz o editorial da Folha, acusar um deputado do PC do B de nacionalista, xenófobo, atrasado ou sei lá o quê. É mentira, por acaso, que essas entidades se tornaram monopolistas da verdade ambiental? A própria Folha já reportou a desolação em Raposa Serra do Sol depois que os arrozeiros foram expulsos. Ocupavam 0,7% (!!!) da área. Sobraram lá as ONGs, as disputas políticas e a miséria. O mesmo circo se armou então. Os “defensores da natureza e dos índios” fizeram a sua aposta na miséria ecologicamente correta, e o STF lhes deu a vitória.
Vamos devagar! O mais impressionante é que, quando os “ruralistas” estão em pauta, não se toma nem mesmo o cuidado de ouvir o “outro lado”. Na quinta-feira, publiquei aqui vídeos do Ministério Público Federal que associam a carne brasileira ao trabalho escravo, ao desmatamento e à lavagem de dinheiro. Produzir comida ainda há de se tornar algo bastante impopular no Brasil… Jornalistas podem até escrever em defesa dos produtores de folha de coca da Bolívia, mas jamais em defesa da soja, da carne, do arroz e do feijão! É coisa de reacionários, obviamente.
Quanto a Marina, não fosse seu ar missionário de quem tudo sabe, eu lhe recomendaria que se afastasse um pouco das árvores para ver se passa a enxergar a outra floresta: a da sociedade brasileira, em sua complexidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário