O Brasil que sobreviverá à Era Lula talvez nem tenha tempo para desprezar Amorim




O legado da diplomacia do cinismo não poderá ser integralmente debitado na conta de Amorim. Ela faz o que Marco Aurélio Garcia e o PT acham certo ? e Lula manda fazer. Mas Garcia é uma velharia perdida nos escombros do Muro de Berlim, e Lula é o resultado previsível do cruzamento da soberba com a ignorância. Amorim é outra coisa. É diplomata de carreira. Foi ministro das Relações Exteriores do presidente Itamar Franco. Conheceu o Itamaraty de outros tempos. Sabe que não deveria fazer o que faz. Faz por excesso de vassalagem e falta de vergonha.

Por Augusto Nunes (*)

“Negócios são negócios”, recitou Celso Amorim para justificar a troca de afagos e elogios entre o presidente Lula e Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, ditador da Guiné Equatorial há mais de 30 anos. Se a França vende manteiga à nação africana, acrescentou no café da manhã seguinte, por que o Brasil não pode aceitar alguns milhares de assassinatos, relevar um ou outro genocídio e, em respeito à soberania dos demais países, evitar interferências em problemas internos?
E Honduras?, deixaram de espantar-se os jornalistas que testemunharam a frase que resume exemplarmente a diplomacia do cinismo. Negócios são negócios, e vão muito além de cifras, balanças comerciais ou acordos econômicos. O governo que usa o Itamaraty para posar de esquerdista é também um negociante político-ideológico. Faz qualquer negócio para ajudar companheiros ou prejudicar o imperialismo ianque e seus lacaios.

O venezuelano Hugo Chávez e o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, por exemplo, são bons companheiros. São inimigos o colombiano Alvaro Uribe e qualquer presidente hondurenho que não se chame Manuel Zelaya. “Para defender a democracia, o governo americano tem o dever de aplicar sançõees econômicas a Honduras”, reiterou o chanceler enquanto Zelaya gerenciava a embaixada reduzida a pensão. “Se as sanções econômicas ao Irã se tornarem mais apertadas, quem sofrerá serão os setores mais frágeis da sociedade”, continua a contradizer-se sem ficar ruborizado.
Amorim defendeu desde o primeiro minuto no emprego a volta de Cuba (que não sabe o que é uma urna desde os anos 50) à Organização dos Estados americanos. Mas não admite a readmissão de Honduras, porque as eleições que levaram ao poder o candidato oposicionista Porfirio Lobo “foram realizadas pelo governo golpista”. O companheiro Fernando Lugo pode contar com a ajuda do Brasil na guerra contra a guerrilha paraguaia. Os companheiros das FARC podem contar com a omissão do Brasil na guerra contra o governo constitucional colombiano.

O legado da diplomacia do cinismo não poderá ser integralmente debitado na conta de Amorim. Ela faz o que Marco Aurélio Garcia e o PT acham certo ? e Lula manda fazer. Mas Garcia é uma velharia perdida nos escombros do Muro de Berlim, e Lula é o resultado previsível do cruzamento da soberba com a ignorância. Amorim é outra coisa. É diplomata de carreira. Foi ministro das Relações Exteriores do presidente Itamar Franco. Conheceu o Itamaraty de outros tempos. Sabe que não deveria fazer o que faz. Faz por excesso de vassalagem e falta de vergonha.
“Você me despreza, não?”, pergunta o trapaceiro interpretado por Peter Lorre, num dos grandes momentos do filme Casablanca, ao protagonista eternizado por Humphrey Bogart. “Desprezaria, se pensasse em você”, responde Rick Blaine. Ugarte é uma figura exemplarmente desprezível, sublinha a expressão entediada de Bogart. Tão desprezível que nem vale a pena ocupar-se dele.

É provável que Celso Amorim escape de ser desprezado pelo Brasil do futuro por ser só mais um Ugarte. Não vai merecer sequer um asterisco em livros de História. Merece o desprezo eterno, mas o país que sobreviverá à Era Lula não terá tempo para lembrar-se de gente assim. Augusto Nunes - Veja Online

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Augusto, expressa de uma maneira clara, a nojenta diplomacia brasileira da Era Lula.