Por Fernando Exman - O GLOBO
CURITIBA (Reuters) - Sem a companhia do senador paranaense Alvaro Dias (PSBD), que chegou a ser indicado como seu vice, o candidato tucano à Presidência da República, José Serra, iniciou oficialmente a campanha eleitoral nesta terça-feira elevando o tom das críticas à adversária e com promessas na área social.
Sem citar diretamente sua oponente, disse que mantém o mesmo discurso para todo o tipo de público e que não precisa de "cola" de assessores para conceder entrevistas.
"Não sou ventríloquo de marqueteiro nem de partido, nem de comitês, nem de frações, nem de todas aquelas organizações antigas de natureza bolchevique, que do bolchevismo só ficaram com a curtição pelo poder porque utopia não ficou nenhuma", disparou Serra em discurso a uma plateia de militantes tucanos em um clube de Curitiba.
Escoltado pelo ex-prefeito Beto Richa (PSDB) e candidato a governador do Paraná, Serra afirmou que não é o tipo de pessoa que nega o passado e muda o nome de programas, substituindo realizações por marketing.
"Não somos donos, mas somos portadores da verdade", acrescentou.
Serra participava de evento sobre assistência social, e lembrou que os governos tucanos implementaram diversas iniciativas na área. Ele recebeu uma carta dos organizadores do evento com propostas para o setor.
O tucano defendeu a ampliação do Bolsa Família, a criação de um sistema único de assistência social e medidas voltadas para a erradicação da pobreza.
"Todo mundo que tiver Bolsa Família vai ter chance de botar seu filho para aprender uma profissão", afirmou, citando ideias para aumentar a oferta de ensino técnico.
Serra reafirmou que o Bolsa Família uniu os diversos programas sociais iniciados pelo governo Fernando Henrique Cardoso, defendendo o desaparelhamento político e partidário dos órgãos que executam as políticas para esta área.
"Ela (assistência social) foi recentralizada. Não é juízo de valor, mas a centralização é ineficiente", comentou. "Sem eles (programas sociais da era FHC) não haveria Bolsa Família... As coisas vão evoluindo".
Em outro compromisso, utilizando-se de sua experiência como ministro da Saúde, prometeu voltar a realizar mutirões na área para reduzir as filas. Propôs a construção de 150 ambulatórios e laboratórios para realização de exames e consultas em diversas especialidades e disse que vai implementar um programa de atenção a mulheres grávidas.
Prometeu ainda reforçar o Sistema Único de Saúde (SUS) e as parcerias entre o governo e entidades filantrópicas da sociedade civil. "Vamos reacelerar o sistema."
As propostas se assemelham a iniciativas que implantou como governador em São Paulo e às de Curitiba, implantadas por Beto Richa (PSDB).
Indagado se seu pontapé inicial da campanha foi dado no Paraná para tentar minimizar o impacto negativo da substituição de Alvaro Dias pelo deputado Indio da Costa (DEM-RJ) para a vaga de vice, o candidato afirmou que não tinha "nada a ver".
Afirmou que Alvaro Dias tirou um período de descanso após o episódio e que ele continuará sendo importante nas urnas e na tribuna do Congresso.
Na região Sul, Serra goza de 50 por cento de intenção de votos, enquanto Dilma, que iniciou nesta terça-feira sua campanha em Porto Alegre (RS), tem 32 por cento, pelo Datafolha.
Ele deu preferência nesse primeiro dia de campanha ao contato com a população. Em uma caminhada, no centro de Curitiba, entrou em lojas e restaurantes, segurou uma criança no colo e cumprimentou potenciais eleitores. Em dado momento, parou no meio de um calçadão e discursou com um megafone.
Durante sua fala, dois homens, no alto de um prédio, gritaram o nome de Dilma Rousseff, causando constrangimento. No entanto, rapidamente a claque que acompanhava Serra começou a bradar o nome do tucano.
UMA CARA, DUAS CARAS
Mais cedo, após realizar caminhada pelo centro da capital paranaense, o tucano criticou a ausência de Dilma em debates.
"Parece que a candidata Dilma não sabe por que quer ser presidente", afirmou Serra a jornalistas após realizar caminhada pelo centro da capital paranaense.
Dilma não participou de eventos conjuntos com outros candidatos, como na semana passada na Confederação Nacional de Agricultura. Optou por ficar de fora também da edição de domingo do jornal O Globo que perguntava "Por que quero ser presidente do Brasil". Serra e Marina Silva (PV) participaram.
O candidato do PSDB também criticou a campanha da adversária por ter enviado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um programa de governo com ideias radicais e depois tê-lo substituído por outra versão. "Temos uma cara: a minha cara", comparou.
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