Mate a Constituição e fique impune; só não mate um tatu!

Por Reinaldo Azevedo - Veja Online

Como se dizia no tempo jurássico, em que não era comum um partido organizar uma polícia política num fundo de pensão, “parem as máquinas!” A Procuradoria da República, no Rio, afirmou que vai analisar as denúncias de Gerardo Santiago, que confessou em entrevista à VEJA ter participado de uma equipe na Previ encarregada de fazer dossiês contra adversários do PT e do governo Lula.

Segundo a Procuradoria, as declarações de Gerardo serão analisadas por uma equipe e, se houver indício de prejuízo ao patrimônio da Previ, será aberto um procedimento para apurar o caso.

Ah, é? Então podem parar com isso desde já; dispensa-se a mímica da investigação. Até eu sei que, dificilmente, se provaria “prejuízo ao patrimônio da Previ”. É bem capaz de alguém concluir que, ao contrário, o grupo atuou “em defesa” desse patrimônio, né?, contra os “perigosos neoliberais”.

A questão não é de “prejuízo”, mas de desvio de finalidade e de agressão a direitos constitucionalmente garantidos. Terei eu de lembrar quais são as funções da Procuradoria Geral da República, detalhadas em seu site?

Trata-se de mera reação protocolar, muito abaixo da gravidade do caso. O patrimônio da Previ pode ter seguido intocado. O bem que está sendo agredido, senhores procuradores, é outro: chama-se “Constituição da República Federativa do Brasil”. Será isso muito pouco para mover os valentes? Se eu confessar que matei um tatu para comer, o Ministério Público abre imediantametne um procedimento. Matar a Constituição, tudo bem - se isso não causar prejuízo financeiro, claro… A gente pode fixar sem a Constituição, desde que não nos falte o tatu, o Jeca Tatu.

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